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sábado, 20 de maio de 2017

AFORISMOS: A ARTE DO DIREITO


DIREITO É UMA FERRAMENTA, NADA MAIS.

A natureza humana é composta de desejo e razão, aqueles dois cavalos, um obediente e o outro rebelde, descritos por Sócrates no Fedro, o direito é um conjunto de tradições, experiências, técnicas e hábitos que trabalham esta tensão entre a emoção quente, que tudo incinera, e a postura distante e racionalista, que tudo quer tratar com frieza e objetividade, nestes termos o direito é só mais uma das ferramentas que o engenho humano constituiu para garantir a sobrevivência.

O direito não é uma coisa separada do acontecer humano, é só um índice de medida do acontecer humano.

Ao fim e ao cabo o direito é o que os homens, justos ou injustos, fazem-no ser.

O direito como algo que produz resultados práticos (poiéticos) é operado pelo uso da força, com base num certo grau de legitimidade social, é como uma arma, pode ser usada para o bem ou para o mal.

O direito é uma arte prática que é instrumentalizada pelo detentor do poder social, seja um indivíduo seja um ditador, é uma simples ferramenta.

O direito é nada mais nada menos que uma manifestação da natureza humana segundo um foco comportamental e normativo.

DIREITO É PROGRAMAÇÃO.

O direito é na sociedade um tipo de atividade equivalente à arte do programador, ambos existem para gerir sistemas de dados, um binário e matemático e o outro ético e incomensurável.

DIREITO DOMADOR DA VIOLÊNCIA.

O direito é a arte de domar a violência que habita dentro e d'entre nós.

A violência é constitutiva do acontecer natural, a vida de uns é garantida pela morte de outros, a ordem natural é uma ordem mortífera.

Somos violentos, desejamos a violência, mas nos foi revelado que este é o caminho do erro, o esforço de seguir o caminho reto implica no sacrifício da própria violência, esta é a renúncia ao pecado, ao prazer da violência, à satisfação da vingança.

Por natureza somos violentos, adoradores potenciais de satanás, mas nosso espírito tem uma estranha tendência para a ordem, um dom capaz de captar o divino em meio ao caos, e com Cristo nos evadimos das trevas da vingança.

DIREITO E SALVAÇÃO.

Um bom meio de acabar com o fenômeno jurídico é a extinção da humanidade, outro é a salvação, mas daí não estaremos neste mundo.

O direito como arte que é, idealmente, deve gerar uma mimésis do comportamento justo.

Ser bom é uma decisão no sentido do bem, decisão que nega todas as demais possibilidades e tentações que se apresentam perante os desejos e sentimentos menos elevados da natureza carnal.

Posso afirmar que o bem é um potencial virtual não atual, cuja realidade é fruto de um processo laborioso, consciente e custoso.

Lei, mortalidade e livre arbítrio são alguns dos termos metafísicos que somos capazes de gerenciar no cotidiano jurídico.

DIREITO VERSUS ROUSSEAU.

Considerar o homem naturalmente bom é uma definição generosa, mas um tanto quanto rousseauniana, pois apregoa uma espécie de bom selvagem teleológico.

De minha parte sou um pessimista quanto à bondade natural do homem, creio que ele é pecador por natureza, e somente com um esforço muito grande e sujeito a muitas quedas é que ele se aperfeiçoa, essa é sua liberdade.

O dom que nos foi concedido, a liberdade, pode ser perdido pelo uso da própria liberdade, é a parábola dos talentos que melhor expressa isso.

DIREITO E SOBRENATURAL.

A tensão das contradições é a razão da vida da carne, do espírito e da alma, é o labor mesmo.

O positivismo farisaico é a versão primeva do satanismo politicamente correto, que subverte a virtude da justiça em tirania cega.

O direito positivo em sua forma de registro formal é somente mais uma ferramenta, da mesma forma que do ponto de vista somente do texto os evangelhos não são todo o ensinamento, mas um registro parcial da verdade revelada, assim é a lei escrita.

O positivismo quando encarado como ideologia é um direito preternatural, nem natural nem sobrenatural.

O conceito de direito natural... está aí um ponto discutível, podemos chamar de direito sobrenatural, por ser eterno, pois o nosso acesso aos princípios racionais é uma forma de presentificação da idéia que o espírito e o intelecto apreendem desde cima. 

Pode-se definir o direito natural no sentido de verdade revelada, percebida pelo intelecto humano, atributo este que participa da natureza divina que nos criou.

DIREITO, MISERICÓRDIA E VINGANÇA.

A vingança de Deus está reservada ao juízo final que encerra uma vida de escolhas que negam a salvação.

Papo de jurista: a lei precisa ser interpretada, as ferramentas conceituais que permitem a interpretação compõem a hermenêutica, com Cristo a misericórdia vem como a boa nova que introduz o elemento providencial do perdão como parte da técnica de julgamento, com Cristo o amor funda o juízo, não mais uma vingança à moda da lei de talião.

17.05.2017

Werner Nabiça Coêlho

sexta-feira, 17 de junho de 2016

É BOM CITAR: O VOTO DE MINERVA



Um artista começa de repente do momento em que sabe dar razão a todos os seus heróis. 

Porque você não devolve a vida senão quando põe tudo em equilíbrio, quando dá razão a todos. 

São assim os heróis de Ésquilo: cada um com sua razão. 

Etéocles tem razão em defender a cidade de Tebas contra seu irmão, Polinice, que a assedia com um exército estrangeiro.

Mas Polinice tem razão em assediá-lá, porque Etéocles o afastou de sua parte na regência.

E o que é esplêndido é que também o coro se divide até o fim, nos Sete contra Tebas: metade segue Polinice, morto por ter razão; metade segue Etéocles, morto por ter razão.
 
***

Reencontro esse pensamento, mais belo, mais vivo, mais complexo, em Oréstia. 

Cada um tem razão de vingar-se.

As vinganças chamam umas às outras, entrelaçam-se, ramificam-se, acorrentam-se umas às outras.

Vingança contra vingança e vingança ao lado da vingança.

Egisto tem razão de querer a morte de Agamemno, porque este é da nação dos atridas, que lhe torturaram o pai, Tiestes.

Mas o assassino não é ele, Egisto, mas a própria esposa de Agamemno Clitemnestra, que tem razão de matar o marido, porque, porque este lhe sacrificara a filha, Ifigênia.

Mas quando Orestes, filho deles, vai matar Clitemnestra e Egisto, o amante dela, já não sabe bem por que vinga a morte do pai: a profanação que sua mãe fez do lar familiar, ou a perda de seu próprio cetro.

Já não sabe senão que tudo grita por vingança, pela voz, pelo gesto, pelo ser da irmã de Orestes, este monstro de piedade, amor e ódio: Electra.

Mas terminam aqui as vinganças? Não, porque até a sombra de Clitemnestra vai pedir vingança.

Mas as Fúrias, as Eumênides, instigadas por ela, perseguem Orestes, em nome da razão, porque matou a própria mãe.

"Agrada-nos termos razão", dizem as Fúrias.

Mas o lance não se fecha senão diante da sábia Minerva, que está para julgar entre as Fúrias e Orestes.

"É árdua a causa", diz Minerva.

E por isso vai instituir um tribunal de atenienses.

O resultado?

A despeito do testemunho de Apolo em favor de Orestes, a despeito do voto de Minerva em favor dele, é igual o número de votos.

O todo está em equilíbrio. Todo mundo tem razão.

Oh, como é "verdade"!

(Constantin Noica, Diário filosófico, p. 87-8)