sábado, 21 de janeiro de 2017

UM DESEMPREGADO É ALGUÉM QUE PROCURA ORDENS!



Felipe G. Martins traduziu (1) o discurso de posse de Donald Trump , e, entre tantas passagens memoráveis, destaco um momento na qual fica muito evidente o renascimento da linguagem objetiva que descreve verdades da vida, cujo sentido é fundador de uma ordem superadora da guerra e da crise:

"Tenham certeza de uma coisa: nós não iremos falhar; nosso país irá progredir e prosperar. Não mais aceitaremos políticos que só sabem falar e que jamais colocam a mão na massa. A era dos discursos vazios chegou ao fim. É chegada a era da ação! É chegada a era de quem se preocupa menos com discursos e mais com resultados! "

Toda a campanha presidencial de Donald Trump foi, em essência, um resgate do poder da linguagem como instrumento de intervenção na realidade, pois conforme a chave explicativa de Eugen Rosenstock-Huessy (1888-1973), para quem a "linguagem faz transpor o caos da natureza, as contendas entre mero indivíduos, sua falta de continuidade e liberdade" e "cria paz, ordem, continuidade e liberdade" (p. 73)
 
O que Donald Trump fez, e continuará a realizar, é refundar a linguagem sadia, objetiva, realista, comunicacional e formal, cuja função é (re)criar formas de convivência civilizada, cuja linguagem foi sistematicamente esvaziada de sentido pelo ataque da ideologia deformadora do "politicamente correto", ou seja, Trump é o agente responsável por dar as ordens verbalizadas que orientarão a ação material da sociedade americana, carente de ordens que transformam linguagem em ação, e ação em obras, pois boas ações e  boas obras necessitam de boa linguagem, afinal, como diria Eugen Rosenstock-Huessy:

"Um desempregado é alguém que procura ordens e não encontra ninguém que lhas dê. Por que as procura? Porque ordens cumpridas dão direitos. Se faço por conta própria uma imagem de barro, não posso exigir que me dêem dinheiro por isso. Mas, quando recebo ordens para fazer imagens de barro, estabeleço uma reinvindicação. As respostas às ordens dadas fundam direitos. Os milhões de desempregados dos anos 30 esperavam alguém que lhes dissesse o que fazer. Na guerra, dá-se exatamente a discrepância oposta. Nela não escutamos o inimigo. Na crise, não encontramos quem nos diga o que fazer. Na guerra, há muito pouca vontade de escutar; na crise, pouquíssimas pessoas querem dar ordens, falar fundadas no poder original da linguagem, no poder de direção." (p. 60)

Referência:

Eugen Rosenstock-Huessy (1888-1973) A origem da linguagem; edição e notas Olavo de Carvalho e Carlos Nougué: introdução, Harold M. Sathmer e Michael Gorman-Thelen: tradução Pedro Sette Câmara, Marcelo de Polli Bezerra, Márcia Xavier de Brito e Maria Inêz Panzoldo de Carvalho. - Rio de Janeiro: Record, 2002.


Werner Nabiça Coêlho - 21.01.2017

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