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sexta-feira, 22 de maio de 2020

REFLETINDO SOBRE A NOVA RELIGIÃO DA EUGENIA DO COVID-1984

A máscara hospitalar é o novo símbolo da religião sacrificial da eugenia, quem não utilizar tal veste de forma contínua arrisca-se a ser considerado impuro e iníquo passível de ser considerado um zumbi, um não-humano cuja existência deverá ser urgentemente eliminada pelo bem comum.

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Não somos livres para escolher como viver ou morrer perante o deus sacrificial da eugenia, a liberdade nada vale diante da igualdade saudável gerida pelos poderes estatais que nos consideram um bom plantel em seus confortáveis currais, cuja fazenda denomina-se "fique em casa".

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A saúde pública é motivo social, o culto à igualdade hipocondríaca é a nova religião sacrificial, a eugenia é a ideologia científica que serve de teologia, o medo da morte é a filosofia, e, por fim, o dado antropológico fundamental é um povo acovardado pelo medo da morte mimeticamente estimulado pelos senhores do mundo da política e da mídia.

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A nova religião sacrificial é a eugenia, que sacraliza a vida saudável, persegue quem não acata a ciência sagrada e infalível, e premia os fiéis com a garantia da promessa de vida longeva com base nos futuros avanços da medicina, futuro sempre adiado.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

O ESTADO NÃO É LAICO



Nessa discussão a respeito do "Estado Laico" é necessário realçar que a ordem laica da sociedade cristã, em seu sentido de tradição católica, é distinta da ordem clerical somente no que tange à adoção do sacramento do casamento, ou do sacramento da vida sacerdotal.

Ora, ambas as ordens laica e sacerdotal são integradas na mesma vida religiosa, e, assim, pode-se afirmar que um "Estado Laico" seria tão religioso quanto um "Estado Clerical" na medida em que ambas as realidades são aspectos sociais unitários do ponto de vista da religião, ou seja, ambas são formas de seguir a vida no cristianismo, seja com a adoção da relação monogâmica e fértil do casamento, seja com a vida celibatária e dedicada ao serviço do sacerdócio.

A expressão "Estado" não deveria ser acompanhada de adjetivos como "clerical" ou "laico", o mais adequado seria reconhecer que um determinado governo possa impor uma religião oficial, ou, como em nosso caso, não haver nenhuma imposição e haver o reconhecimento da liberdade religiosa, a expressão "Estado Laico" é uma atribuição indevida de personalização espiritual à uma existência burocrática, uma vez que a expressão "Estado" não diz respeito a uma pessoa natural, portadora de uma alma imortal, que possa exercer alguma fé religiosa, tendo-se em vista que uma pessoa jurídica é somente uma ficção jurídica, que serve para operacionalizar certos propósitos institucionais.

A academia e muitos juristas adotam a religião do positivismo ateísta, pois passando por Rousseau, Hegel e culminando no marxismo em todas suas variações posteriores, o Estado é deificado como a materialização do "Espírito da História", esta deusa sanguinária.

domingo, 15 de abril de 2018

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS: O GNOSTICISMO

Plotino


"O GNOSTICISMO

É difícil, em face da variedade extremada dos pensamentos gnósticos, muitas vêzes até contraditórios, expor em que consiste essa corrente, que teve seu desabrochar nesse período, e que deixou no patrimônio da filosofia muitas contribuições positivas, como também muitos erros. Afirma o gnosticismo um conhecimento (gnosis) capaz de unir o homem a Deus. A gnosis é o conhecimento intelectual, que unido à pistis, à fé religiosa, alcança ao mais alto saber. O gnosticismo pretendia, no segundo século, realizar a união entre a alma humana e Deus através de um conhecimento (gnosis), que permitisse tal desiteratum.

Entre os grandes gnósticos dêsse período, podem citar-se Simão o Mago, Márcio, Valentino, Basílides, Saturnillus, Menandro de Capparetta, Lucano, Asclépio, Metrodoro, Ambrósio e muitos outros.

Márcio de Sinope foi o fundador do movimento chamado marcionista. Excomugado por seu bispo, foi para Roma, onde combateu as idéias cristãs. Nada nos resta de suas obras, salvo passagens nos livros cristãos em que são rebatidas as suas teses. Afirmava êle haver uma antítese entre o Nôvo e o Velho Testamento. O deus dos judeus é um deus imperfeito. O verdadeiro Deus foi revelado por Cristo, que é um deus puramente bondade, e não o deus justiceiro dos hebreus.

Basílides, natural da Síria, começou a ensinar em Alexandria, em 130. Afirmava que Deus pairava acima do ser, que é criação dêle, como o são tôdas as coisas. Dessa mesma época é Valentino, que em 135 ensinava em Alexandria, vindo, depois, par Roma, em 160. Deus, acima de tôdas as coisas, é o abismo, o inconcebível. Mas o abismo era amor e não tolerava solidão, e uniu-se ao silêncio (sigê), e dessa união nasceu o Intelecto (NOUS) e a verdade (Alétheia). Do Intelecto e da Verdade foi engendrado o LOGOS, o Verbo e a Vida, que engendram, por sua vez, o Homem.

A perda da obra dos gnósticos impede que se possa fazer uma reconstrução de suas idéias: contudo, há intenções claras que podem ser delineadas, como seja a de apresentar Cristo apenas como um escolhido (eleito) para transmitir um conhecimento que salva, para estimular uma luta contra o judaísmo, que perverte o cristianismo.

Pode-se considerar como o genuíno codificador do gnosticismo Plotino, que constituiu essa doutrina com bases filosóficas e com a suficiente inteligibilidade. É o que vimos ao examinar a Escola Alexandrina.

Na Igreja, em luta contra os gnósticos, surte Santo Irineu, natural de Esmirna, que foi (126) discípulo de Policarpo, que era da geração que conhecera Cristo, e que fôra instruído pelos seus discípulos. Sua obra, Exposição e refutação do falso conhecimento (gnosis), acusa a êste de desconhecer os limites da razão humana e pretender penetrar no que a ultrapassa por caminhos falsos. Há apenas Deus, e não um demiurgo, um ser intermediário, criador do mundo. Para os gnósticos, o demiurgo é o criador, embora dependente de Deus. Deus é o verdadeiro criador, e não há nenhum outro ser fora dêle, mas, sim, Dêle, a Êle submetido. Contudo o homem é livre, e se o pecado diminui a sua liberdade, não consegue, porém, destruí-la.

Hipólito foi um discípulo de Santos Irineu e tornou-se famoso por sua obra Contra os Gregos e Platão, ou do Universo. Provàvelmente, nasceu em Roma, tendo morrido na Sardenha, em 236 ou 237. Combateu as heresias e defendeu a tese de que estas não surgiram pròpriamente do Cristianismo, mas das doutrinas filosóficas gregas. Sua obra Refutação das Heresias foi contemporânea de Clemente de Alexandria."

Fonte: Mário Ferreira dos Santos, Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais, Editôra Matese, São Paulo, 3.ª edição, 1965, p.1208-10

A VERDADE METAFÍSICA QUE SE FEZ CARNE



Imagem extraída da página Cooperatoris Veritatis


Rousseau fez um grande mal à psique da modernidade ao afirmar que bondade é natural à animalidade!

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O orgulho é o único pecado que não sente vergonha diante de Deus, é o soberbo que se levanta e O enfrenta, este é o vício que o diabo mais gosta...afinal, a sabedoria inicia pelo temor a Deus!


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Amo meus inimigos, pois eles motivam respostas e reflexões valiosas, a inspiração é em grande parte oriunda do escândalo do teatro da maldade e da maledicência.

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A religião marxista, que Raymond Aron denominou de o "ópio dos intelectuais" prossegue expandindo seus fiéis por meio da formação de nosso celebrado sistema de ensino!

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Àqueles que cultuam a matéria, perdoem-me se minha liberdade de expressão e minhas convicções ofendem vosso ativismo messiânico de um tão desejado apocalipse comunista!

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O que será da moral sem a religião? 

Será contribuir somente para a manutenção da burocracia estatal mediante impostos? 

Bastará ser um bom cumpridor da lei positiva, aquela regra emanada do governo? 

Ser cidadão e votar conforme o calendário eleitoral? 

Afirmar uma moral sem Deus, mas fundada no imperativo categórico kantiano... porque sim!? 

Acreditar que o bem pode existir sem o mal, uma vez que tudo é subjetivo, e, por isso, só pode existir o bem relativo a cada pessoa?

Postular o "dogma do relativismo" em que o mal é uma criação da subjetividade humana?

Defender que o bem é uma criação da "mãe natureza", ou seja, que a seleção natural é boa por si mesma, que o mais apto deverá prosperar em detrimento dos fracassados?

Sei... talvez ser bom marxista, ou bom ateísta, seja um exercício de ódio, e talvez este exercício seja considerado como um valor... do bem?

***

Essas visões teológicas sobre o suposto "cristianismo primitivo" são antepassados do "comunismo primitivo".

Por que ninguém se lembra que Cristo e seus Apóstolos ao fundarem o catolicismo foram perseguidos até o martírio.

Séculos dessas perseguições imperiais levaram os cristãos às catacumbas e ao coliseu (algo recorrente na China e em países islâmicos até hoje).

Ninguém se lembra de que por alguns momentos históricos o cristianismo poderia ter sido extinto, e que o seu triunfo histórico foi um verdadeiro milagre.

Somente no cristianismo o fenômeno "laico" ou mesmo o "iluminismo" puderam ocorrer, pois o livre arbítrio é seu elemento essencial.

A religião cristã não é agente primariamente político, afinal foi Cristo que mandou separar a religião de Deus da política de César, mas, se valorizas tanto a laicidade deverias valorizar sobretudo sua herança cristã como o fenômeno cultural e histórico que possibilitou a liberdade contemporânea.

***

O Logos (em grego λόγος, palavra) significava inicialmente a palavra escrita ou falada — o Verbo, passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual ou como um princípio cósmico da Verdade e da Beleza.

São João principia seu livro sinótico:

"1 1. No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus. 2. Ele estava no princípio junto de Deus. 3. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito. 4. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens. 5. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam."

Portanto, 

Cristo é a verdade metafísica que se fez carne, 

é o logos identificado pela filosofia grega, 

é a razão que se fez viva numa pessoa, 

por isso a tradição cristã católica é profundamente filosófica, 

pois a razão feita carne está viva entre nós!

domingo, 20 de agosto de 2017

QUALQUER IDEOLOGIA É UMA RELIGIÃO SACRIFICADORA



O pensamento orientado pelos ícones da modenidade (direita x esquerda, liberal x conservador, facismo x nazismo, etc.), em linhas gerais, é uma forma de renascimento das religiões arcaicas que sacrificam vítimas inocentes para deuses infernais.

A violência na religião pagã é a ferramenta religiosa fundamental, pois o rito arcaico é originado no assassinato fundador.

Após o nascimento de Cristo, e sua Paixão, os mitos antigos foram revelados como mentiras da religião da violência, a antiga mentira pagã foi exposta, o contrato com o diabo não poderia mais surtir efeito, pois para a religião antiga a vítima era o preço que deveria ser quitado ao deus sedento de sangue em troca do efeito desejado de paz social.

Cristo demonstrou com sua história e seu sofrimento que o mito mente ao julgar a vítima culpada e merecedora do castigo da morte, a Paixão de Cristo é o símbolo da injustiça inerente à religião e à sociedade dos sacrificadores.

Do início ao fim da Paixão de Cristo se comprova que a culpa é dos sacrificadores, todos eles, que se beneficiam do sangue derramado, nunca mais poderão considerar-se limpos, em todas as épocas e para todo o sempre.

O sangue vertido na maior história que já aconteceu dessacralizou o sangue de todos os bodes expiatórios.

A cristandade é fruto dessa revelação que há uma inutilidade no sacrifício do bode expiatório, enquanto que a eucaristia é o sacrifício incruento instituído para que inocentes não sejam mais objeto de ódio.

Desde o Renascimento, passando pelo Iluminismo, e chegando aos nossos dias, a revalorização da Idade Clássica e seus erros favoreceu a criação de novos cultos aos deuses antigos da violência, que foram novamente entronizados por meio da criação de ideologias.

O pensamento ideológico é uma forma de religião sacrificadora, na qual um inimigo é eleito como o culpado e merecedor da morte violenta para purificar o cosmos, em certo sentido essa é a religião originada das diversas ideologias de nosso tempo, marxista, fascista ou nazista, também, é religião liberal, ou simplesmente relativista, pois nestas visões infernais algo deve ser sacrificado no altar da fé ideológica, e, regularmente, são eleitos os cordeiros cristãos.

Werner Nabiça Coêlho - 20/08/2017

terça-feira, 28 de março de 2017

A SUBMISSÃO DO ATEU INTELECTUAL OCIDENTAL

A Disputa (ou Discussão) sobre o Santíssimo Sacramento de Rafael


Outro dia um amigo solicitou-me o empréstimo do livro "Eu via satanás cair do céu como uma raio" de René Girard, publicado em 1999, e, enquanto hesitava no ato de dar cumprimento ao compromisso, folheei as páginas como quem se despede de um livro muito querido, por não saber se o empréstimo teria bom termo, mas, promessa pronunciada deve ser cumprida, ocasião em que dei de cara com o anúncio da religião como espécie em extinção, naquela véspera do milênio cristão, na qual Girard assim se expressou:


"Lenta mas irresistivelmente no planeta inteiro, esmaece o domínio do religioso. Entre as espécies vivas, cuja sobrevivência o nosso mundo ameaça, é preciso contar as religiões. As mais pequenas estão mortas desde há muito tempo, as maiores passam por um momento menos bom do que aquilo que se diz, mesmo o indomável islão, mesmo o inumerável induísmo." (René Girard, Eu via satanás cair do céu como uma raio, Lisboa: Instituto Piaget, 1999, p. 11)


Como a memória é uma coisa traiçoeira lembrei de um livro velho e empoeirado, na qual a Revista Veja comemorava seus primeiros 25 anos, em que foi publicado o célebre artigo "Choque do Futuro" de Samuel Huntington.


Huntington já lançara os olhos para a realidade objetiva do "choque de civilizações", e recomendava "compreensão muito mais profunda dos pressupostos religiosos e filosóficos que formam o alicerce das outras civilizações":


"A fonte fundamental de conflito nesse novo mundo não será essencialmente ideológica nem econômica. As grandes divisões na humanidade e a fonte predominante de conflito serão de ordem cultural. As nações-Estados continuarão a ser os agentes mais poderosos nos acontecimentos globais, mas os principais conflitos ocorrerão entre nações e grupos de diferentes civilizações. O choque de civilizações dominará a política global. As linhas de cisão entre as civilizações serão as linhas de batalha do futuro." (Samuel Huntington, Choque do Futuro,in Veja 25 anos: reflexões para o futuro, São Paulo: Editora Abril, 1993, p. 135)


"[...]Será preciso, então, que o Ocidente desenvolva um compreensão muito mais profunda dos pressupostos religiosos e filosóficos que formam o alicerce das outras civilizações, bem como das maneiras como as pessoas daquelas civilizações vêem seus próprios interesses. Será necessário, ainda, um esforço para  identificar elementos comuns entre a civilização ocidental e as demais. No futuro próximo, não haverá uma civilização universal, mas um mundo de diferentes civilizações, e cada qual precisará aprender a coexistir com outras  (Idem, p. 146-7)


Como acabara de ler "Submissão" de Michel Houellebecq, que retrata a rendição da Europa ao islã, cito um dos mais significativos momentos em que é descrita a conversão de um intelectual:


"'Essa Europa que estava no auge da civilização humana realmente se suicidou, no espaço de alguns decênio", continuou Rediger com tristeza; ele não tinha acendido a luz, a sala só estava iluminada pelo abajur que havia em sua mesa. "Houve em toda a Europa os movimentos anarquistas e niilistas, o apelo à violência, a negação de qualquer lei moral. E depois, alguns anos mais tarde, tudo terminou por essa loucura injustificável da Primeira Guerra Mundial. Freud não se enganou, Thomas Mann também não: se a França e a Alemanha, as duas nações mais avançadas, mais civilizadas do mundo, eram capazes de se entregar a essa carnificina insensata, então era porque a Europa estava morta. Portanto, passei aquela última noirte no Métrople, até seu fechamento. Voltei para casa a pé, atravessando a metade de Bruxelas, margeando o bairro das instituições europeias - essa fortaleza lúgubre, cercada de casebres. No dia seguinte fui ver um imã em Zaventem. E no outro dia - segunda-feira de Páscoa - , em presença de umas dez testemunhas, pronunciei a fórmula ritual da conversão ao islã"' (Michel Houellebecq, Submissão, Objetiva, 2015, p. 217)


A conversão do personagem Rediger ao islamismo é rica em símbolos sobre o triunfo do ateísmo militante, do anarquismo e do niilismo, refere-se a Freud e Mann e suas conclusões sobre a morte da Europa, e, na parte final descreve-se a saída de um restaurante chamado "Métropole" após seu fechamento, o que induz ao sentido da percepção da morte da civilização ocidental, seguido pela caminhada de um homem perdido interiormente pelas ruas da capital europeia, entre prédios governamentais grandiosos e "casebres", e, ao fim, relata-se uma conversão religiosa formal, que de forma muito significativa se dá em plena segunda-feira da Páscoa.


Num único parágrafo Houellebecq descreve a negação da história, da literatura, da filosofia e do cristianismo ocidentais como pressupostos nos caminho da conversão islâmica.


Houellebecq cria imaginativamente um enredo possível daquilo que Huntington descreveu, e tal estado de coisas afasta para o limbo das teorias obsoletas a descrição de Girard sobre o fim do domínio religioso, esta dominância jamais acabará, pois a civilização é a consequência e não causa da realidade da religião, para finalizar cito alguns trechos do artigo "Adeus mundo ateu", de Olavo de Carvalho, que em 2007 já antecipara o conteúdo intelectual da obra literária "Submissão":


Todas as civilizações nasceram de surtos religiosos originários. Jamais existiu uma “civilização laica”. Longo tempo decorrido da fundação das civilizações, nada impede que alguns valores e símbolos sejam separados abstrativamente das suas origens e se tornem, na prática, forças educativas relativamente independentes.


Digo “relativamente” porque, qualquer que seja o caso, seu prestígio e em última análise seu sentido continuarão devedores da tradição religiosa e não sobrevivem por muito tempo quando ela desaparece da sociedade em torno. Toda “moral laica” não é senão um recorte operado em códigos morais religiosos anteriores.


[...]


O presente estado de coisas nos países que se desprenderam mais integralmente de suas raízes judaico-cristãs está demonstrando com evidência máxima que a pretensa “civilização leiga” nunca existiu nem pode existir.


Ela durou apenas umas décadas, jamais conseguiu extirpar totalmente a religião da vida pública, malgrado todos os expedientes repressivos que usou contra ela e, no fim das contas, sua breve existência foi apenas uma interface entre duas civilizações religiosas: a Europa cristã moribunda e a nascente Europa islâmica. (Olavo de Carvalho, Adeus mundo ateu, 03 de março de 2007)

Referências:

Michel Houellebecq, Submissão, Objetiva, 2015

René Girard, Eu via satanás cair do céu como uma raio, Lisboa: Instituto Piaget, 1999

Samuel Huntington, Choque do Futuro,in Veja 25 anos: reflexões para o futuro, São Paulo: Editora Abril, 1993

Olavo de Carvalho, Adeus Mundo ateu, disponível em: http://www.olavodecarvalho.org/adeus-mundo-ateu/

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

O MARTÍRIO VERMELHO DOS ARMÊNIOS

Monte Ararat - Armênia
A Armênia foi a primeira nação a proclamar o cristianismo como religião de Estado no ano de 302, e, segundo a tradição armênia, o cristianismo foi introduzido no país desde suas origens por dois discípulos de Jesus Cristo, os apóstolos Bartolomeu e Tadeu, e, por volta do ano 200, o cristianismo já se encontrava bastante difundido entre os armênios.


A Armênia é uma nação cuja história é digna de prosa e verso em estilo épico, pois além de ter sido a primeira nação cristã, foi este povo, juntamente com a Irlanda, responsável pela preservação da cultura clássica em meio aos desastres das invasões bárbaras, como, também, foi uma das propagadoras missionárias da verdade cristã.

Jean Pierre-Alem em seu precioso livreto intitulado A Armênia, relata a tentativa do rei Persa impor a conversão dos armênios ao culto do fogo,  realça que o cálculo deste rei era sobretudo político, pois o mesmo "julgava que essa conversão afastaria definitivamente os armênios de Bizâncio e lhes tiraria qualquer possibilidade de executar um desses rompimentos de aliança dos quais eles haviam dado tantos exemplos num passado recente."





Os armênios numa resolução unânime expressaram submissão política, mas afirmaram sua fé cristã, nos seguintes termos:

Nada nos moverá de nossa fé, nem anjos e nem homens, nem espadas e nem águas, ou qualquer outra violência imaginável. Nossos bens e nossas posses estão a tua disposição; podes usa-los como bem entenderes. Desde que nos concedas a liberdade de crença, tu serás nosso único senhor na terra, assim como Cristo é nosso único Deus no céu. Se porém exigires de nós mais que isso, eis nossa decisão: nossas vidas estão em tuas mãos…; tu tens a espada, nós a cerviz…Tombaremos como mortais que somos e passaremos às fileiras dos imortais…É inútil querer negociar o que é inegociável. Nossa fé não tem origem humana e nossas convicções sobre ela resultam de uma experiência amadurecida. Somos inseparavelmente unidos ao nosso Deus. Nada poderá romper essa união, jamais e em tempo algum. ( Loureiro, Heitor. Breve histórico dos primórdios da Igreja Apostólica Armênia. In: Rhema. Juiz de Fora: v. 13, n. 40, 2006.)

Este ato de defesa da fé cristã enfureceu o rei dos reis, que convocou os príncipes armênios, e estes optaram pela apostasia, para em seguida voltarem a seu país acompanhados de 760 magos persas, e, ao cruzarem a fronteira, o povo armênio atacou e dispersou os sacerdotes masdeístas, e, como qualquer político diante da fúria de um povo indignado, submeteram-se à vontade da multidão de cristãos e renegaram a conversão pagã.



Diante desta situação, a Armênia preparou-se para sofrer o ataque persa, e a resistência foi confiada a Vardan Mamikonian.

Bizâncio omitiu-se de enviar qualquer auxílio, mesmo após insistentes pedidos de Vardan, e, assim, um exército de 60.000 homens da Armênia foi levantado, para enfrentar um inimigo superior, numa luta desesperada.

O combate travou-se na planície de Avarair, no dia 02 de junho de 451. Os armênios foram vencidos e Vardan Mamikonian, morto.


Mas as perdas persas foram consideráveis. O rei dos persas que devia, além disso, sustentar uma guerra difícil contra os hunos, ao norte de seus Estados, mostrou-se relativamente conciliador. Mandou prender e torturar alguns padres, deu à Armênia um novo marspã, mas desistiu de impor o masdeísmo a seu novo protetorado.


Miniatura do século XV representando a batalha

Assim, na planície de Avarair, os armênios, ao perder uma batalha heróica salvaram sua fé.


Tal batalha é celebrada todo ano, no mês de fevereiro, numa grande cerimônia patriótica, a "festa de Vardan".

A história da Armênia possui inúmeros outros episódios memoráveis, todavia, julgamos importante destacar o papel que os armênios desempenharam no mundo pela ação de seus viajantes, de seus missionários, de seus emigrados, das colônias da diáspora, e, principalmente seu papel na preservação da cultura clássica.

Jean Pierre-Alem refere que os gôdos sofreram a influência dos armênios quando passaram pelas margens do Mar Negro, e foram provavelmente evangelizados por eles. Muitos reis e príncipes visigodos tinham aliás nomes armênios (Artavasdés).

No século XI, os missionários armênios difundiram-se até a longínqua Islândia.

Mas é a importância do povo armênio na preservação de parte considerável da cultura clássica que destacamos, fato que se inicia com base na invenção do alfabeto armênio, por volta de 405.

Antes dessa data, os armênios usavam o grego como língua literária, e o persa como língua administrativa, e, com a adoção de um alfabeto nacional foi sedimentada sua personalidade nacional, sua religião e a profunda vontade de independência, que tão magnificamente demonstraram ao longo de toda a sua dramática história.

Ryszard Kapuscinski, em sua obra Imperium comenta que vencido no campo, o exército armênio procurou pôr-se a salvo nos Scriptoria. O que são os Scriptoria? Podem ser celas monásticas, cabanas ou até mesmo cavernas. Nesses Scriptoria há sempre uma espécie de prancheta e um copista escrevendo de pé.

A consciência nacional armênia sempre esteve acompanhada pelo senso da ameaça de extermínio. E, ligado a isso, uma fervorosa necessidade de salvação, de pôr a salvo seu mundo.

Na impossibilidade de defendê-lo com a espada, então que se conserve a memória. Assim surge esse fenômeno único da cultura mundial: o livro armênio. Dispondo de um alfabeto próprio, os armênios sem demora começaram a escrever livros.





Já no século VI traduziram para o armênio toda a obra de Aristóteles. 


Até o século X haviam vertido a maioria dos filósofos gregos e romanos, centenas de títulos da literatura antiga.

Os armênios têm a mente aberta e grande capacidade de absorção. 


Traduziram tudo o que lhes caiu nas mãos. 

Grandes obras da literatura antiga e da cultura mundial chegaram até nós graças às traduções armênias.

Os copistas se lançavam sobre todas as novidades e logo as traziam para o gabinete.

Quando os árabes conquistaram a Armênia, os armênios traduziram todos os clássicos árabes.

Quando foi a vez dos persas, traduziram todos os autores persas.

Quando em disputa com Bizâncio, aproveitaram para levar tudo o que havia no mercado para traduzir.

Começaram a surgir bibliotecas inteiras. Deviam ser acervos imensos: em 1170, turcos saldjúquidas destroem em Snik uma biblioteca contendo 10 mil volumes. Eram todos manuscritos armênios.

Até os dias de hoje conservam-se 25 mil manuscritos armênios.

Desses, mas de 10 mil encontram-se em Ierevan, em Matenadaran. Quem quiser ver os restantes, terá que fazer uma volta ao mundo.

As maiores coleções encontram-se na Biblioteca São Jacó em Jerusalém, Biblioteca São Lázaro em Veneza e Biblioteca da Congregação Mekitariana em viana. Lindas coleções estão em Paris e Los Angeles.

E, aqui concluo a exposição relativa ao fato de que os armênios e seu  Martírio Vermelho preservaram não somente a fé, mas o conhecimento da civilização ocidental, em  meio ao naufrágio do mundo antigo.


Sugestão de leitura:

 “Lost Birds” uma outra forma de retratar o Genocídio Armênio
 
Livros

Fontes:

Jean Pierre-Alem, A Armênia, São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1961.
 

Ryszard Kapuscinski, Imperium, São Paulo, Companhia das Legras, 1994.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

PETER KREEFT ENSINOU: A ESSÊNCIA DO INFERNO É A VAIDADE


A essência do Inferno não é o sofrimento, 

mas a vaidade; 

não a dor, 

mas a falta de propósito; 

não o sofrimento físico, 

mas o espiritual. 

Dante estava certo ao colocar estes dizeres sobre os portões do Inferno: 

"Abandonai toda a esperança, ó vós que entrais".

 



O sofrimento não é a essência do Inferno porque é possível sofrer com esperança. 

Foi assim para Jo. 

Ele nunca perdeu a fé nem a esperança 

(que é a fé direcionada para o futuro), 

e seu sofrimento mostrou-se purificador, 

purgativo, 

educativo: 

deu-lhe olhos para ver a Deus. 

Esse é o porquê de estarmos na terra.

Finalmente, 

o Céu é o amor, 

porque o Céu é essencialmente a presença de Deus, 

e Deus é essencialmente amor (cf. Jo 4,8).


Peter Kreeft, Três filosofias de vida. Tradução de Magno Mesquita. Editora Quadrante. São Paulo, 2015, p. 10.

sábado, 12 de novembro de 2016

PETER KREEFT ENSINOU: A EXISTÊNCIA DO MAL REFUTA A TEORIA DA EVOLUÇÃO


...a mesma coisa que parece depor contra Deus

depõe também contra o ateísmo.

A própria existência do mal

prova a existência de Deus.


Eu explico como.

http://veja.abril.com.br/historia/israel/ciencia-teoria-big-bang.shtml

Se não houvesse um Deus,

um criador,

e nenhum ato de criação,

então nós e o nosso mundo

seríamos o que somos 

por simples e mera evolução.


http://mythologian.net/ouroboros-symbol-of-infinity/
E, se não houve nenhum ato de criação,

então o universo sempre existiu,

e não houve o ato inicial.

Mas se o universo tem se expandido 

por um tempo infinito

- e deve ter havido um  tempo infinito 

se não houve início,

um primeiro momento, 

um ato de criação -

então o universo 

já deveria ser perfeito a esta altura.


http://comarte.upf.br/?p=4208
Já houve tempo suficiente

para que a evolução fosse terminada.

Não deveria ter restado nenhum mal.


Gustave Doré, a Floresta dos Suicidas de Dante Alighieri, Inferno (Canto XIII).
De forma que a própria existência do mal,

da imperfeição e do sofrimento no universo

provam que os ateus estão errados 

em relação ao universo.

KREEFT, Peter. Buscar sentido no sofrimento. Tradução de Alexandre Patriarca. São Paulo: Edições Loyola, 1995, p. 40-1.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

PETER KREEFT ENSINOU: A UNIVERSALIDADE DO SOFRIMENTO

A universalidade do sofrimento, sua inutilidade, seu tédio, as mazelas da família e a solidão de não tê-la, o império do fingimento universal, melancolia, depressão, desespero, feiura e mediocridade, são elementos da banalidade do sofrer, mas, a partir deste momento, fique com Peter Kreeft:





Não é só o caso de o sofrimento não ser merecido; é que parece ser casual e inútil, sem nenhum motivo ou razão concreta; puro acaso, apenas espalhando o mal sem fim. Para todo aquele que se torna um herói e um santo por meio do sofrimento, há dez outros que parecem perder sua humanidade, tornar-se depressivos ou desesperados (p. 19-20)



E a universalidade do sofrimento – aí é que está a questão. Seu vizinho, seu melhor amigo, seu médico, seu mecânico, todos possuem mágoas profundas e abafadas das quais você nem chega a tomar conhecimento, da mesma forma que eles não conhecerão as suas. Todos, pelo mundo afora, estão sofrendo. E, se você não se apercebe disso, é porque ou é bastante ingênuo e acredita na aparência das pessoas, ou tem a pele tão resistente que não se magoa, nem sente a mágoa das outras pessoas em sua volta.



Não tenho a intenção de insultar ninguém; todos fingimos muito. Faz parte do nosso instinto animal tentar ocultar nossas feridas para que não nos façam sofrer mais. Da mesma forma que os animais cobrem suas feridas no corpo para se proteger, fazemos o mesmo com nossas feridas da alma. Estamos todos envolvidos em um grande fingimento universal.



Um aspecto dessa mágoa que todos carregamos é a família. Todos nascemos em uma família, e muitas pessoas depois se dedicam a construir novas famílias. A família é a primeira e mais íntima fonte de relacionamentos entre o eu e o outro. Mas essa fonte de nossos amores mais profundos é também fonte de nossas maiores mágoas. Se você faz parte de uma família, seja ela um lar destruído pelo divórcio, alcoolismo ou ressentimentos, seja ela unida, você sabe que aqueles mais próximos de você são os que mais o magoam, de forma deliberada ou não. E, se você não faz parte de uma família, você sabe como dói profundamente ser sozinho.



Olhe as pessoas nas ruas. Observe os seus rostos. Olhe mesmo. Especialmente na rua de uma grande cidade. Não há ali somente tráfego e confusão – isso nem é tão terrível; Jesus estava ocupado e correndo a maior parte do tempo também –, mas há sofrimento. Veja a linha dos rostos das pessoas, os músculos, a dureza, a tensão, sua maneira de olhar, o medo, a estupidez. “A grande massa dos homens leva a vida em calmo desespero”, escreveu Thoreau. (p. 20)



Fisicamente, as pessoas sofrem menos do que nunca em nosso século, especialmente nessa geração, graças em grande parte aos progressos da medicina. Existem anestésicos, uma das maiores invenções de todos os tempos. Já há cura para um número cada vez maior de doenças. A sociedade industrial oferece à maioria das pessoas uma vida confortável, uma vida que somente uns poucos ricos poderiam alcançar décadas atrás. Muitas pessoas chegam aos setenta ou oitenta anos de idade com menos de meia dúzia de ocasiões em que realmente tenham sentido uma dor, uma agonia insuportável. Há um século, seria sorte passar um único ano sem sentir uma dor que chamaríamos hoje em dia de alucinante. Imagine um mundo sem anestésicos. Pense bem. Quando foi a última vez que você sentiu a dor de uma espada cortando o seu braço? (p. 20-1)



E ainda assim as pessoas hoje se machucam bem mais psicológica e espiritualmente do que nunca. As taxas de suicídio explodem. A depressão aumenta. A violência desenfreada é moda. O tédio se espalha. (Na verdade, a própria palavra tédio não existia em nenhuma das línguas pré-modernas!) A solidão é crescente. E a procura da fuga por meio das drogas é cada vez maior.



[…]



Estamos fugindo de nós mesmos (ou tentando fugir, já que a única coisa da qual não conseguimos escapar, além do próprio Deus, é de nós mesmos) porque estamos todos magoados, bem no fundo dos nossos corações. Geralmente esse não é o tipo de sofrimento trágico, incomum, espetacular, mas um enorme manto escuro que se abate sobre nossas vidas como fuligem, cobrindo tudo de tédio, enfado, melancolia, feiura e mediocridade. Vivemos como robôs, obedientes à programação social que recebemos, sem nunca levantar as perguntas fundamentais de nossa existência. Nossas próprias paixões estão adormecidas. Vamos para a cama em obediência à publicidade carregada de sexo, e pulamos da cama em obediência aos alarmes dos relógios. Não temos quase nenhum motivo para sair da cama e quase todos os motivos para deitar nela. (p. 21)

KREEFT, Peter. Buscar sentido no sofrimento. Tradução de Alexandre Patriarca. São Paulo: Edições Loyola, 1995.

PETER KREEFT ENSINOU: A DISTINÇÃO ENTRE O NIRVANA E O ÁGAPE





Peter Kreeft na obra Buscar sentido no sofrimento distingue o Nirvana de Buda do Ágape de Cristo, este como exercício espiritual de amar o "eu" mediante o amor fraternal que me conecta ao meu próximo, enquanto que as Quatro Verdades Nobres regem um método com a finalidade de extinguir o sofrimento humano mediante a "eutanásia espiritual" do próprio "eu" pessoal, com a "redução do desejo a zero".


Afinal! O sofrimento é algo que devemos extinguir ou algo com a qual devemos conviver... troque a palavra "sofrimento" pelo pronome "eu" e faça seu próprio julgamento. 

Segue a citação, que relata quando Buda decidiu investigar o porquê do sofrimento a seu próprio modo, no que foi seguido pelos seus primeiros cinco discípulos, e: 
Peter Kreeft

“... se sentou sob uma árvore, a árvore sagrada de Bo, ou Árvore da Iluminação, na postura de lótus, determinado a não se levantar até ter encontrado a solução para o enigma. Quando finalmente se ergueu, proclamou: “Eu sou o Buda”; e anunciou suas Quatro Verdades Nobres.

Essas Verdades compõem os fundamentos do budismo. Quando um discípulo pediu a Buda respostas para outras questões importantes, ele o advertiu de que apenas as Quatro Verdades Nobres são necessárias. Elas são:

1. A vida é sofrimento (dukkha: termo que designa um osso ou eixo fora de encaixe, quebrado, afastado de si mesmo). Nascemos em sofrimento, vivemos em sofrimento, morremos em sofrimento. Ter o que não se quer ter, e não ter o que se quer ter, isso é sofrimento.

2. A causa do sofrimento (e aqui Buda finalmente decifra seu enigma) é o desejo (tanha: ambição, vontade, egoísmo). O desejo gera distância entre ser e satisfação; essa separação é sofrimento.

3. A maneira de acabar com o sofrimento é eliminar o desejo. Tal estado é o Nirvana (extinção). Remova a causa, e estará removendo o efeito. O mundo tenta acabar com a distância entre desejo e satisfação pr meio do aumento da satisfação, e nunca obtém sucesso. Buda toma o caminho oposto: reduzir o desejo a zero.

4. A maneira de eliminar o desejo é o Nobre Caminho Óctuplo da redução do ego. A vida é dividida em oito aspectos, e em cada um deles o discípulo experimenta uma libertação, simplificação e purificação graduais. É um caminho que dever durar toda a vida; tudo o mais é posto a serviço da redução do desejo para se alcançar o Nirvana, a eliminação do sofrimento.

Eu não sou budista. Não consigo evitar encarar o Nirvana como uma eutanásia espiritual, matando o paciente (o ego, eu eu, o si mesmo) para curar a doença (egoísmo, egotismo). O budismo elimina o “eu” que odeia e faz sofrer, sim; mas esse é também o “eu” que ama. A compaixão (karuna) é uma das maiores virtudes budistas, mas não o amor (agape). Buda parece simplesmente não ter consciência da possibilidade de existência do amor fraternal, do desejo fraternal, da paixão fraternal, do ego fraternal.

Apesar de tudo, não posso deixar de respeitar a paixão pessoal de Buda de decifrar seu enigma, e da mesma forma admirar seu método – que implica nada mais, nada menos que a transformação da natureza humana. Ninguém mais além do próprio Jesus propôs um método tão radical. E Jesus também encarou de frente o real problema do sofrimento e propôs uma solução radicalmente diferente.

KREEFT, Peter. Buscar sentido no sofrimento. Tradução de Alexandre Patriarca. São Paulo: Edições Loyola, 1995, p. 13-4.

domingo, 23 de outubro de 2016

PETER KREEFT ENSINOU: BUSCAR SENTIDO NO SOFRIMENTO.



Este livro é para todos aqueles que já choraram por algum motivo e se questionam sobre várias coisas. Isso inclui todos os que já nasceram. Pois estas são as duas maiores atividades humanas. São elas que nos distinguem dos animais, dos computadores e dos anjos.

Será que os animais choram? Não sei. Talvez não. Talvez todas as lágrimas dos animais sejam apenas "lágrimas de crocodilo". Mas mesmo que chorem, eles não se questionam sobre nada. Não há nenhum animal filósofo, e o questionamento é a origem de toda filosofia, de acordo com os três grandes filósofos, Sócrates, Platão e Aristóteles. Quando os animais sofrem, eles simplesmente sofrem. Eles poderiam cantar uma canção assim: "Que importa querer saber? O importante é viver e morrer?".

Nenhum computador, ou outra forma de inteligência artificial, chora ou se questiona. Os computadores não choram porque não sentem dor; não têm sentimentos, físicos ou espirituais. E os computadores não raciocinam, nem fazem perguntas. Eles só fazem o que você os programa para fazer. Não se questionam a respeito dos programas que carregam, a menos que você os programe para fazer isso, mas ainda assim eles vão acabar não questionando esse último programa. Nós também fomos programados pela nossa hereditariedade e ambiente, mas estamos sempre questionando a nossa programação. Duvidamos. A dúvida é excelente. Só acredita quem duvida, da mesma forma que só tem esperança aquele que se desespera, e só ama quem sabe odiar.

Não há nenhum anjo, espírito, deus ou deusa que sofra ou questione, chore ou duvide. Os espíritos puros não possuem fibras nervosas por todo o seu corpo, e a mente pura nunca cantou um verso como "Devaneio enquanto caminho sob o céu". Os animais sabem muito pouco para poder fazer perguntas; os deuses, por sua vez, sabem demais.

Apenas nós, os humanos, choramos e questionamos. Este livro questiona por que choramos - e por que sofremos.

KREEFT, Peter. Buscar sentido no sofrimento. Tradução de Alexandre Patriarca. São Paulo: Edições Loyola, 1995, p. 26-7.