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quinta-feira, 21 de abril de 2016

CULTURA MELANCÓLICA?




O litoral atlântico da Penísula Ibérica sempre foi um ponto de passagem das grandes civilizações ocidentais, por lá, sucessivamente, transitaram fenícios, gregos, celtas, romanos, godos e muçulmanos, resultando numa misceginação, não só biológica, mas, principalmente, e, num alto grau, de natureza cultural. 

Celtas 
D'entre todos os povos europeus, o que habitava a beira do atlântico da Ibéria, o futuro povo português, foi o mais permeável, pois absorveu todos os impactos culturais, e foi mais impertubável, pois por nenhuma das neoculturas consumou-se a absorção deste povo costeiro a ponto de eliminar uma certa identidade autárquica, uma certa identidade, uma certa "saudade" do solo da língua portuguesa, que como dizia o poeta Olavo Bilac, tem "o trom e o silvo da procela / e o arrôlo da saudade e da ternura".


E, assim, no decorrer dos séculos e milênios de intercâmbio, livre ou forçado, o povo português desenvolveu uma cultura capaz de absorver as energias culturais de todos os povos com os quais manteve contato, sem que com isso se tornasse um espelho, um mero reflexo, pois ao receber as cores culturais alheias, transmutou-as a tal ponto que aportuguesadas tornaram-se. 

Em síntese, a cultura que se originou em Portugal padece de um caso incurável de abertura e síntese, pois não discrimina nada e por nada se sujeita, a todos acolhe e a nenhum rejeita, mas, tudo o que absorve definitivamente, de uma vez por todas, torna-se parte da cultura portuguesa. 



Com este pano de fundo, podemos analisar a cultura forjada na velha Portugal, como sendo uma cultura melancólica, que sente saudades, mas não sabe por que. 

Leve-se em conta que apesar de sempre haver permanecido um núcleo mínimo de identidade da nação portuguesa, não há que se negar que em certa medida, o homen português, sofreu infinitas mutações culturais em sua formação, o que, paulatinamente, forjou um tipo humano inconstante, dado a extremos de exaltação e de depressão. 

Aristóteles 
Em termos aristotélicos a nação portuguêsa, aí se incluindo todos os falantes da "última flor do lácio", é, ela inteira, em maior ou menor grau, uma "civilização melancólica". 

Colacionamos o diagnóstico presente no problema número trinta do Sábio de Estagira, em que Aristóteles se pergunta: 

"Por que razão todos os que foram homens de exceção, no que concerne à filosofia, à ciência do Estado, à poesia ou às artes, são manifestamente melancólicos, e alguns a ponto de serem tomados por males dos quais a bile negra é a origem" (935, a, 10). . 

Parafraseando esta célebre questão, afirmo que a nação portuguesa, enquanto civilização milenar que é, é melancólica, porque é dotada de uma genialidade, de uma sabedoria prática, de uma "phronesis", que a torna individualmente um universo próprio, aberto enquanto sistema, a todas as influências, e fechado enquanto cultura, pois esse sistema aberto funciona como um "corpo negro ideal" como descrito pela física, ou seja, absorve todas as energias e cores circundantes, mas, continua inabalável, continua sendo português, por sinal, toda e qualquer cultura viva tem esta qualidade em certo grau, ocorre que a nossa a tem em grau exacerbado. 

O indivíduo médio pertencente ao universo cultural que se originou em Portugal, e, que forjou o núcleo da nacionalidade brasileira, é um ser ambíguo, pois participa de todas as culturas e não pertence a nenhuma, é como se o tipo humano português transitasse das culturas mais "quentes" até as mais "frias", e vice-versa, sem grandes dificuldades. 


Pode-se dizer que a marca indelével dos povos de língua portuguesa é exatamente esta presença de uma certa constante da inconstância, de estabilidade de um quadro de instabilidade, em suma, o homem gerado pela cultura portuguesa, incluindo-se aí o brasileiro e demais falantes do inculto e belo português, participam, potencialmente, de todas as variáveis culturais identificáveis, pois a todos se assemelha, sem que se converta em nenhum outro, é um paradoxo que muito desvela, pois indica uma vitalidade essencial à sobrevivência de um povo em tempos de homogeneização mundial das culturas.

Bibliografia:

COELHO, Werner Nabiça. Cultura Melancólica?. Universo Jurídico, Juiz de Fora, ano XI, 27 de jun. de 2003.

Disponivel em: < http://uj.novaprolink.com.br/doutrina/1391/cultura_melancolica >. Acesso em: 21 de abr. de 2016.