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terça-feira, 20 de outubro de 2020

A VERDADE SEQUESTRADA


Em tempos pós modernos e pós construtivistas, tempo em que a linguagem arbitrária de grupos tornam-se o sinônimo de uma verdade encomendada por vontades que se julgam soberanamente criadoras de uma nova ordem mundial, na qual é proibido fumar tabaco mas é desejável pitar uma nóia.

Em tempos na qual a programação mental é projetada para tornar a consciência humana anestesiada por um permanente clima de dissonância cognitiva por meio de infinitos estímulos contraditórios pavlovianos.
Em tempos que a Justiça foi transformada primeiro numa ideia, para depois a ideia ser criticada conforme os princípios bárbaros da pós-verdade, para assim ser possível afirmar-se que a verdade é aquilo que a voz portadora de autoridade afirme ser ou não ser.
Em tais tempos a tolerância passa a ser tolerar somente o que é permitido, o direito passa a ser o direito do mais forte, a justiça um simulacro da mentira, e a verdade uma ideia fora de moda que não está prevista na constituição nem no código civil, e, por isso mesmo, algo a ser checado quando uma pessoa qualquer expressa uma opinião.
A comissão da verdade que se consumou em tempo da presidenta, hoje se acerca na forma de comissões que avaliam a verdade de cada opinião nas redes, as inúmeras comissões das verdades que assolam o cidadão comum, checadores de fatos num mundo em que os mesmos checadores afirmam que não existe mais fatos consideráveis verdadeiros, ou pelo menos, que não sejam os fatos que lhes interessam ser considerados verdadeiros.
Nos tempos da pós-verdade a verdade é uma propriedade privada dos donos do poder.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

O POLITICAMENTE CORRETO É A LIBERDADE SOCIALIZADA

Não há inferno. Bosch, parte do Jardim das Delícias

A verdade não é um artigo que se possua como um objeto material, é algo que se revela na forma de uma realidade, cujo conhecimento demonstra algo objetivo, é um obstáculo, é um pedra de tropeço, é um escândalo, e, por mais que o subjetivismo individualista, ou socialista, se rebele perante tal concretude, perdura a verdade como algo luminoso que se evidencia de forma penetrante aos olhos do corpo, do intelecto e do espírito, afinal, a verdade é algo politicamente incorreto, dado que a política é o reino da mentira.

Quando alguém acredita que a verdade é subjetiva, e, portanto, relativa a cada pessoa, acaba por considerar que a verdade é algo que se inventa livremente, ou seja, julga-se que qualquer mentira pode ser considerada uma verdade com fundamento unicamente na vontade individual, daí, quando uma mentira é encampada por um grupo de indivíduos cria-se o argumento de que a mentira... digo, a "verdade" desse grupo deverá ser imposta por ser uma "verdade" considerada necessária pela vontade política de um grupo, assim temos a mentira coletivizada erigida ao estado de "verdade politicamente correta", realmente, na alma liberal se esconde o monstro socialista.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

ALGUMAS PALAVRAS SOBRE A IDEOLOGIA DO LIBERALISMO

O Jardim das Delícias, de Bosch

A visão da vítima da alienação ideológica continua percebendo a realidade, só que essa percepção fica distorcida com base em preconceitos e idealizações, assim sendo, um socialista acreditará que tudo é criado com base na economia, o libertário defenderá a vontade e o desejo sem limites, o reacionário defenderá um passado anacrônico e já morto e enterrado, e até um suposto "isentão" demonstrará um ceticismo invencível, para justificar sua neutralidade. Por mais que tudo ao redor indique outros caminhos e outras possibilidades de ação, mesmo assim, os alienados ideológicos permanecem presos aos seus padrões fixos de pensamento, uma vez que a ideologia funciona como um depósito de fé e de dogmas, são alienados aqueles que perderam a imaginação alimentada pelo real, e com isso a liberdade de ação, pois substituíram a realidade concreta por meras idéias abstratas, arbitrárias ou parciais, que julgam ser sistemas explicativos sobre toda a realidade, são incapazes de considerar o imponderável e o mistério que habitam entre nós.

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O problema do liberalismo, quando encarado como uma ideologia, está na visão parcial que adota um cunho materialista, hedonista e imediatista, na qual o orgulho individual é elevado ao patamar da divindade, a terminologia assume um caráter místico que em termos econômicos se manifesta com expressões como a "mão invisível", que é tal qual a "coisa em si" kantiana, ambos são meros torneios de linguagem que escamoteiam o medo visceral de tudo aquilo de transcende ao vocabulário padrão do grupo, é sem tirar nem por o mesmo fenômeno que ocorre nos demais coletivos ideológicos

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Não existe mundo dos negócios sem aquela confiança mútua fundada em valores éticos tradicionais como a honestidade, afinal a mentira é um pecado

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O Mercantilismo e demais formas de intervenção do Estado na economia são dignidades atribuíveis à Idade Moderna

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A Idade Média Católica Apostólica Romana criou todo o Direito Comercial e todo o Sistema Financeiro atuais, e nem precisaram ser libertários

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"Liberdade", "Estado" e "indivíduo" são meras ferramentas conceituais, cujas existências são coetâneas e fazem parte de uma unidade que chamamos de realidade, portanto, não podem ser tratadas como melhores ou piores que as pessoas que as operam

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É possível afirmar-se que cada pessoa ao possuir uma alma imortal está submetida somente à Divina Providência, e qualquer tentativa de controlar o destino sagrado de cada alma é uma violação da liberdade do próprio Ser, cujos caminhos são potencialmente infinitos, como infinitas são suas criações, por mais que hajam condicionantes transcendentais (sociais, físicas e biológicas) que limitam a existência de cada pessoa, eventualmente, tais limitações podem ser superadas por meio da inteligência que herdamos de nossa paternidade divinal e transcendente.

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O liberalismo não é moral no sentido cristão, pois se prende ao conceito de felicidade, cuja manifestação material é o prazer, é mais uma escola epicurista

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Liberalismo é somente uma das vertentes secundárias da filosofia moderna de corte cético e materialista originada em Cartesius

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O liberal ao defender a pura e simples soberania do indivíduo acaba por fomentar a possibilidade da defesa socialista da soberania totalitária do super-individuo denominado Estado, uma vez que a liberdade de agir de ambos não encontra limites que os transcendem

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Liberalismo é a ideologia de subverteu a palavra "liberdade" da mesma forma que o socialismo destruiu a palavra "justiça"

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O liberalismo quando adotado na forma de ideologia implica na relativização dos valores, não sou contra a liberdade econômica, mas tal liberdade não necessita de uma ideologia para existir

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Se Cristo fosse liberal Ele não açoitaria os cambistas do Templo

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O problema não é a defesa da liberdade, o problema é a proposição do bruto materialismo como se fosse o fundamento da liberdade

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Liberalismo é a religião do materialismo com apelos ao humanismo

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Liberal sonha em se libertar de limites morais tradicionais, pois julga ser infinitamente livre

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O socialismo é a fase superior do liberalismo, são etapas do materialismo cético nominalista moderno

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O comércio floresceu durante séculos com base em valores tradicionais católicos, a letra de câmbio, a contabilidade de partida dobrada, etc, tudo foi criado antes dessa lenga lenga ideológica e libertina

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O liberalismo econômico necessita de uma rigorosa ética religiosa para ser eficaz

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O socialista é o liberal mais egoísta, pois pretende o monopólio estatal da liberdade

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Liberalismo é bom nos olhos dos outros, liberal quer é ser poderoso com discurso humanitário

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Quem idealiza uma liberdade absoluta no fundo cobiça o poder absoluto

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Liberdade é a forma com a qual uma pessoa exercita o próprio poder

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O poder de agir sem determinados impedimentos, o poder de impor e/ou satisfazer suas vontades e desejos, em suma, liberdade é o exercício de um determinado poder

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Idéias de qualquer natureza são rastreáveis até Aristóteles, Platão, Sócrates, Homero, etc, o problema é quando o ideário passa a ser tratado como algo sagrado e autônomo, daí que não me importo nem um pouco com qualquer "ismo" quando se trata de filosofia, não há problema nenhum em reconhecer verdades, pois elas são objetivas e absolutas, o problema é se apegar a este ou àquele determinado pensamento de forma partidária, e, por falar em Aristóteles, ele defendeu uma ética fundada na razão e na virtude que muito mais se ajusta ao sacrifício do próprio ego exigido no cristianismo que ao bobo egoísmo do individualismo contratualista que faz emergir o estatismo mais feroz

Werner Nabiça Coêlho

sábado, 28 de outubro de 2017

O LIBERAL É UM RADICAL REVOLUCIONÁRIO EM SUAS ORIGENS!

Cabeça mumificada de Jeremias Bentham


O liberalismo é essencialmente uma ideologia revolucionária [01], que se propõe impor um projeto que desconsidera o legado da experiência passada, é uma das formas de aplicar a teoria de que o ser humano é uma folha em branco, que pode ser reescrita livremente.

Em relação ao liberalismo americano pode-se constatar que se trata de uma versão de pensamento ideológico com um forte viés esquerdista e politicamente correto quando aplicado aos valores sociais, muito embora pregue a liberdade econômica em sua forma de teoria libertária, é somente mais um tipo de movimento defensor do ceticismo materialista nominalista perseguidor do cristianismo.

O liberal é o pai natural e necessário do socialista.

Em certa medida a idéia de liberdade é um fruto derivado de um estado de espírito que se mede pela ambição que a pessoa tem por autonomia perante alguma autoridade, somos livres para nos submetermos ou para nos rebelarmos perante esta ou aquela pessoa, mas no fim somos limitados em algum nível de poder, principalmente, pelo poder da morte

Conservar as verdades descobertas e consagradas pelos milênios da experiência humana, isso é conservadorismo, liberalismo é o exato oposto de tal conduta.

Filosoficamente o liberalismo foi o primeiro discurso radical revolucionário que perdurou até meados do século XIX como a ponta de lança ideológica das revoluções, o socialismo /comunismo tirou o cetro dos liberais políticos /morais. Mas liberalismo sempre esteve associado a pautas relativizantes e mesmo anticlericais.

A questão da origem histórica do liberalismo está em sua luta contra a monarquia absolutista e os privilégios da nobreza, ocorre que os ingleses conseguiram estabelecer uma monarquia constitucional com princípios liberais após cortar uma cabeça real em 1689, cem anos depois os franceses foram até as últimas consequências do liberalismo iluminista e deram o pontapé inicial para nossa era de revoluções ideológicas.

A proposta liberal é uma tentativa de criar princípios sobre todos os aspectos da humanidade em bases exclusivamente racionais e materialistas, com especial foco na busca pelo prazer [02] na medida em que isto seria o símbolo da felicidade humana.

O nó górdio do liberalismo é o conceito de liberdade, considerado como a liberdade de satisfazer os próprios desejos [03], que em essência só pode existir como conceito relacional de caráter ético e carregado de valores subjetivos [04], só se é livre em relação a um outro ser, seja físico ou metafísico, daí a bagunça que é criada entre a ideologia da liberdade e a percepção de que há necessidades que a restringem constantemente, seja a lei, seja o Estado, seja Deus, ou mesmo a morte.

De minha parte creio que a única liberdade autêntica é a do espírito, quanto ao resto somos condicionados de tantas formas que a margem de liberdade é quase infinitesimal.

Todo aquele que luta para preservar a verdade inerente à realidade do bem, que perpassa as instituições humanas que refletem as verdades eternas que alimentam as virtudes familiares, viris e feminis, definitivamente, deverá ser cauteloso ao entrar em contato com a ideologia hedonista que se propõe a liberdade absoluta que desemboca nas profundezas tenebrosas do darwinismo [05] ou do marxismo [06].

NOTAS

01 - "Bentham e sua escola derivaram sua filosofia, em todos os seus traços principais, de Locke, Hartley e Helvécio; sua importância não é tanto filosófica como política, como chefes do radicalismo britânico e como homens que, sem intenção de o fazer, prepararam o caminho para as doutrinas socialistas" (Bertrand Russel, in História da Filosofia Ocidental, 3º Tomo, Companhia Editora Nacional, 1957, p. 339)

02 - "James Mill, como Bentham, considerava o prazer o único bem e a dor o único mal." (Bertrand Russel, in História da Filosofia Ocidental, 3º Tomo, Companhia Editora Nacional, 1957, p. 343)

03 - "Há uma lacuna evidente no sistema de Bentham. Se cada homem procurar sempre seu próprio prazer, de que modo podemos estar seguros de que o legislador tenha sempre em vista o prazer da humanidade em geral?" (Bertrand Russel, in História da Filosofia Ocidental, 3º Tomo, Companhia Editora Nacional, 1957, p. 344)

04 - "John Stuart Mill, em seu Utilitarismo, apresenta um argumento tão sofístico que é difícil de se compreender como é que pôde tê-lo julgado válido. Diz êle: o prazer é a única coisa que se deseja; por conseguinte, o prazer é a única coisa desejável. Argumenta que as únicas coisas visíveis são as coisas vistas, as únicas audíveis, as ouvidas, e que, de modo idêntico, as únicas coisas desejáveis sãos as desejadas. Não percebe que uma coisa é "visível" se puder ser vista, mas "desejável" se deve ser desejada. Assim, "desejável" é uma palavra que pressupõe uma teoria ética; não podemos inferir o que é desejável pelo que é desejado." (Bertrand Russel, in História da Filosofia Ocidental, 3º Tomo, Companhia Editora Nacional, 1957, p. 343)

05 - "Os radicais filosóficos [liberais] constituíram uma escola de transição. Seu sistema deu origem a outros dois, mais importantes que êle: o darwinismo e o socialismo. O darwinismo foi uma aplicação, a tôda a vida animal e vegetal, da teoria da população de Malthus, que era parte integral da política e da economia dos benthamistas - uma livre concorrência global, em que a vitória recaia sôbre os animais que mais se pareciam com os capitalistas bem sucedidos. O próprio Darwin foi influenciado por Malthus, e sentia simpatia, em geral pelos radicais filosóficos" (Bertrand Russel, in História da Filosofia Ocidental, 3º Tomo, Companhia Editora Nacional, 1957, p. 347)

06 - "O socialismo, pelo contrário, começou no apogeu do benthamismo, e como consequência direta da economia ortodoxa. Ricardo, que estava intimamente associado a Bentham, Malthus e James Mill, ensinava que o valor da troca de um produto é devido inteiramente ao trabalho despendido em realizá-lo. Publicou sua teoria em 1817, sendo que oito anos mais tarde, Thomas Hodgskin, ex-oficial naval, publicou sua primeira réplica socialista, O Trabalho Defendido Contra as Pretensões do Capital. Argumentava que se, como Ricardo ensinava, todo valor é conferido pelo trabalho, então tôda a recompensa deve ser para o trabalho; a parte obtida então pelo proprietário rural e pelo capitalista tinha de ser mera extorsão. Entrementes, Robert Owen, depois de muita experiência prática como fabricante, convencera-se da verdade da doutrina que logo passou a ser chamada de socialismo. (O primeiro emprêgo da palavra "socialista" teve lugar em 1827, quando é aplicada aos adeptos de Owen). As máquinas, disse êle, estão substituindo o trabalho, o laissez-faire não dera às classes trabalhadoras meios adequados para combater o poder das máquinas. O método por êle proposto para combater o mal é a forma mais antiga de socialismo moderno." (Bertrand Russel, in História da Filosofia Ocidental, 3º Tomo, Companhia Editora Nacional, 1957, p. 347-8)

Werner Nabiça Coêlho



domingo, 20 de agosto de 2017

QUALQUER IDEOLOGIA É UMA RELIGIÃO SACRIFICADORA



O pensamento orientado pelos ícones da modenidade (direita x esquerda, liberal x conservador, facismo x nazismo, etc.), em linhas gerais, é uma forma de renascimento das religiões arcaicas que sacrificam vítimas inocentes para deuses infernais.

A violência na religião pagã é a ferramenta religiosa fundamental, pois o rito arcaico é originado no assassinato fundador.

Após o nascimento de Cristo, e sua Paixão, os mitos antigos foram revelados como mentiras da religião da violência, a antiga mentira pagã foi exposta, o contrato com o diabo não poderia mais surtir efeito, pois para a religião antiga a vítima era o preço que deveria ser quitado ao deus sedento de sangue em troca do efeito desejado de paz social.

Cristo demonstrou com sua história e seu sofrimento que o mito mente ao julgar a vítima culpada e merecedora do castigo da morte, a Paixão de Cristo é o símbolo da injustiça inerente à religião e à sociedade dos sacrificadores.

Do início ao fim da Paixão de Cristo se comprova que a culpa é dos sacrificadores, todos eles, que se beneficiam do sangue derramado, nunca mais poderão considerar-se limpos, em todas as épocas e para todo o sempre.

O sangue vertido na maior história que já aconteceu dessacralizou o sangue de todos os bodes expiatórios.

A cristandade é fruto dessa revelação que há uma inutilidade no sacrifício do bode expiatório, enquanto que a eucaristia é o sacrifício incruento instituído para que inocentes não sejam mais objeto de ódio.

Desde o Renascimento, passando pelo Iluminismo, e chegando aos nossos dias, a revalorização da Idade Clássica e seus erros favoreceu a criação de novos cultos aos deuses antigos da violência, que foram novamente entronizados por meio da criação de ideologias.

O pensamento ideológico é uma forma de religião sacrificadora, na qual um inimigo é eleito como o culpado e merecedor da morte violenta para purificar o cosmos, em certo sentido essa é a religião originada das diversas ideologias de nosso tempo, marxista, fascista ou nazista, também, é religião liberal, ou simplesmente relativista, pois nestas visões infernais algo deve ser sacrificado no altar da fé ideológica, e, regularmente, são eleitos os cordeiros cristãos.

Werner Nabiça Coêlho - 20/08/2017

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

SÓCRATES É ATUAL


Sócrates inventou a Filosofia Ética, Moral e Jurídica num tempo em que não havia separação entre Governo e Religião, o Estado, o Povo e os deuses eram uma unidade.

Sócrates, com sua dialética, ironizou instituições sociais, jurídicas e religiosas, e, assim, escandalizou o povo de Atenas, mas ele não se opunha à ordem social, somente a questionava, e por sua liberdade de expressão foi condenado à morte.

O Mundo Antigo era "Politicamente Correto" na defesa das instituições consideradas sagradas pela sociedade, num tempo em que não existia "Estado Laico".

terça-feira, 25 de julho de 2017

A ALIENAÇÃO É A RAZÃO EXASPERADA NO POLITICAMENTE CORRETO


A “deusa razão”, representada por uma prostituta, sendo carregada pelas ruas de Paris



Voegelin, Girard e Ortega y Gasset demonstram a necessidade de se reconquistar o significado ontológico dos símbolos.

Eric Voegelin identificou a gênese do conceito de alienação (allotiosis) na filosofia estóica, e a definiu como "um estado de retirada do próprio eu [...] um recuo da razão na existência" (2007, P. 118), fenômeno que causa em sua vítima uma profunda perda de sentido na existência humana, todavia, mesmo quando a função racional perde seu sentido superior, de buscar o sentido da vida humana no interior da realidade, a racionalidade permanece como uma ferramenta de justificação do próprio estado de alienação, mediante a racionalização da própria alienação.

O estado de alienação é, portanto, o império da violência sobre a razão, que legitima a vingança interminável, típico de crises miméticas, e, conforme a chave explicativa da teoria mimética há no ser humano uma tendência de racionalização dos motivos irracionais desencadeadores da sucessão de retaliações típicos da vingança, em que a violência desenfreada retroalimenta-se mediante o uso da lógica da reciprocidade, uma justificação sem fim até ao ponto da virtual autodestruição do corpo social na indiferenciação da violência, cuja solução de continuidade, eventualmente, é alcançada com o sacrifício de um para salvar a todos, o bode expiatório, o que nas sociedades arcaicas significou a criação do primeiro símbolo diferenciador, ao mesmo tempo nefasto e sagrado, pois a vítima representava ao mesmo tempo o bem que encerra o conflito e o mal que o iniciou, o sagrado e a violência.

René Girard, de forma análoga a Voegelin, descreve a necessidade de uma "teoria genética" que remeta à estrutura do real, na qual a linguagem simbolizada pelo rito sacrificial é uma metáfora da violência humana, que se não for ordenada e sacralizada implicará na libertação dos demônios da vingança sem medidas, o rito torna-se o símbolo da violência domesticada pela linguagem metafórica dos símbolos, e por isso adverte que:

[...] a teoria vitimária não confunde grosseiramente a perseguição espontânea com os sacrifícios rituais, mas permite que se descubra uma relação ao mesmo tempo metafórica e real entre a perseguição espontânea e todos os sacrifícios. A relação é metafórica, pelo de que todo gesto ritual consiste numa substituição da vítima, e real, pelo fato de que a vítima substituída também é imolada, mais do que nunca bode expiatório. (2009, p. 121)

A alienação que racionaliza a violência faz surgir o procedimento político da ação direta, que é descrita por Ortega y Gasset como a forma típica de atuação do homem-massa.

Ação direta é o outro nome de racionalização dos meios violentos para obtenção de resultados políticos e sociais, o que torna a linguagem uma arma de guerra social, e, assim, surge a necessidade de policiamento da própria fala e padronização de seu uso e "porte" como ocorre no fenômeno do "politicamente correto", em que a verdade é sacrificada no altar da opinião predominante.

Ortega y Gasset descreve a alienação do homem-massa ao descrever sua falta de percepção da realidade, uma vez que "o homem vulgar, ao se encontrar com este mundo técnica e socialmente tão perfeito, pensa que foi criado pela Natureza, e nunca se lembra dos esforços geniais de indivíduos excepcionais que a sua criação pressupõe" (1987, p. 76).

Cria-se, assim, um perfil humano mimado e irresponsável [1] que de forma violenta "não quer dar razão nem quer ter razão, mas que, simplesmente, mostra-se decidido a impor suas opiniões" (1987, 89), que "renuncia à convivência de cultura, que é uma convivência regida por normas, e se retrocede a uma convivência bárbara".

O homem-massa é tipo humano alienado da realidade e portador de um "hermetismo da alma, que [...] empurra a massa para que intervenha em toda a vida pública, também a leva, inexoravelmente, a um procedimento único: a ação direta" (idem, p. 90). Ortega y Gasset ressalta que a violência implicada na ação direta é a "razão exasperada" (idem).

A alienação é a razão exasperada, e, tal como Voegelin descreve, é o abandono da compreensão da realidade como uma "tensão entre o humano e o divino", e, sistemas, como o de Hegel, são a "sistematização de um estado de alienação", uma vez que há a rejeição da "razão divina", por meio da "revolta egofânica", e de forma emblemática esclarece que: 

"Não é possível se revoltar contra Deus sem se revoltar contra a razão e vice versa" (2007, p. 118).

É da tensão entre o humano e o divino que emerge a ordem, que de forma eficaz conserva a experiência humana, com o grau de sentido necessário à sua perpetuação.

As idéias são um desenvolvimento conceitual secundário, pois segundo Voegelin "as idéias transformam os símbolos, que existem para expressar experiências, em conceitos" (2007, p. 121).

O símbolo é o ente originário da linguagem, cuja gênese analoga em forma de representação uma experiência, cujo sentido e significado é o produto da tensão do humano que se depara com as qualidades, cósmica (material) e divina (espiritual), da realidade. 

O símbolo é a substância da linguagem dos mitos, e das revelações religiosas, enquanto que a criação de hipóteses e teses explicativas é oriunda da interpretação do significado secundário dos símbolos, processo hermenêutico que promove o desenvolvimento de conceitos, que com o tempo acabam sendo encarados, os conceitos, como integrantes de uma realidade abstrata e apartada da própria realidade da experiência, como se a unidade do real pudesse ser partida ao meio com uso da linguagem, e, como se houvesse "uma outra realidade que não a realidade da experiência" (2007, p. 121).

A negação da realidade como experiência viva e concreta, e a mera percepção conceitual e abstrata, que julga a existência de conceitos e idéias, como algo com uma existência à parte, é o fruto da ação deformadora das idéias sobre a "verdade da experiência" e "sua simbolização" (2007, p. 121).

Voegelin definiu que devemos distinguir a "experiência compacta do cosmos" ou "experiência primária do cosmos" das "diferenciações" que levam "à verdade da existência no sentido dos clássicos gregos, dos profetas de Israel e do cristianismo primitivo" (2007, p. 122), e, para caracterizar a transição entre verdade compacta e a verdade diferenciada na história da consciência cunhou o termo "salto no ser".

A definição de experiência compacta no cosmos, como criação de símbolos primários, casa muito bem com a definição de crise mimética, no âmbito da teoria de René Girard, uma vez que é do processo da indiferenciação violenta no âmbito do mecanismo mimético, que se cria o bode expiatório, que, assim, cria o símbolo que interrompe a mimesis violenta, com a instituição do rito sacrificial, que é a repetição do assassinato fundador.

A teoria mimética descreve a gênese do bode expiatório como a gênese do símbolo diferenciador, que favorece a constituição da estabilidade social necessária para a instituição da própria linguagem, cujo símbolo fundador é o próprio bode expiatório.

Voegelin presume em sua teoria uma experiência primária, que cria símbolos cosmológicos e compactos, que estabelecem o lugar do homem na criação, sendo o bode expiatório, na perspectiva mimética, este símbolo, que, ao possibilitar a criação do rito ,permitiu a experiência que engendrou a gênese dos símbolos, que, posteriormente, criou o ambiente social em que a racionalização conceitual possibilitou o "salto no ser", por meio da constituição de símbolos diferenciadores na história da consciência. Voegelin adverte que a:

"transformação das experiências e simbolizações originais em doutrinas podia conduzir a uma deformação da existência, caso o contato com a realidade tal como experienciada fosse perdido e o uso dos símbolos de linguagem engendrados pelas experiências e simbolizações originais degenerasse em um jogo[...]" (2007, p. 123)

O princípio orientador para Voegelin é que "a realidade da experiência é autoevidente. Os homens valem-se de símbolos para expressar suas experiências, e os símbolos são a chave para compreender essas experiências" (2007, p. 124), uma vez que o que "é experienciado e simbolizado como realidade, e um processo de progressiva diferenciação, é a substância da história" (idem).

A alienação, portanto, é uma exasperação da razão, que promove o processo de descolamento das idéias do tecido da realidade, perdendo-se a manifestação da unidade com o real presente na linguagem dos símbolos, pois a linguagem ideológica destrói a diferenciação conquistada a duras penas pelas gerações anteriores, é o primitivismo criticado por Ortega y Gasset.

O império de idéias abstratas não mais busca fundamento na realidade da experiência, e em sua complexidade, é o imperialismo da abstração que julga a realidade de forma simplificadora, é a hipótese idealista, que, com a força do negativo, impõe-se contra a substância do real. A alienação é a negação da realidade autoevidente, é a negação do senso comum constituído por símbolos representativos da realidade, em sua profundidade histórica e diferenciada.

Para exemplificar o processo de alienação Voegelin refere a excelente formação filosófica de Marx, e que o mesmo "sabia que o problema da etiologia na existência humana era central para uma filosofia do homem e que, se quisesse destruir a humanidade do homem fazendo dele um "homem socialista", precisava repelir a todo o custo o problema etiológico. (2007, p. 84).

O problema etiológico é o problema da origem de tudo, é colocação da questão da causalidade, é a percepção de que tudo possui uma causa anterior, até que se chega à causa primeira, e, neste ponto Voegelin afirma que:

"o charlatanismo marxista reside na terminante recusa de dialogar com o argumento etiológico de Aristóteles, isto é, com o problema de que a existência do homem não provém dele mesmo, mas do plano divino da realidade" (2007, p. 84).

O diagnóstico da alienação feito por Voegelin em relação a Marx é certeiro ao afirmar que sua trapaça intelectual "pretendia sustentar uma ideologia que lhe permitisse apoiar a violência contra seres humanos afetando indignação moral" (2007, p. 83).

A alienação é um processo de justificação da violência por meio de idéias racionalizadoras, é a legitimação da criação de bodes expiatórios a serem sacrificados no altar da ideologia.

A alienação perante a realidade concreta, por meio da eleição de uma irrealidade de idéias, torna-se característico das ideologias e dos ideólogos que produzem a "destruição da linguagem, ora no nível do jargão intelectual de alto grau de complexidade, ora no nível vulgar" (2007, p. 82).

Voegelin define que é necessária a honestidade intelectual (Intellektuelle Rechtschaffenheit), compreendida como a "intenção honesta de examinar a estrutura da realidade" (2007, p. 79), para que seja possível restaurar a linguagem, e para combater a alienação ideológica que fundamenta a ação direta, que hoje é facilmente identificável no fenômeno do politicamente correto.

O problema etiológico é o problema fundamental a ser resgatado, como o centro de qualquer debate, pois a negação da causalidade implica na constituição, e, na defesa, de idéias céticas e abstracionistas, que tomam o conceito e o juízo abstrativos da concretude do real, como realidades independentes da experiência.

A alienação, por meio da exasperação da razão, que cria quimeras de irrealidade conceitual, é a negação violenta dos limites impostos pelo real, cujo problema etiológico é o ponto de partida fundamental.

Alienação é o fruto, psicológico e intelectual, do ideário que promete o impossível como algo factível, tal qual se dá no caso da ideologia do socialismo, que pretende recriar o cosmos sem dor, sofrimento e desigualdade, e, que, por fim, só é capaz de conceder a igualdade no sofrimento e na morte.

[1] Ortega y Gasset define que "Mimar é não limitar os desejos, dar a um ser a impressão de que tudo lhe é permitido, que não é obrigado a nada" (1987, p. 77)

Referências:

Ortega y Gasset, José. A rebelião das massas; tradução de Marylene Pinto Michael; revisão da tradução de Maria Estela Heider Cavalheiro - São Paulo: Martins Fontes, 1987.

Voegelin, Eric. Reflexões autobiográficas; introdução e edição de textos de Ellis Sandoz; tradução de Maria Inês de Carvalho; notas de Martins Vasques da Cunha - São Paulo: É Realizações, 2007.

Girard, René. A rota antiga dos homens perversos; tradução Tiago José Leme - São Paulo: Paulus, 2009.

sábado, 20 de maio de 2017

AFORISMOS: A ARTE DO DIREITO


DIREITO É UMA FERRAMENTA, NADA MAIS.

A natureza humana é composta de desejo e razão, aqueles dois cavalos, um obediente e o outro rebelde, descritos por Sócrates no Fedro, o direito é um conjunto de tradições, experiências, técnicas e hábitos que trabalham esta tensão entre a emoção quente, que tudo incinera, e a postura distante e racionalista, que tudo quer tratar com frieza e objetividade, nestes termos o direito é só mais uma das ferramentas que o engenho humano constituiu para garantir a sobrevivência.

O direito não é uma coisa separada do acontecer humano, é só um índice de medida do acontecer humano.

Ao fim e ao cabo o direito é o que os homens, justos ou injustos, fazem-no ser.

O direito como algo que produz resultados práticos (poiéticos) é operado pelo uso da força, com base num certo grau de legitimidade social, é como uma arma, pode ser usada para o bem ou para o mal.

O direito é uma arte prática que é instrumentalizada pelo detentor do poder social, seja um indivíduo seja um ditador, é uma simples ferramenta.

O direito é nada mais nada menos que uma manifestação da natureza humana segundo um foco comportamental e normativo.

DIREITO É PROGRAMAÇÃO.

O direito é na sociedade um tipo de atividade equivalente à arte do programador, ambos existem para gerir sistemas de dados, um binário e matemático e o outro ético e incomensurável.

DIREITO DOMADOR DA VIOLÊNCIA.

O direito é a arte de domar a violência que habita dentro e d'entre nós.

A violência é constitutiva do acontecer natural, a vida de uns é garantida pela morte de outros, a ordem natural é uma ordem mortífera.

Somos violentos, desejamos a violência, mas nos foi revelado que este é o caminho do erro, o esforço de seguir o caminho reto implica no sacrifício da própria violência, esta é a renúncia ao pecado, ao prazer da violência, à satisfação da vingança.

Por natureza somos violentos, adoradores potenciais de satanás, mas nosso espírito tem uma estranha tendência para a ordem, um dom capaz de captar o divino em meio ao caos, e com Cristo nos evadimos das trevas da vingança.

DIREITO E SALVAÇÃO.

Um bom meio de acabar com o fenômeno jurídico é a extinção da humanidade, outro é a salvação, mas daí não estaremos neste mundo.

O direito como arte que é, idealmente, deve gerar uma mimésis do comportamento justo.

Ser bom é uma decisão no sentido do bem, decisão que nega todas as demais possibilidades e tentações que se apresentam perante os desejos e sentimentos menos elevados da natureza carnal.

Posso afirmar que o bem é um potencial virtual não atual, cuja realidade é fruto de um processo laborioso, consciente e custoso.

Lei, mortalidade e livre arbítrio são alguns dos termos metafísicos que somos capazes de gerenciar no cotidiano jurídico.

DIREITO VERSUS ROUSSEAU.

Considerar o homem naturalmente bom é uma definição generosa, mas um tanto quanto rousseauniana, pois apregoa uma espécie de bom selvagem teleológico.

De minha parte sou um pessimista quanto à bondade natural do homem, creio que ele é pecador por natureza, e somente com um esforço muito grande e sujeito a muitas quedas é que ele se aperfeiçoa, essa é sua liberdade.

O dom que nos foi concedido, a liberdade, pode ser perdido pelo uso da própria liberdade, é a parábola dos talentos que melhor expressa isso.

DIREITO E SOBRENATURAL.

A tensão das contradições é a razão da vida da carne, do espírito e da alma, é o labor mesmo.

O positivismo farisaico é a versão primeva do satanismo politicamente correto, que subverte a virtude da justiça em tirania cega.

O direito positivo em sua forma de registro formal é somente mais uma ferramenta, da mesma forma que do ponto de vista somente do texto os evangelhos não são todo o ensinamento, mas um registro parcial da verdade revelada, assim é a lei escrita.

O positivismo quando encarado como ideologia é um direito preternatural, nem natural nem sobrenatural.

O conceito de direito natural... está aí um ponto discutível, podemos chamar de direito sobrenatural, por ser eterno, pois o nosso acesso aos princípios racionais é uma forma de presentificação da idéia que o espírito e o intelecto apreendem desde cima. 

Pode-se definir o direito natural no sentido de verdade revelada, percebida pelo intelecto humano, atributo este que participa da natureza divina que nos criou.

DIREITO, MISERICÓRDIA E VINGANÇA.

A vingança de Deus está reservada ao juízo final que encerra uma vida de escolhas que negam a salvação.

Papo de jurista: a lei precisa ser interpretada, as ferramentas conceituais que permitem a interpretação compõem a hermenêutica, com Cristo a misericórdia vem como a boa nova que introduz o elemento providencial do perdão como parte da técnica de julgamento, com Cristo o amor funda o juízo, não mais uma vingança à moda da lei de talião.

17.05.2017

Werner Nabiça Coêlho

domingo, 5 de fevereiro de 2017

SOBRE A EPIDEMIA MUNDIAL DE SUICÍDIOS ENTRE JOVENS


A Organização Mundial da Saúde (OMS) descobriu que o suicídio mata mais jovens que o vírus da SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), dada esta constatação há uma percepção generalizada de que o mundo é uma bosta, e que os que têm um pouco de massa cinzenta se matam.

Discordo de tal opinião, pois a depressão do suicida tem mais relação com a perda de sentido da vida, vazio este que resulta do materialismo e do consumismo como eixos de orientação da vida contemporânea.

A vida não é só a matéria segunda, é sobretudo uma derivação do elemento espiritual, pois perdeu-se a percepção de que o sobrenatural é inerente à realidade do natural.

A visão negativa e suicida é uma boa síntese do pecado original, e da necessidade de redenção, temperada com um pouco de hedonismo, cuja tentação, se acaso não for vencida, pode danar a alma, pois se não podemos afirmar que o inferno existe, também não podemos afirmar que ele não seja real.

Nem sempre o fracasso é uma culpa exclusiva do suicida, alguns fracassos são projetados, para que a vítima não consiga encontrar a solução para enigma de seu sofrimento, neste momento é que o estudo e a reflexão, aliados à busca do autoconhecimento, ajudam a superar essa artimanha diabólica da cultura pós-moderna, que criou o argumento politicamente correto, ao arrepio do argumento simplesmente verdadeiro e grávido de sentido.

O Apóstolo Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios, 14, 10-11, assim se refere quanto ao verdadeiro valor da linguagem

"No mundo existem não sei quantas espécies de linguagem, e não existe nada sem linguagem. Ora, se eu não conheço a força da linguagem, serei como estrangeiro para aquele que fala, e aquele que fala será um estrangeiro para mim"
 


A força da linguagem não está na polidez mas na eficácia, a linguagem é o princípio para a ação, boa linguagem implica em ações eficazes, e, uma das fontes da atual epidemia de suicidas está na criação de uma geração (des)educada no politicamente correto, que padece de força de expressão, e,  por isso, afunda-se na ineficácia do desespero da depressão.

Vivemos uma cultura fundada na mitologia da absoluta autonomia do ego, que resulta na autodestruição egocêntrica, e, na minha opinião descalça e nua, o remédio para esse mal está na busca da verdade religiosa e filosófica, preferencialmente ambas, mas cada uma destas buscas por si mesmas resultam nas únicas terapias eficazes, pois são meios de mirar corretamente no alvo do autoconhecimento que possibilita a autoconsciência, que por fim são os instrumentos para refinar a percepção objetiva do mundo e de sua beleza e bondade, com a reconquista da linguagem que possui a capacidade de comunicar verdades da vida, pois hoje a juventude é um estrangeiro em sua própria consciência.


Werner Nabiça Coêlho - 04.02.2017

sábado, 21 de janeiro de 2017

UM DESEMPREGADO É ALGUÉM QUE PROCURA ORDENS!



Felipe G. Martins traduziu (1) o discurso de posse de Donald Trump , e, entre tantas passagens memoráveis, destaco um momento na qual fica muito evidente o renascimento da linguagem objetiva que descreve verdades da vida, cujo sentido é fundador de uma ordem superadora da guerra e da crise:

"Tenham certeza de uma coisa: nós não iremos falhar; nosso país irá progredir e prosperar. Não mais aceitaremos políticos que só sabem falar e que jamais colocam a mão na massa. A era dos discursos vazios chegou ao fim. É chegada a era da ação! É chegada a era de quem se preocupa menos com discursos e mais com resultados! "

Toda a campanha presidencial de Donald Trump foi, em essência, um resgate do poder da linguagem como instrumento de intervenção na realidade, pois conforme a chave explicativa de Eugen Rosenstock-Huessy (1888-1973), para quem a "linguagem faz transpor o caos da natureza, as contendas entre mero indivíduos, sua falta de continuidade e liberdade" e "cria paz, ordem, continuidade e liberdade" (p. 73)
 
O que Donald Trump fez, e continuará a realizar, é refundar a linguagem sadia, objetiva, realista, comunicacional e formal, cuja função é (re)criar formas de convivência civilizada, cuja linguagem foi sistematicamente esvaziada de sentido pelo ataque da ideologia deformadora do "politicamente correto", ou seja, Trump é o agente responsável por dar as ordens verbalizadas que orientarão a ação material da sociedade americana, carente de ordens que transformam linguagem em ação, e ação em obras, pois boas ações e  boas obras necessitam de boa linguagem, afinal, como diria Eugen Rosenstock-Huessy:

"Um desempregado é alguém que procura ordens e não encontra ninguém que lhas dê. Por que as procura? Porque ordens cumpridas dão direitos. Se faço por conta própria uma imagem de barro, não posso exigir que me dêem dinheiro por isso. Mas, quando recebo ordens para fazer imagens de barro, estabeleço uma reinvindicação. As respostas às ordens dadas fundam direitos. Os milhões de desempregados dos anos 30 esperavam alguém que lhes dissesse o que fazer. Na guerra, dá-se exatamente a discrepância oposta. Nela não escutamos o inimigo. Na crise, não encontramos quem nos diga o que fazer. Na guerra, há muito pouca vontade de escutar; na crise, pouquíssimas pessoas querem dar ordens, falar fundadas no poder original da linguagem, no poder de direção." (p. 60)

Referência:

Eugen Rosenstock-Huessy (1888-1973) A origem da linguagem; edição e notas Olavo de Carvalho e Carlos Nougué: introdução, Harold M. Sathmer e Michael Gorman-Thelen: tradução Pedro Sette Câmara, Marcelo de Polli Bezerra, Márcia Xavier de Brito e Maria Inêz Panzoldo de Carvalho. - Rio de Janeiro: Record, 2002.


Werner Nabiça Coêlho - 21.01.2017

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

HEINLEIN'S THE MAN: ETICAMENTE RETARDADOS E POLITICAMENTE CORRETOS

[…] o homem que compra carne é irmão do açougueiro. O problema era melindroso, mas não moral... como o homem que é favorável à pena de morte mas que pessoalmente é “bom” demais para preparar o nó da corda ou brandir o machado. Como a pessoa que encara a guerra como inevitável, ou mesmo em certas circunstâncias como moral, mas evita o serviço militar por não gostar de matar.
Emocionalmente infantis, eticamente retardados – a mão esquerda tem de saber o que a direita faz e o coração é responsável por ambas. […] (p. 66)


[…] Comecei a sentir vagamente que o sigilo é a pedra de toque de toda tirania. Não a força, mas o sigilo... censura. Quando qualquer governo, ou qualquer igreja, toma para si a função de dizer a seus subordinados que “isto você não ler, isto não deve ser visto, isto você está proibido de saber”, o resultado final é a tirania e a opressão, por mais sagrados que sejam os motivos. Pouquíssima força é necessária para controlar um homem cuja mente já foi vendada; contrariamente, força alguma pode controlar um homem livre, um homem cuja mente é livre. Não, nem a tortura, nem o esquartejamento, nem nada; não se pode dobrar um homem livre, o máximo que se pode fazer é matá-lo. (p. 69)

HEINLEIN, Robert A. Revolta em 2100. tradução de Mávia Zettel. Livraria Francisco Alves Editora S.A.: Rio de Janeiro, 1977.