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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

AS CORES DA BANDEIRA DO BRASIL


A escolha de nossas cores nacionais não foi um mero capricho do Príncipe Regente. É que o significado das cores elegidas para representar um grupo, um povo ou uma nação, tem sempre profundas raízes históricas que a tradição mantém vivas.



O VERDE - Do verde, como cor distintiva de um povo, há referências que remontam a mais de dois mil anos. Segundo velhas crônicas, os antigos lusitanos arvoraram uma bandeira quadrada branca, servindo de campo a um dragão verde. O curioso é que esta figura mitológica, vencendo as barreiras do espaço e do tempo, iria aparecer no projeto da nossa primeira Bandeira Nacional, criada por Debret, em 1820. E mais: perduraria até nossos dias, como emblema regimental dos nossos Dragões da Independência.




Por que o verde fora escolhido pelos lusitanos, uma aguerrida raça de pastores, simples, mas ardorosos amantes da liberdade, os mais fortes dentre os mais fortes dos iberos? Seria a lembrança natural da cor dos ramos que por primeiro agitaram como insígnia? Os dos majestosos carvalhos das encostas da Serra da Estrela, onde o legendário Viriato comandara a heróica resistência de seu povo contra as legiões romanas? O certo é que o verde, desde aqueles tempos ancestrais, lembra as lutas libertárias, as grandes conquistas e, acima de tudo, a esperança e a liberdade.


Viriato, Rei dos Lusitanos


Na sua agitada guerra contra os mouros, os portugueses adotaram o verde primitivo dos lusos como suas cores nacionais e este era o matiz da famosa "Ala dos Namorados", a destemida vanguarda de sua Cruzada. Verde era igualmente o estandarte de Nun'Álvares, arvorado na batalha de Aljubarrota.





Verde seria, muito tempo depois e nestes sertões do Novo Mundo, o pendão do nosso bandeirante Fernão Dias Pais Leme, o Governador das Esmeraldas.




O AMARELO - Desta cor se sabe que passou a figurar, a partir de 1250, no brasão de armas de Portugal, logo depois da conquista do Algarve. Assim, em ouro (amarelo), são os castelos que representavam as fortalezas tomadas aos mouros. O amarelo recorda, ainda, as cores do Reino de Castela, ao qual, por muito tempo, Portugal pertenceu, até sua independência. E uma esfera armilar de ouro sobre campo azul vem compor as armas do Reino do Brasil.




Em 29 de setembro de 1823, o nosso agente diplomático junto à Corte de Viena descrevera a Metternich a bandeira do novo Império do Brasil. Sobre as suas cores dissera que D. Pedro I escolhera o verde por ser esta a cor da Casa de Bragança; e a amarela, "a Casa de Lorena, que usa a Família Imperial da Áustria". A Casa de Bragança procedia de D. Pedro I, antes mesmo de rei, quando ainda simples mestre da Casa de Avis. Aquela Casa reinaria durante 270 anos, desde 1640 até o fim da monarquia portuguesa, em 1910.

O verde é a cor da figura principal do nosso primeiro brasão, as Armas do Estado do Brasil - inspirado na árvore que lhe deu nome.


Bandeira da Fundação

O AZUL E O BRANCO - A referência mais antiga sobre estas cores vem de fins do século XI, quando foram adotadas como cores do Condado Portucalense, fundado em 1097. D. Henrique de Borgonha criou, com insígnia, uma bandeira também chamada Bandeira da fundação: uma cruz esquartelando um campo branco em partes iguais.




São estas mesmas as cores que o seu filho, Afonso Henriques, levará à batalha do Ourique, arvoradas na bandeira paterna. Após as primeiras vitórias sobre os mouros, Afonso Henriques lhe modifica o desenho mas mantém as cores, o mesmo azul-e-branco que Luís de Camões defendeu como soldado e exaltou como poeta, "braços às armas feito, mente às Musas dado".


Bandeira das Quinas

Nos séculos XV e XVI, as naus portuguesas ostentam, ao lado da bandeira oficial, muitas outras de caráter mais restrito: além da bandeira da Ordem de Cristo, a mais importante é a do Comércio Marítimo, que consta de um campo azul com 5 besantes de prata. Besantes são figuras heráldicas que assim se chamam por simularem as "moedas de Bizâncio", as antigas moedas bizantinas de outro e prata. Esta bandeira - a do Comércio Marítimo, ou das Quinas - aparece em dos primeiros mapas do Brasil, feito em 1534.



LUZ, Milton. A história dos símbolos nacionais: a bandeira, o brasão, o selo, o hino. Senado Federal: Distrito Federal, 1999, p. 16-17

domingo, 20 de agosto de 2017

VIRIATO E A LUTA LUSITANA CONTRA ROMA, por Césare Cantú



Na Espanha ulterior, P. Cornélio Cipião, Póstumo e outros mais (195-179) subjugaram os lusitanos, os turdetanos e os vacianos (Portugal, Lião e Andaluzia), e os romanos puderam vangloriar-se de terem subjugado tôda a Península.

Porém um domínio de ferro não permitia que a paz ali durasse um longo tempo. Os romanos consideravam a Espanha como esta, séculos depois considerou a América, isto é, como um país de que se tratava de tirar a maior quantidade de ouro possível. O triunfo mais glorioso era o do general que trazia mais dêste metal em barras. Além disso, os procônsules mandados àquela província para lá conterem êsses leões encadeados, porém não domados, ali saciavam a sua própria avareza, exercendo o monopólio de cereais e causando a fome no país.

Os vencidos encontraram um vingador no lusitano Viriato. A guarda dos rebanhos e a caça tinham feito dêle um excelente chefe de bandos. Êle conhecia tôdas as passagens, a menor sebe, o fôsso mais ínfimo; um instante lhe bastava para reunir sua gente que também ràpidamente dispersava. Apenas acabava de se bater contra o inimigo no fundo de um vale, logo o viam provocá-lo por insulto no alto de alguma montanha. Auxiliado pelos povos da Espanha citerior e principalmente pelos numantinos, êle dirigiu as suas vistas para um ponto mais elevado do que poderia esperar dum chefe de guerrilhas e se decidiu a confederar os lusitanos com os celtíberos, único meio, para a Espanha, de poder fazer frente aos romanos.

Guiando os seus, de vitória em vitória, derrotou sucessivamente cinco pretores. Porém Metelo, o Macedônio, o mesmo que dizia: Se minha túnica soubesse o penso, queimá-la-ia, frase muitas vêzes repetida depois, se lhe opôs com êxito.  Tendo um dos principais cidadãos de Nertobriga, cercada então pelos romanos, saído da cidade para se lhes entregar, os sitiados, para dêle se vingarem, colocaram sôbre a muralha sua mulher e seus filhos, expondo-os aos tiros do inimigo; porém Metelo mandou suspender o ataque e renunciou a uma conquista certa. Êste ato de humanidade atraiu ao seu partido a Espanha terragonesa que se apressou a submeter-lhe. Porém, no meio dos seus triunfos, soube que era chamado a Roma e que lhe davam por sucessor Quinto Pompeu, homem obscuro e seu inimigo particular. Longe de ter a generosidade de sacrificar o seu ressentimento ao interêsse público, êle procurou desanimar o exército, deixando esgotar os armazéns, morrer os elefantes e até mandando quebrar os dardos. Contudo, existia ainda um corpo de exército temível se Pompeu não tivesse comprometido o estado das coisas pela sua temeridade; de tal modo qu Viriato conseguir cercar o procônsul Fábio Serviliano. Êle teria podido passar suas legiões a fio da espada; ofereceu-lhe, contudo, a paz com a única condição de que os romanos, guardando o resto da Espanha, o reconheceriam senhor do país sôbre o qual dominava. O senado confirmou o tratado e Viriato adquiriu assim o que desejava, um reino independente à custa da república romana.

Teria podido tornar-se o Rômulo da Espanha, porém, Servílio Cipião, cônsul sem consideração, solicitou de Roma a permissão de romper a paz; obteve-a e, vendo que não conseguia por meio dos pequenos insultos por êle postos em prática, impelir Viriato a uma ruptura, declarou-lhe abertamente a guerra, sem razão nem pretexto e devastou o país. Depois de diversas alternativas, Viriato viu-se obrigado a pedir a paz. Cipião, exigindo-lhe que entregasse os que tinham excitado certas cidades à revolta, êle se submeteu a essa infame condição, ainda que seu sogro fôsse do número dos exigidos, e sofreu que lhes cortassem a mão direita; porém, quando o cônsul, tornado mais audaz, exigiu que desarmasse as suas tropas, Viriato, retomando a sua cólera varonil, recomeçou as hostilidades. Contudo, como não desesperava de obter a paz, não cessava de enviar ao cônsul oficiais encarregados de se entenderem com êle. Cipião corrompeu alguns dêles que assassinaram o valente lusitano. Voltaram ao campo dos romanos para reclamarem sua recompensa; porém o cônsul lhes respondeu que os generais de Roma estavam pouco dispostos a recompensar os assassinos do seu próprio general, e que o mais que podia fazer era conceder-lhes as vidas. Pela sua vez o senado recusou as honras do triunfo ao infame Cipião.

Césare Cantu, História Universal, vol. 04, São Paulo: Editora das Américas, 1961, p. 435-8

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

É BOM CITAR: CASA GRANDE & SENZALA II

Gilberto Freire, Casa-grande & senzala: 
formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 
51ª ed. rev. - São Paulo: Global, 2006.

O planisfério de Cantino, 1502


...o português sempre pendeu para o contato voluptuoso com mulher exótica. Para o cruzamento e miscigenação. Tendência que parece resultar da plasticidade social, maior no português que em qualquer outro colonizador europeu. (p. 265)

Iracema (1881), tela do pintor José Maria de Medeiros inspirada na personagem de José de Alencar
...o português de Quinhentos e de Seiscentos, ainda verde de energia, o caráter amolengado por um século, apenas, de corrupção e decadência. (p. 266)

Painéis de São Vicente de Fora - Nuno Gonçalves (1420-1490)
...no que o português se antecipou aos europeus foi no burguesismo. (p. 266)

O português fez-se aqui senhor de terras mais vastas, dono de homens mais numerosos que qualquer outro colonizador da América. (p. 267)

Eram as 13 capitanias hereditárias: Capitania do Maranhão, Ceará, Rio Grande, Itamaracá, Pernambuco, Baía de Todos os Santos, Ilhéus, Porto Seguro, Espírito Santo, São Tomé, São Vicente, Santo Amaro e Santana. Fonte: http://www.dicasfree.com/capitanias-hereditarias-resumo-completo/#ixzz4IIh9FLg4

...fundou a maior civilização moderna nos trópicos. (p. 267)

A unificação moral e política realizou-se em grande parte pela solidariedade dos diferentes grupos contra a heresia... (p. 269)

Nossas guerras contra os índios nunca foram guerras de brancos contra peles-vermelhas, mas de cristãos contra bugres. (p. 269)

http://www.tribunadainternet.com.br/foro-privilegiado-e-uma-excrescencia-que-prejudica-a-atuacao-do-supremo/
Criminoso ou escravo fugido que se apadrinhasse com senhor de engenho livrava-se na certa das vias da justiça ou da polícia. (p. 271)

Pintura de Victor Meirelles (1861)
Nossa formação social, tanto quanto a portuguesa, fez-se pela solidariedade de ideal ou de fé religiosa, que nos supriu a lassidão de nexo político ou de mística ou consciência de raça. (p. 271)

domingo, 19 de junho de 2016

É BOM CITAR: CASA GRANDE & SENZALA

D. Afonso I
...colonizador português do Brasil.
 

Figura vaga,
falta-lhe o contorno

ou a cor que a individualize
 
entre os imperialistas modernos

O tipo contemporizador.

Nem ideais absolutos,

nem preconceitos inflexíveis.



(Gilberto Freire, Casa-grande & senzala, p. 265)

Nuno Álvares Pereira, o Condestável
Tanto nas Cruzadas 

como nas guerras de independência 

esse concurso [de estrangeiros] 

se fez sentir de maneira notável.
 

É o que explica no português 

não só seu nacionalismo quase sem base geográfica 

como o cosmopolitismo.

Cosmopolitismo favorecido, esse sim, em grande parte, pela situação geográfica do reino: 


a de país largamente marítimo, 

desde remotos tempos variando de contatos humanos.

Por um lado, 


recebendo em suas praias sucessivas camadas 

ou simples, mas frequentes, 

salpicos de povos marítimos.
 

Por outro lado, indo seus navegantes, 

pescadores e comerciantes às praias 

e águas alheias comerciar, 

pescar e farejar novos mercados.


(Gilberto Freire, Casa-grande & senzala, p. 274)

Na falta de grandes fronteiras naturais ou físicas,

defendendo-se de agressões e absorções,

tiveram os portugueses de entesar-se 


em muralhas vivas, de carne,

contra o imperialismo muçulmano

e mais tarde contra o de Castela


(Gilberto Freire, Casa-grande & senzala, p. 273)
O Direito português iniciou-se, 

não sufocando e abafando 

as minorias étnicas dentro do reino 

- os mouros e os judeus - suas tradições e costumes,

mas, reconhecendo-lhes a faculdade de se regerem 


por seu direito próprio 

e até permitindo-lhes magistrados à parte,

como mais tarde no Brasil colonial, 

com relação aos ingleses protestantes.
(Gilberto Freire, Casa-grande & senzala, p. 274)

quinta-feira, 21 de abril de 2016

CULTURA MELANCÓLICA?




O litoral atlântico da Penísula Ibérica sempre foi um ponto de passagem das grandes civilizações ocidentais, por lá, sucessivamente, transitaram fenícios, gregos, celtas, romanos, godos e muçulmanos, resultando numa misceginação, não só biológica, mas, principalmente, e, num alto grau, de natureza cultural. 

Celtas 
D'entre todos os povos europeus, o que habitava a beira do atlântico da Ibéria, o futuro povo português, foi o mais permeável, pois absorveu todos os impactos culturais, e foi mais impertubável, pois por nenhuma das neoculturas consumou-se a absorção deste povo costeiro a ponto de eliminar uma certa identidade autárquica, uma certa identidade, uma certa "saudade" do solo da língua portuguesa, que como dizia o poeta Olavo Bilac, tem "o trom e o silvo da procela / e o arrôlo da saudade e da ternura".


E, assim, no decorrer dos séculos e milênios de intercâmbio, livre ou forçado, o povo português desenvolveu uma cultura capaz de absorver as energias culturais de todos os povos com os quais manteve contato, sem que com isso se tornasse um espelho, um mero reflexo, pois ao receber as cores culturais alheias, transmutou-as a tal ponto que aportuguesadas tornaram-se. 

Em síntese, a cultura que se originou em Portugal padece de um caso incurável de abertura e síntese, pois não discrimina nada e por nada se sujeita, a todos acolhe e a nenhum rejeita, mas, tudo o que absorve definitivamente, de uma vez por todas, torna-se parte da cultura portuguesa. 



Com este pano de fundo, podemos analisar a cultura forjada na velha Portugal, como sendo uma cultura melancólica, que sente saudades, mas não sabe por que. 

Leve-se em conta que apesar de sempre haver permanecido um núcleo mínimo de identidade da nação portuguesa, não há que se negar que em certa medida, o homen português, sofreu infinitas mutações culturais em sua formação, o que, paulatinamente, forjou um tipo humano inconstante, dado a extremos de exaltação e de depressão. 

Aristóteles 
Em termos aristotélicos a nação portuguêsa, aí se incluindo todos os falantes da "última flor do lácio", é, ela inteira, em maior ou menor grau, uma "civilização melancólica". 

Colacionamos o diagnóstico presente no problema número trinta do Sábio de Estagira, em que Aristóteles se pergunta: 

"Por que razão todos os que foram homens de exceção, no que concerne à filosofia, à ciência do Estado, à poesia ou às artes, são manifestamente melancólicos, e alguns a ponto de serem tomados por males dos quais a bile negra é a origem" (935, a, 10). . 

Parafraseando esta célebre questão, afirmo que a nação portuguesa, enquanto civilização milenar que é, é melancólica, porque é dotada de uma genialidade, de uma sabedoria prática, de uma "phronesis", que a torna individualmente um universo próprio, aberto enquanto sistema, a todas as influências, e fechado enquanto cultura, pois esse sistema aberto funciona como um "corpo negro ideal" como descrito pela física, ou seja, absorve todas as energias e cores circundantes, mas, continua inabalável, continua sendo português, por sinal, toda e qualquer cultura viva tem esta qualidade em certo grau, ocorre que a nossa a tem em grau exacerbado. 

O indivíduo médio pertencente ao universo cultural que se originou em Portugal, e, que forjou o núcleo da nacionalidade brasileira, é um ser ambíguo, pois participa de todas as culturas e não pertence a nenhuma, é como se o tipo humano português transitasse das culturas mais "quentes" até as mais "frias", e vice-versa, sem grandes dificuldades. 


Pode-se dizer que a marca indelével dos povos de língua portuguesa é exatamente esta presença de uma certa constante da inconstância, de estabilidade de um quadro de instabilidade, em suma, o homem gerado pela cultura portuguesa, incluindo-se aí o brasileiro e demais falantes do inculto e belo português, participam, potencialmente, de todas as variáveis culturais identificáveis, pois a todos se assemelha, sem que se converta em nenhum outro, é um paradoxo que muito desvela, pois indica uma vitalidade essencial à sobrevivência de um povo em tempos de homogeneização mundial das culturas.

Bibliografia:

COELHO, Werner Nabiça. Cultura Melancólica?. Universo Jurídico, Juiz de Fora, ano XI, 27 de jun. de 2003.

Disponivel em: < http://uj.novaprolink.com.br/doutrina/1391/cultura_melancolica >. Acesso em: 21 de abr. de 2016.