segunda-feira, 21 de agosto de 2017

LINGUAGENS NATURAIS E LINGUAGENS RACIONAIS


A teoria dos quatro discursos do Olavo de Carvalho descreve quatro níveis da linguagem, sendo que os dois primeiros níveis são naturais no sentido orgânico de desenvolvimento, e os dois últimos são intencionais, racionais, técnicas de apuração da veracidade dos níveis anteriores, e, mesmo, capazes de transcendê-los intelectualmente.

A linguagem poética é a linguagem da imaginação inicialmente mitológica, depois artística, em que o possível em seu infinito de formas é descrito pela imaginação humana em todo o seu potencial criativo para o absurdo e para sublime.

A poética também possui uma origem social e orgânica, sua existência advém da religião fundadora da cultura, sua existência é sustentada pela fala, é a tradição oral de todos os povos que aprendem a falar declamando seu temor ao deus venerado em seus ritos.

A retórica é um desenvolvimento crítico e individualizado da linguagem, é uma tomada de posição individual, é fruto do desenvolvimento social que culmina na política, na necessidade de escolhas entre possibilidades não mais imaginativas, mas que tenham um caráter de factibilidade, é o choque da idéia com a realidade e a necessidade de se adotar uma ação diante desta realidade.

A poética é natural ao desenvolvimento orgânico da sociedade em seu ponto de vista de coletividade, e a retórica é o desenvolvimento orgânico da opinião individual diante da necessidade de se adotar ações que não podem ser abrangidas somente pela imaginação poética, a retórica é a linguagem que orienta prática política e social quando a religião já não apresenta todas as soluções.

Quando a poética sofre questionamento há o nascimento da retórica, mas, a própria retórica gera uma nova discussão, e esta é filosófica, é o questionamento da verdade, o que implica na criação da dialética, e esta por sua vez ao conseguir conclusões e certezas remete para a linguagem da ciência, a lógica, uma linguagem que não trabalha com perguntas, mas que gerencia respostas, com base em certezas.

Logo, enquanto as linguagens poética e retórica surgem dentro de uma perspectiva orgânica para atender necessidades coletivas e individuais, a dialética e a lógica são conquistas de mentes focadas na busca da verdade, com a criação de metodologias apoiadas em princípios da razão e orientados pela vontade de revelar um nível de realidade superior àquela vislumbrada pela imaginação sem freios ou pela ambição social sem limites.

Werner Nabiça Coêlho - 21/08/2017

domingo, 20 de agosto de 2017

QUALQUER IDEOLOGIA É UMA RELIGIÃO SACRIFICADORA



O pensamento orientado pelos ícones da modenidade (direita x esquerda, liberal x conservador, facismo x nazismo, etc.), em linhas gerais, é uma forma de renascimento das religiões arcaicas que sacrificam vítimas inocentes para deuses infernais.

A violência na religião pagã é a ferramenta religiosa fundamental, pois o rito arcaico é originado no assassinato fundador.

Após o nascimento de Cristo, e sua Paixão, os mitos antigos foram revelados como mentiras da religião da violência, a antiga mentira pagã foi exposta, o contrato com o diabo não poderia mais surtir efeito, pois para a religião antiga a vítima era o preço que deveria ser quitado ao deus sedento de sangue em troca do efeito desejado de paz social.

Cristo demonstrou com sua história e seu sofrimento que o mito mente ao julgar a vítima culpada e merecedora do castigo da morte, a Paixão de Cristo é o símbolo da injustiça inerente à religião e à sociedade dos sacrificadores.

Do início ao fim da Paixão de Cristo se comprova que a culpa é dos sacrificadores, todos eles, que se beneficiam do sangue derramado, nunca mais poderão considerar-se limpos, em todas as épocas e para todo o sempre.

O sangue vertido na maior história que já aconteceu dessacralizou o sangue de todos os bodes expiatórios.

A cristandade é fruto dessa revelação que há uma inutilidade no sacrifício do bode expiatório, enquanto que a eucaristia é o sacrifício incruento instituído para que inocentes não sejam mais objeto de ódio.

Desde o Renascimento, passando pelo Iluminismo, e chegando aos nossos dias, a revalorização da Idade Clássica e seus erros favoreceu a criação de novos cultos aos deuses antigos da violência, que foram novamente entronizados por meio da criação de ideologias.

O pensamento ideológico é uma forma de religião sacrificadora, na qual um inimigo é eleito como o culpado e merecedor da morte violenta para purificar o cosmos, em certo sentido essa é a religião originada das diversas ideologias de nosso tempo, marxista, fascista ou nazista, também, é religião liberal, ou simplesmente relativista, pois nestas visões infernais algo deve ser sacrificado no altar da fé ideológica, e, regularmente, são eleitos os cordeiros cristãos.

Werner Nabiça Coêlho - 20/08/2017

O SÍMBOLO GERA O RITO E O MITO



O símbolo, até onde entendi com base em Eric Voegelin e René Girard, é a fonte primária da linguagem como participação em realidades fundamentais à existência humana.

A primeira realidade fundamental que tem que ser apreendida é a necessidade de autocontrole social da violência, e, nas origens da humanidade tal fato social se configura mediante a necessidade do respeito ao sagrado e à divindade, o princípio do respeito às hierarquias dentro da realidade humana e divina, para que haja uma ordem capaz de conter os riscos inerentes à eclosão da violência sem limites em um ciclo sem fim de destruição.

O mecanismo mimético, quando encontra sua solução pacificadora no bode expiatório, a vítima simboliza o significado divino daquele que é portador do malefício e do benefício, é o algoz e o benfeitor.

A violência social ao ser pacificada pela violência do sacrifício, esta capaz de ordenar o caos daquela, assume, assim, um significado diferenciador, torna-se um símbolo, em que morte da vítima possibilita a instituição de uma ordem sagrada porque foi eficaz, é um ato fundador.

A vítima concentra em si o bem e o mal inerentes à violência da comunidade, o rito é a religação à esta estrutura fundadora de significado, na forma de um conjunto de ações e reações, expressões, sons e memórias que nem precisam estar verbalizadas, basta que sejam reproduzíveis.

É o rito que, ao reproduzir continuamente o sacrifício (por séculos, por milênios), funciona como a primeira forma cultural, na qual o símbolo (rito) é um dado empírico e concreto, necessário para a manutenção da ordem sagrada que afasta o caos da violência sem freios e sem diferenciação, e este símbolo é representado no rito que conduz à vítima sacrificial.

Com o tempo, o rito se estrutura linguisticamente e favorece a criação da narrativa mítica, pois sua repetição permite a paz necessária para a sociedade desenvolver a língua e o vocabulário com base na estabilidade criada por meio do próprio rito.

A vítima se converte no deus e/ou no herói, neste sentido, o símbolo nem verbal é em sua origem, e quando se torna verbalizável, origina a linguagem poética na forma de narrativas sagradas, os mitos.

Werner Nabiça Coêlho - 20/08/2017

VIRIATO E A LUTA LUSITANA CONTRA ROMA, por Césare Cantú



Na Espanha ulterior, P. Cornélio Cipião, Póstumo e outros mais (195-179) subjugaram os lusitanos, os turdetanos e os vacianos (Portugal, Lião e Andaluzia), e os romanos puderam vangloriar-se de terem subjugado tôda a Península.

Porém um domínio de ferro não permitia que a paz ali durasse um longo tempo. Os romanos consideravam a Espanha como esta, séculos depois considerou a América, isto é, como um país de que se tratava de tirar a maior quantidade de ouro possível. O triunfo mais glorioso era o do general que trazia mais dêste metal em barras. Além disso, os procônsules mandados àquela província para lá conterem êsses leões encadeados, porém não domados, ali saciavam a sua própria avareza, exercendo o monopólio de cereais e causando a fome no país.

Os vencidos encontraram um vingador no lusitano Viriato. A guarda dos rebanhos e a caça tinham feito dêle um excelente chefe de bandos. Êle conhecia tôdas as passagens, a menor sebe, o fôsso mais ínfimo; um instante lhe bastava para reunir sua gente que também ràpidamente dispersava. Apenas acabava de se bater contra o inimigo no fundo de um vale, logo o viam provocá-lo por insulto no alto de alguma montanha. Auxiliado pelos povos da Espanha citerior e principalmente pelos numantinos, êle dirigiu as suas vistas para um ponto mais elevado do que poderia esperar dum chefe de guerrilhas e se decidiu a confederar os lusitanos com os celtíberos, único meio, para a Espanha, de poder fazer frente aos romanos.

Guiando os seus, de vitória em vitória, derrotou sucessivamente cinco pretores. Porém Metelo, o Macedônio, o mesmo que dizia: Se minha túnica soubesse o penso, queimá-la-ia, frase muitas vêzes repetida depois, se lhe opôs com êxito.  Tendo um dos principais cidadãos de Nertobriga, cercada então pelos romanos, saído da cidade para se lhes entregar, os sitiados, para dêle se vingarem, colocaram sôbre a muralha sua mulher e seus filhos, expondo-os aos tiros do inimigo; porém Metelo mandou suspender o ataque e renunciou a uma conquista certa. Êste ato de humanidade atraiu ao seu partido a Espanha terragonesa que se apressou a submeter-lhe. Porém, no meio dos seus triunfos, soube que era chamado a Roma e que lhe davam por sucessor Quinto Pompeu, homem obscuro e seu inimigo particular. Longe de ter a generosidade de sacrificar o seu ressentimento ao interêsse público, êle procurou desanimar o exército, deixando esgotar os armazéns, morrer os elefantes e até mandando quebrar os dardos. Contudo, existia ainda um corpo de exército temível se Pompeu não tivesse comprometido o estado das coisas pela sua temeridade; de tal modo qu Viriato conseguir cercar o procônsul Fábio Serviliano. Êle teria podido passar suas legiões a fio da espada; ofereceu-lhe, contudo, a paz com a única condição de que os romanos, guardando o resto da Espanha, o reconheceriam senhor do país sôbre o qual dominava. O senado confirmou o tratado e Viriato adquiriu assim o que desejava, um reino independente à custa da república romana.

Teria podido tornar-se o Rômulo da Espanha, porém, Servílio Cipião, cônsul sem consideração, solicitou de Roma a permissão de romper a paz; obteve-a e, vendo que não conseguia por meio dos pequenos insultos por êle postos em prática, impelir Viriato a uma ruptura, declarou-lhe abertamente a guerra, sem razão nem pretexto e devastou o país. Depois de diversas alternativas, Viriato viu-se obrigado a pedir a paz. Cipião, exigindo-lhe que entregasse os que tinham excitado certas cidades à revolta, êle se submeteu a essa infame condição, ainda que seu sogro fôsse do número dos exigidos, e sofreu que lhes cortassem a mão direita; porém, quando o cônsul, tornado mais audaz, exigiu que desarmasse as suas tropas, Viriato, retomando a sua cólera varonil, recomeçou as hostilidades. Contudo, como não desesperava de obter a paz, não cessava de enviar ao cônsul oficiais encarregados de se entenderem com êle. Cipião corrompeu alguns dêles que assassinaram o valente lusitano. Voltaram ao campo dos romanos para reclamarem sua recompensa; porém o cônsul lhes respondeu que os generais de Roma estavam pouco dispostos a recompensar os assassinos do seu próprio general, e que o mais que podia fazer era conceder-lhes as vidas. Pela sua vez o senado recusou as honras do triunfo ao infame Cipião.

Césare Cantu, História Universal, vol. 04, São Paulo: Editora das Américas, 1961, p. 435-8

sábado, 19 de agosto de 2017

UMA DISTINÇÃO ENTRE OS NÍVEIS DOS DISCURSOS


Uma breve distinção entre os níveis da linguagem na Teoria dos Quatro Discursos de Olavo de Carvalho.

O nível poético da linguagem é o mais concreto, no sentido de percepção direta da realidade em seu caráter simbólico.

O nível retórico é a introdução da subjetividade da doxa, onde alguém pretende que sua opinião prevaleça.

O nível dialético é o embate entre doxas divergentes, na busca de veracidade passível de demonstração racional.

Veja-se que o problema é que a veracidade racionalizadora está em potência desde o nível poético, ela é possível de muitas formas, quantas forem as possibilidades interpretativas, é o reino das possibilidades criativas.

No nível retórico há um fator político de imposição de idéias com base na verossimilhança do argumento.

Quando uma idéia passa pela depuração da disputa dialética, que se propõe eliminar incongruências e inconsistências do discurso, processam-se as descobertas das verdades que serão utilizadas pela lógica.

A lógica por sua vez é somente um nível da linguagem na qual já se está na posse de verdades científicas, e com base nessas conquistas alcançadas nas etapas anteriores.

Na linguagem lógica se estabelece um tipo de reducionismo, pois do reino do possível presente na poética passou-se para do verossímil, e deste para o verídico racional extraído da dialética, num processo constante de precisão da linguagem, o que diminui a abrangência do símbolo, tanto que a lógica é a fonte da matemática em seu processo silogístico.

Portanto, não pode o menos (a lógica) gerar o mais (o símbolo).

O símbolo é uma realidade ontológica e a linguagem é uma realidade epistemológica, sendo a lógica uma linguagem técnica e científica de verificação de validade silogística de certas realidades passíveis de tal avaliação em abstrato.

Werner Nabiça Coêlho - 19/08/2017

LINGUAGEM E GRAMÁTICA... QUEM VEIO PRIMEIRO?!



O problema da linguagem não se responde com a afirmação de uma precedência de estrutura lógica.

O discurso mais concreto e simbólico é o poético, e o menos cheio de elementos vitais é o lógico, entremeados pela retórica e dialética.

Não se pode pensar em lógica gramatical quando se está falando de origem da linguagem, pois é esta que é a fonte originária das normas gramaticais, não o contrário.

A lógica (e a gramática) é um momento muito posterior ao nascimento da linguagem.

A linguagem em sua origem é a música e a oração votadas ao ser divino, são frutos da percepção direta do sobrenatural que enforma a linguagem humana.

É o sagrado que dá razão às conquistas posteriores das estruturas gramaticais, mera criação de normas positivas com base em dados empíricos já instituídos pela tradição oral e escrita.

Werner Nabiça Coêlho - 19/08/2017

SENTIMENTOS, EMOÇÕES E LINGUAGEM


Ao se adotar um foco relativo à etiologia da linguagem é possível detectar que em animais superiores o sentimento é manifestação da primeira linguagem codificada seja em gestos, expressões faciais ou corporais, sons musicais ou de ênfase como rosnados.

A humanidade necessitou erigir o verbo em meio aos gritos com base na harmonia dos símbolos, que inicialmente surgiram de uma progressiva harmonização dos sentimentos em emoções, estruturas de linguagem sentimental possuidoras de conteúdo comunicacional mais consistente e expressiva de um estado psicológico específico.

A conversão da reação do sentimento cego na estabilidade das emoções significativas, simbolizadas por nomes próprios, foi o fruto da repetição de rituais religiosos originados das crises miméticas, que operaram o progressivo nascimento dos símbolos diferenciadores da cultura.


Cabe aqui esclarecer que a chave da teoria mimética de René Girard é fundada na criação do bode expiatório, uma vítima sacrificada pela violência sagrada, originada na violência caracterizada pela espiral da vingança que eventualmente domina a comunidade quando os processos miméticos fogem do controle.


O sacrifício do bode expiatório, fenômeno que ocorre dentro do mecanismo mimético, contém o processo da violência sem fim, assim, o ato sacrificial origina o rito, que é a reprodução dessa violência sagrada mantenedora da paz social, em contraponto à violência profana e irracional na qual os sentimentos são inominados e indiferenciados.

Neste sentido, o temor ao sagrado é um mecanismo que origina a linguagem, e explica como somos capazes de racionalizar o temor em amor, pois o próprio fato de atribuirmos nomes às emoções e aos sentimentos implica na criação de símbolos, imagens, referências, diferenciações.

A conversão de reações sentimentais em emoções racionalizadas é uma técnica de sobrevivência da espécie humana que possibilita o controle da violência humana e social.

Daí a criação de emoções e o ato nominá-las ser um tipo de racionalidade com foco na necessidade de sobrevivência, um exemplo misterioso, e já bem vulgarizado no senso comum, é o processo descrito como "Síndrome de Estocolmo", em que a vítima converte o temor ao algoz em respeito à autoridade, ou mesmo em amor ao tirano, por isso que ditaduras e totalitarismos são tão longevos, pois o medo é uma emoção que conforma o verbo "obedecer", e, da mesma forma,  em sociedades republicanas e/ou democráticas, o amor funda a caridade e a autonomia de pessoas livres por meio do senso de responsabilidade.

Werner Nabiça Coêlho - 19/08/2017

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O MITO DO HERÓI E JAIR BOLSONARO



A página do STJ no facebook nunca foi tão "avaliada" em sua existência, como depois da confirmação da condenação do Deputado Federal Jair Bolsonaro ao pagamento de uma indenização civil àquela senhora defensora de menores infratores.

Jair Bolsonaro foi condenado a pagar a bagatela de 10 mil reais, e, em troca recebeu gratuitamente uma massiva campanha de "marketing involuntário", gerenciada por aquela "agência de propaganda" denominada STJ que destacou com tanta ênfase a notícia com a seguinte chamada: "Jair Bolsonaro terá de indenizar deputada Maria do Rosário por danos morais".

O Deputado Jair Bolsonaro é tão sortudo, mas tão sortudo, que até quando é condenado obtêm resultado prático melhor que o de uma absolvição, uma vez que uma condenação tão evidentemente injusta e contraditória tem mais forte repercussão social que uma óbvia decisão coerente com a realidade. A narrativa mitológica bolsonariana só se fortalece com tal condenação.

Por falar em narrativa mitológica, há uma distinção fundamental entre o mito na antiguidade e a compreensão sobre o mito após a boa nova cristã, que está justamente no reconhecimento da inocência fundamental do herói trágico, transformação operada pelo exemplo histórico presente na Paixão de Cristo.

O herói trágico, nas narrativas antigas, é a vítima sacrificial eleita pela fatalidade, que mesmo inocente de culpa e dolo aceita sua condenação, pois nem o herói é capaz de perceber-se fora da lei do eterno retorno mitológico da violência sagrada tão forte na cosmovisão pré-cristã.

O herói, após a instauração da percepção cristã da realidade, foi reconhecido como uma vítima da injustiça do sacrifício em nome da necessidade de se aplacar a violência social, o herói foi rebatizado de vítima inocente, mártir, e dependendo das circunstâncias pode ser reconhecido como um santo.

O brasileiro tem a clara percepção da injustiça inerente à condenação civil de Jair Bolsonaro, isso consolidará a sua narrativa heróica, pois nossa cultura é penetrada até a raiz pela percepção cristã da inocência da vítima injustamente sacrificada em nome dos poderes deste mundo.

Werner Nabiça Coêlho - 17.08.2017

MINHA DEFINIÇÃO DE DIREITA POLÍTICA



Observe-se que a luta não é pela "direita", mas, sim, pela preservação de instituições e valores morais que permitem uma vida livre.

O homem em sua infância nasce com o conhecimento natural do mal, da luta pela sobrevivência material, e é necessário se buscar a maturidade, um fruto da elevação na vida da inteligência, na luta pela eternidade.

Ser de direita é uma postura "cultural" e "antropológica", somos povos ameaçados de extinção física mesmo, o que implica assumir uma postura "ambientalista", pois queremos preservar nossas condições básicas de vida, propriedade e liberdade.

O indivíduo ao defender-se do coletivismo da esquerda deve criar uma "práxis" de preservação da espécie humana em seus anseios mais básicos e de perduração.

Algo fácil de se constatar, ao se estudar fatos históricos, e da observação dos fatos políticos recentes, que  esquerda não está nem aí para a coerência de idéias, o que importa é a "práxis marxista", cujo objetivo final é tomada do poder social absoluto.

A direita brasileira é incipiente e está perdida em meio a visões do paraíso ideológico libertário, por pura e simples contaminação das esquerdas, o primeiro passo é afirmar que não se precisa de uma ideologia para viver, danem-se os seguidores do Cazuza.

Devemos recuperar a realidade do mérito, do valor de alcançar um objetivo por meio do esforço do exercício e/ou treino, que no caso do conhecimento é fruto do auto-estudo.

A auto-educação é a dedicação de quem tem predisposição e persistência, de estudar por conta própria, e, assim, alcançar seus objetivos educacionais, por outro lado, o reconhecimento social e financeiro é outro departamento, afinal, não se estuda para enriquecer financeiramente (apesar de ser um lugar comum para o brasileiro), isso é o mais tosco materialismo dinheirista (esta é outra expressão muito usada pelo Olavo de Carvalho).

Elevar o espírito é o mérito do estudo, acontece que pessoas bem formadas acabam virando líderes, cientistas, empreendedores, bons funcionários, etc.

O estudo é fundamental para preparar a luta de quem está contra a esquerda em defesa das verdades consagradas pela experiência, tradição, família, ciência, e, em última análise, pela eternidade.

Nossa responsabilidade pessoal se espraia ao passado e se lança ao futuro, mas, sobretudo, é uma luta pela salvação da própria alma, e, quem sabe, servir de exemplo para outras.

O que é ser não-ideológico? 

É buscar a verdade! 

Como fazê-lo? 

Precisamos estudar história, contemplar a arte, viver a religião, mas, para gostos mais filosóficos, recomendo o enfrentamento do argumento etiológico, ou estudo das origens e das causas, são todos caminhos que nos conduzem a Deus, o Logos da Última e da Primeira Verdade.

Quem luta pela ideia de "direita" é aliado da esquerda, pois é só mais uma palavra polissêmica, cujo sentido é variável, e quando representa uma "ideologia de direita" torna-se, assim, mais um braço da esquerda.

Ao cidadão que enfrenta o embate pela defesa da civilização para conservar desde a própria vida até os valores mais elevados da religião, da arte e da cultura herdada de seus antepassados, costuma-se distinguir da esquerda... com o termo "direita".

Para ser de direita, num dado contexto histórico, basta estar na necessidade de agir segundo o instinto de autopreservação, o que se convencionou denominar, na era pós-revolução de 1789, de "conservador", em oposição ao "liberal", o revolucionário que precedeu o "socialista".

Logo, ser de direita é ser não ideológico!

O fato de assumir posições de direita decorre de uma reação à invasão de bárbaros do pensamento e da ação social deletéria da esquerda.

Quid iustum? (Que é direita?)

Direita é uma definição negativa em relação ao que é ser de esquerda.

Direita é uma posição relativa, até a esquerda política tem sua "direita".

O meta-capitalismo (expressão criada por Olavo de Carvalho) é a suprema burguesia aliada ao estado totalitário, como já ocorre na China, o paraíso das elites comunistas e econômicas, a esquerda consuma-se nesta vil aliança político-econômica.

Neo-conservadorismo é coisa de americano, brasileiro quando quer conservar alguma coisa de sua tradição ancestral torna-se católico, ou ao menos um zeloso estudioso da história desta nação, desde a conquista romana da velha Ibéria lusitana.

Por fim, no sentido mais elevado da ideia de "direita", a única direita pela qual vale à pena lutar é aquela posição ocupada pelos que estão à direita de Nosso Senhor Jesus Cristo, o resto é tudo gente que acredita em ideologias baratas, que negam a sacralidade da vida humana em algum nível.

Werner Nabiça Coêlho - 17/08/2017


SÓCRATES É ATUAL


Sócrates inventou a Filosofia Ética, Moral e Jurídica num tempo em que não havia separação entre Governo e Religião, o Estado, o Povo e os deuses eram uma unidade.

Sócrates, com sua dialética, ironizou instituições sociais, jurídicas e religiosas, e, assim, escandalizou o povo de Atenas, mas ele não se opunha à ordem social, somente a questionava, e por sua liberdade de expressão foi condenado à morte.

O Mundo Antigo era "Politicamente Correto" na defesa das instituições consideradas sagradas pela sociedade, num tempo em que não existia "Estado Laico".

sábado, 12 de agosto de 2017

MEDICINA, FILOSOFIA PRÉ-SOCRÁTICA E ÉTICA: A DESCOBERTA DO RACIONALISMO ETIOLÓGICO






Aos dezesseis anos, por conta de um trabalho escolar cobrado pela professora Yeda, à época uma mocinha, que ministrou a disciplina filosofia, no início do primeiro ano do segundo grau, li, pela primeira vez, a Apologia de Sócrates, e, desde então, tenho cultivado campos interiores de conhecimento por puro deleite e prazer.

Esta experiência casual, possibilitada pela escola marista Nossa Senhora de Nazaré, de Belém do Pará, ocorreu por um feliz acidente, dado que somente houve aula de filosofia no primeiro ano, depois, sumiu do mapa do resto do meu segundo grau,  mas, direcionou-me a curiosidade para a filosofia.

Antes desta experiência, o gosto que me dominava voltava-se exclusivamente para o estudo de história e política, e, rememoro, ainda, quando aos seis anos de idade, ao estudar sobre Pedro Álvares Cabral questionava meu pai sobre o que veio antes do Brasil, ou seja, o início de Portugal, e o velho respondia que o Reino de Portugal fora fundado pelo Rei Affonso Henriques lá pelo ano de mil cento e alguma coisa, e, como moleque enjoado que eu era, continuava: e antes de Portugal existir? E antes dos romanos? De fato, desde novo era um chato!

Passados tantos anos, ainda me deixo ser assaltado pelo espanto e pela admiração, quando percebo algo óbvio, ou que deveria sê-lo, que se encontrava encoberto, pelas névoas dos vales de ignorância, que campeiam por entre os pequenos morros de conhecimento, que tenho erguido ao longo da vida, elevações sobre as quais subo para tentar contemplar um pouquinho mais longe, para aplacar a bendita e insubmissa curiosidade que me aflige, ao mapear a topografia de minha ignorância conforme a cartografia ensinada pelo Mestre Olavo de Carvalho.

Um dos últimos sustos que sofri foi descobrir, no sentido de compreender, o termo filosófico racionalismo etiológico, termo técnico que designa a busca racional pelas origens.

A luz sobre a etiologia se fez quando vi Voegelin descrever o argumento etiológico [01], o problema filosófico fundamental, não enfrentado, e, até mesmo ignorado, pela filosofia moderna.

Fixei esta luminosidade mentalmente, e, assim, pude compreender melhor a observação de Reale e Antiseri, já lida a algum tempo atrás, de que a medicina hipocrática foi a criadora do racionalismo etiológico [02].

O racionalismo que se fundamenta na busca da origem do problema foi o que possibilitou o nascimento e o desenvolvimento da ciência médica e das demais ciências.

A obviedade de aprender tal terminologia está no fato de que a busca das origens é o que sempre me impulsionou: - Sou, portanto, um racionalista etiológico!

Nesta busca etiológica, tenho estudado algumas hipóteses sobre origens, seja da linguagem ou da sociedade, do fenômeno jurídico ou filosófico, etc.

E ao atinar sobre a importância do argumento etiológico, e a metodologia que lhe é inerente, que se opera com base no conceito de racionalismo etiológico, pude perceber o quanto a medicina hipocrática foi fundamental ao unificar os conceitos da filosofia pré-socrática, ou filosofia da physis, por meio de críticas e articulações com a realidade, numa teoria médica com fundamentos filosóficos e éticos.

A medicina hipocrática originou-se da mentalidade científica criada pela filosofia da physis [03], como bem se pode observar nesta passagem da obra hipocrática A Teoria do Homem, em que se realiza a refutação da teoria de que o homem seria originado de um único elemento:

Quem costuma ouvir aqueles que falam sobre a natureza humana, além do que concerne à medicina, para ele, este discurso não é interessante de ser ouvido. Digo, pois, não ser o homem, por completo, nem ar, nem fogo, nem água, nem terra, nem nenhum outro elemento que não é manifesto no interior do próprio homem. Mas deixo de lado aqueles que querem falar tais coisas. [04]

Reale e Antiseri referem-se à contribuição da particular agudeza argumentativa, herdada dos sofistas e bem visível em alguns tratados hipocráticos [05], influência que bem podemos exemplificar nestas passagens de A Teoria do Homem na qual se define o caráter composto e variado da natureza humana, com base em argumentos lógicos fundados na realidade empírica:


[...] se o homem fosse uma unidade, nunca sofreria. Pois, sendo uma unidade, não haveria por que sofrer. Se realmente sofre, é necessário que haja também um único medicamento. Mas há muitos, pois há muitas substâncias no corpo, as quais, quando, contra a natureza, mutuamente se esfriam e se esquentam, e se secam e se umedecem, geram doenças; de tal modo que muitas são as formas (idéiai) de doenças e seus tratamentos vários [06]

Apresentarei provas e apontarei as necessidades graças as quais cada substância aumenta e diminui dentro do corpo [07]

Além deste aporte filosófico e científico, houve um forte fator ético, inspirado na sacralidade da vida humana, simbolizado pelo famoso juramento de Hipócrates que no dizer de Reale e Antiseri é uma proposta simples que, em termos modernos, poderíamos expressar assim: médico, lembra-te de que o doente não é um coisa ou um meio, mas um fim, um valor, e portanto comporta-te em decorrência disso [08].

Assim, a medicina, ao nascer e se desenvolver, inspirou a filosofia ética de Sócrates e Platão, e prosseguiu sua influência, tanto no aspecto ético quanto no científico, principalmente, no filho do médico Nicômaco: Aristóteles.

Reale e Antiseri relatam que a criação da medicina hipocrática [...] nascida da mentalidade filosófica, estimulou a especulação filosófica [09] e citam Jaeger:

Não se exagera quando se diz que a ciência ética de Sócrates, que ocupa o centro da disputa nos diálogos platônicos, não teria sido possível ser pensada sem o modelo da medicina, a qual Sócrates se remete tão frequentemente. A medicina lhe era mais afim do qualquer outro ramo do conhecimento humano então conhecido, inclusive a matemática e as ciências naturais [10].
A filosofia pré-socrática, associada à técnica da argumentação racional desenvolvida pela sofística, possibilitaram o desenvolvimento da teoria e da técnica da medicina hipocrática, cujas consequências sociais e éticas estimularam a especulação socrática, e, assim sendo, a filosofia da ética e da ciência tal como a conhecemos, em sua manifestação fundamental de racionalismo etiológico.

Notas:

[01] "[...] o charlatanismo marxista reside na terminante recusa de dialogar com o argumento etiológico de Aristóteles, isto é, com o problema de que a existência do homem não provém dele mesmo, mas do plano divino da realidade" (VOEGELIN, 2007, p. 84).

[02] “[...] é no âmbito do racionalismo etiológico por ela criado, que pôde nascer, autodefinir-se e desenvolver-se a ciência médica (assim como as demais ciências)." (REALE E ANTISERI, 1990, p. 114).

[03] REALE E ANTISERI, 1990, p. 113.

[04] CAIRUS, 2005, p. 42.

[05] REALE E ANTISERI, 1990, p. 114.

[06] CAIRUS, 2005, p. 42.

[07] CAIRUS, 2005, p. 43.

[08] REALE E ANTISERI, 1990, p. 118-9.

[09] REALE E ANTISERI, 1990, p. 114.

[10] REALE E ANTISERI, 1990, p. 115.

Referências:

CAIRUS, Henrique F. “Textos hipocráticos: o doente, o médico e a doença”. Henrique F. Cairus e Wilson A. Ribeiro Jr. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2005, 252 p. (Coleção História e Saúde)

REALE, Giovani; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: PAULOS, 1990 (Coleção filosofia)

VOEGELIN, Eric. Reflexões autobiográficas; introdução e edição de textos de Ellis Sandoz; tradução de Maria Inês de Carvalho; notas de Martins Vasques da Cunha - São Paulo: É Realizações, 2007.