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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

SOBRE A LINGUAGEM E A ONTOLOGIA DE OLAVO DE CARVALHO

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A teoria dos quatro discursos do Olavo de Carvalho foi estabelecida com base na filosofia aristotélica da linguagem presente nas obras sobre poética, retórica, dialética e lógica, que o Sábio de Campinas descreve como o verdadeiro "Organon", uma vez que acrescente os livros sobre poética e retórica ao organon clássico, pois bem, referida teoria é a descrição das quatro dimensões essenciais da linguagem, que por sua vez possui fundamentação ontológica na teoria do intuicionismo radical, que também é uma proposta explicativa do Olavo sobre o ato de conhecer a realidade por meio do testemunho direto dos sentidos e da inteligência.

Ora, se o ato de perceber é um ato da intuição sensível que apreende de forma imediata a realidade, então este é o fundamento da forma primeva de linguagem em sua conformação poética, que se trata da percepção que alimenta diretamente a imaginação com figuras extraídas da realidade em sua forma bruta e multifacetada.

Portanto, a descrição imaginativa da realidade funda o nascimento da narrativa mitológica e simbólica, uma realidade grávida de significados, em que a manifestação da linguagem poética produz visões totalizantes da realidade, cujo conteúdo é apreendido todo de uma vez pela intuição humana, composta de sentidos e intelecto.

Assim, vivencia-se a linguagem em níveis progressivos de especialização do foco de atenção conforme o avanço da realidade social e cultural, uma vez que a linguagem quanto mais precisa implica em grande perda de abrangência, e é evidente que a poesia gera diversas interpretações, cujo debate faz nascer a discussão retórica, ou seja, enquanto a linguagem mito-poética possui um caráter sacro e revelado como verdade oriunda da divindade, esta manifestação linguística, paulatinamente, gera a criação de um debate teológico ao ponto de estimular opiniões extremadas entre a defesa reacionária da fé e o mais puro ceticismo ateu, restando a cada pessoa o esforço de escolher um posição.

A comunicação humana trafegando pela parcialidade retórica das opiniões em conflito busca o convencimento político-social de partidos a favor e contra um determinado símbolo que gera interpretações divergentes.

A linguagem retórica se faz necessária em face da necessidade prática de ações sociais de natureza decisória entre crer ou descrer a respeito de algo ou alguém, pois entre duas interpretações possíveis uma deverá ser escolhida por quem tem o dever de decidir.

A linguagem retórica emerge da vida social e tem o potencial de alimentar e gerar o conflitos, fato este que merece ser ordenado segundo um critério que estabeleça a prudência e a moderação nas relações humanas, tal critério operacionaliza-se em um princípio ordenador que é a busca da veracidade do conhecimento, pois a verdade é o atributo do conhecimento considerado irrefutável, e por isso se torna consensual, dada sua eficácia na realidade vivida.

Ao homem é destinado a pena eterna de sofrer da sede de conhecimento, por isso necessita racionalizar o processo de comunicação e decisão, o que naturalmente gera a necessidade da instauração do processo dialético que ordena o debate com o objetivo de favorecer a busca da verdade suficiente para promover a justiça e a certeza diante dos dilemas da vida, o processo dialético é imparcial na medida em que adota critérios de julgamento considerados válidos para as partes em debate, uma vez que o diálogo destina-se a investigar a realidade em busca de conclusões determinadoras da veracidade do objeto sujeito ao escrutínio, formulando-se comparações analógicas, distinções conceituais e determinando-se a pertinência das conclusões com a realidade fática.

A técnica das distinções conceituais progride com a linguagem dialética, que por sua vez se aprofunda e avança em conclusões consideradas lógicas, uma definição é considerada lógica quando é encontrada eventual resposta certa para um determinado problema, enquanto que a dialética suscita a descoberta de conclusões irrefutáveis ou aporias insondáveis e desvela diversos paradoxos merecedores de análise e estudo mais aprofundados, a lógica ocupa-se de proceder demonstrações com base nas ferramentas conceituais depuradas pelo debate dialético.

O discurso lógico é linguagem na qual se realiza a demonstração da validade e veracidade do conhecimento e para investigar paradoxos derivados de raciocínios lógicos, e, quando se chega neste nível da linguagem, cuja tendência é se tornar auto referente, é neste momento em que a chave ontológica do intuicionismo radical deve ser reiterada, uma vez que a intuição (percepção) fundamental da realidade concreta que é percebida pelos sentidos e pela inteligência, servirá para evitar que nos lancemos na armadilha mais perigosa na qual pode cair um cultor estrito da lógica: o idealismo abstracionista puro, a fonte do ceticismo e do niilismo.

O uso exclusivo da linguagem lógica em sua busca de certeza nos conduz ao esquecimento da existência que se faz presente ao nosso redor, é o ensimesmamento absoluto que embrutece a emburrece, uma vez não devemos esquecer nunca que a linguagem é meramente uma ferramenta que nos habilita a viver em meio à existência, não é a linguagem uma realidade em si mesma, nem é uma coisa em si.

A beleza que emerge da ordem aristotélico-olavista descreve a realidade intuitivamente capitada por meio do devido processo linguístico, em um processo explicativo que gira virtuosamente entre realidade e linguagem, que se enraíza no concreto existir rumo à abstração sobre a realidade, possibilita-nos refazer o processo explicativo da linguagem abstrata como ferramenta que conduz a consciência a encontrar sua unidade no conhecimento, que por sua vez alimenta a unidade da consciência ao considerar a realidade viva em nosso entorno.

A linguagem é uma ferramenta da inteligência que habita nossas almas e nos permite a busca pela Verdade.

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

LINGUAGENS NATURAIS E LINGUAGENS RACIONAIS


A teoria dos quatro discursos do Olavo de Carvalho descreve quatro níveis da linguagem, sendo que os dois primeiros níveis são naturais no sentido orgânico de desenvolvimento, e os dois últimos são intencionais, racionais, técnicas de apuração da veracidade dos níveis anteriores, e, mesmo, capazes de transcendê-los intelectualmente.

A linguagem poética é a linguagem da imaginação inicialmente mitológica, depois artística, em que o possível em seu infinito de formas é descrito pela imaginação humana em todo o seu potencial criativo para o absurdo e para sublime.

A poética também possui uma origem social e orgânica, sua existência advém da religião fundadora da cultura, sua existência é sustentada pela fala, é a tradição oral de todos os povos que aprendem a falar declamando seu temor ao deus venerado em seus ritos.

A retórica é um desenvolvimento crítico e individualizado da linguagem, é uma tomada de posição individual, é fruto do desenvolvimento social que culmina na política, na necessidade de escolhas entre possibilidades não mais imaginativas, mas que tenham um caráter de factibilidade, é o choque da idéia com a realidade e a necessidade de se adotar uma ação diante desta realidade.

A poética é natural ao desenvolvimento orgânico da sociedade em seu ponto de vista de coletividade, e a retórica é o desenvolvimento orgânico da opinião individual diante da necessidade de se adotar ações que não podem ser abrangidas somente pela imaginação poética, a retórica é a linguagem que orienta prática política e social quando a religião já não apresenta todas as soluções.

Quando a poética sofre questionamento há o nascimento da retórica, mas, a própria retórica gera uma nova discussão, e esta é filosófica, é o questionamento da verdade, o que implica na criação da dialética, e esta por sua vez ao conseguir conclusões e certezas remete para a linguagem da ciência, a lógica, uma linguagem que não trabalha com perguntas, mas que gerencia respostas, com base em certezas.

Logo, enquanto as linguagens poética e retórica surgem dentro de uma perspectiva orgânica para atender necessidades coletivas e individuais, a dialética e a lógica são conquistas de mentes focadas na busca da verdade, com a criação de metodologias apoiadas em princípios da razão e orientados pela vontade de revelar um nível de realidade superior àquela vislumbrada pela imaginação sem freios ou pela ambição social sem limites.

Werner Nabiça Coêlho - 21/08/2017

sábado, 19 de agosto de 2017

UMA DISTINÇÃO ENTRE OS NÍVEIS DOS DISCURSOS


Uma breve distinção entre os níveis da linguagem na Teoria dos Quatro Discursos de Olavo de Carvalho.

O nível poético da linguagem é o mais concreto, no sentido de percepção direta da realidade em seu caráter simbólico.

O nível retórico é a introdução da subjetividade da doxa, onde alguém pretende que sua opinião prevaleça.

O nível dialético é o embate entre doxas divergentes, na busca de veracidade passível de demonstração racional.

Veja-se que o problema é que a veracidade racionalizadora está em potência desde o nível poético, ela é possível de muitas formas, quantas forem as possibilidades interpretativas, é o reino das possibilidades criativas.

No nível retórico há um fator político de imposição de idéias com base na verossimilhança do argumento.

Quando uma idéia passa pela depuração da disputa dialética, que se propõe eliminar incongruências e inconsistências do discurso, processam-se as descobertas das verdades que serão utilizadas pela lógica.

A lógica por sua vez é somente um nível da linguagem na qual já se está na posse de verdades científicas, e com base nessas conquistas alcançadas nas etapas anteriores.

Na linguagem lógica se estabelece um tipo de reducionismo, pois do reino do possível presente na poética passou-se para do verossímil, e deste para o verídico racional extraído da dialética, num processo constante de precisão da linguagem, o que diminui a abrangência do símbolo, tanto que a lógica é a fonte da matemática em seu processo silogístico.

Portanto, não pode o menos (a lógica) gerar o mais (o símbolo).

O símbolo é uma realidade ontológica e a linguagem é uma realidade epistemológica, sendo a lógica uma linguagem técnica e científica de verificação de validade silogística de certas realidades passíveis de tal avaliação em abstrato.

Werner Nabiça Coêlho - 19/08/2017