domingo, 23 de outubro de 2016

- SÉRIE O HOMEM CORDIAL - EMOÇÕES SÃO RAZÕES


Afinal o que leva a nacionalidade brasileira a produzir homens cordiais, numa sociedade em que são tecidas teias de relacionamentos por meio de emoções, em detrimento do cálculo racional puro e simples?

Sérgio Buarque de Holanda faz duras críticas ao nosso cordialismo, por considerá-lo a origem de nosso atraso, nosso sentimentalismo seria o fator que não permitiria que o Estado assuma seu papel transcendental em relação à família, com o estabelecimento de uma burocracia racionalista e impessoal, na qual o bem público seria antagônico aos interesses familiares.

Entre os efeitos desejados pelo célebre sociólogo de Raízes do Brasil, com a superação de nossa prevalência emotiva, seria o fim da entidade familiar patriarcal, considerada por Sérgio Buarque de Holanda como um verdadeiro óbice ao progresso, por ser uma base social primitiva a impedir o pleno desenvolvimento da civilização moderna brasileira, sob o Trópico de Câncer.

É irônico que Sérgio Buarque de Holanda lance mão do exemplo da cultura ritualística japonesa para contrapor ao nosso informalismo cordial.

O povo japonês é amante do rito.

Pode-se dizer numa perspectiva mimética (René Girard) que a cultura japonesa é um exemplo perfeito de mediação externa a partir do sagrado ritualista, que preserva o modelo arcaico xintoísta amalgamado com inúmeras influências externas que foram absorvidas e harmonizadas para o contexto japonês.

O povo brasileiro, por outro lado, é um exemplo de delicado equilíbrio de mediação interna, na qual o informalismo predomina nas relações sociais, precariamente suspensa pela mediação externa possibilitada pela cultura de origem lusa fundamentalmente impregnada de valores cristãos.

O nosso informalismo gera um elevado nível de hipocrisia social vigente, traduzida em sentimentalismos e desejo de intimidade para com o próximo, este elemento de emotividade é um hábito arraigado em todos os aspectos da vida social, como uma constante empatia fruto da valorização de elementos morais fortemente cristãos, oriundos de nossa formação cultural atávica lusa e cruzada.

O elemento de cordialidade é uma dimensão essencial do cidadão luso-brasileiro, cuja existência tem sido testada por séculos de adversidades sócio-políticas, resultantes de um processo de formação populacional resultante de sucessivos processos de conquistas, de submissão forçada de uma diversidade de povos e de dominação de territórios imensos, que foram milagrosamente consolidados por um poderoso, e corrupto, Estado Moderno, que exerceu de forma pioneira, na Idade Moderna, o poder absoluto sem freios e contrapesos durante séculos, pois devemos lembrar que Portugal já estabelecera um Estado Nacional já no século XIV.

E, assim, o ser cordial é um tipo de caráter humano desenvolvido como uma estratégia de sobrevivência, forjado num ambiente hostil e desafiador, na qual as relações de fundo emocional são um tipo de salvaguarda à instabilidade reinante nas instituições, e, mesmo que parte deste estado de coisas seja fruto da própria antropologia da cordialidade, não é sua origem primeira, pois a própria cordialidade é uma forma de racionalidade, em que o indivíduo se arma de inteligência emocional, como uma estratégia social, que evoluiu por séculos e se mostrou eficaz, ao ponto de estabelecer as bases da cultura lusa, e de muitas nacionalidades, entre elas a nossa.

Na expressão de Robert C. Solomon não sabemos "o que é uma emoção e que é realmente um assunto a ser explorado com curiosidade e expectativa" (Solomon, p. 24), e destas faço minhas as palavras para dizer o mesmo sobre o homem cordial, cujos elementos emoção/razão entretecidos de forma complexa e eficaz não podem se ignorados em sua mútua correlação, pois a emoção:

"É uma forma de interagir com outra pessoa (situação ou tarefa) e um modo de situar-se no mundo" (Solomon, p. 41).

Werner Nabiça Coêlho - 02/09/2016

Excertos:

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(Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), O homem cordial; seleção de Lilian Moritz Schwarcz. 1ªed. - Sãu Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012.)

Na civilidade há qualquer coisa de coercitivo - ela pode exprimir-se em mandamentos em sentenças. (p. 52)

Entre os japoneses, onde, como se sabe, a polidez envolve os aspectos mais ordinários do convívio social, chega a ponto de confundir-se, por vezes, com a reverência religiosa. Já houve quem notasse esta fato significativo, de que as formas exteriores de veneração à divindade, no cerimonial xintoísta, não diferem essencialmente das maneiras sociais de demonstrar respeito. (p. 53)

Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualística da vida do que o brasileiro. Nossa forma ordinária de convívio social, é, no fundo, justamente o contrário da polidez. Ela pode iludir na aparência - e isso se explica pelo fato da atitude polida consistir precisamente em uma espécie de mímica deliberada de manifestações que são espontâneas no "homem cordial": é a forma natural e viva que se converteu em fórmula. (p. 53)

Além disso a polidez é, de algum modo, organização de defesa ante a sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica do indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, de peça de resistência. Equivale a um disfarce que permitirá a cada qual reservar intatas sua sensibilidade e suas emoções. (p. 53)

Por meio de semelhante padronização das formas exteriores da cordialidade, que não precisam ser legítimas para se manifestarem, revela-se um decisivo triunfo do espírito sobre a vida. Armado dessa máscara, o indivíduo consegue manter sua supremacia ante o social. E, efetivamente, a polidez implica uma presença contínua e soberana do indivíduo. (p. 53)

***

(Robert C. Solomon, Fiéis às nossas emoções: o que elas realmente nos dizem; tradução de Miriam Gabaglia de Pontes Medeiros. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.)

...emoções são processos que por sua própria natureza, levam tempo e podem, de fato, continuar ininterruptamente. Não são necessariamente conscientes. (p. 22)

Um grande problema é nossa tendência a pensar em uma emoção como um evento psicológico separado. (p. 22)

Uma emoção é um processo complexo que engloba vários e diferentes aspectos da vida de uma pessoa, incluindo interações e relações com outras pessoas, bem como seu bem-estar físico, ações, gestos, expressões, sentimentos, pensamentos e experiências semelhantes. (p. 22)

...gostaria de iniciar com a opinião - hesitante e irônica que posse ser - de que nós não sabemos o que é uma emoção e que é realmente um assunto a ser explorado com curiosidade e expectativa. (p. 24)

A ORIGEM DA LINGUAGEM E A TEORIA MIMÉTICA


Eugen Rosenstock-Huessy e René Girard são desbravadores da origem mimética da linguagem.


Eugen Rosenstock-Huessy deduz a origem ritual da própria linguagem, e René Girard descobre o fundamento antropológico do rito.

Eugen Rosenstock-Huessy descreve a necessidade de um tamanho poder do rito, que este criou o tempo, a ordem, nomeou e vestiu de tradição o homem, e René Girard revela que este poder é fonte de nosso desconforto com a civilização, erigida sobre séculos e séculos de assassinatos rituais, de crimes que permitiram que com o sacrifício de poucos muitos prosperassem, o bode expiatório é o herói, o demônio e o deus da religião arcaica, que foi criada pelo ritual primário dos sacrificadores.

Eugen Rosenstock-Huessy percebe que linguagem e religião são um e mesmo fenômeno, origem criadora do que conhecemos e do que somos, René Girard descreve com a crise mimética, que esta origem está no pecado original do assassinato fundador, e na maturidade de sua obra revela que a verdade evangélica nos libertou da ilusão do poder da morte.

A revelação cristã ao ensinar que a vítima do sacrifício era a única inocente no drama do ritual, a religião antiga dos sacrificadores perdeu assim sua beleza estética sagrada, na qual os mitos e lendas sangrentas foram substituídos pela consciência da própria violência, é o início da condição de possibilidade para o sujeito não ser escravizado pelo mecanismo mimético e ser capaz de perdoar, ao custo de sacrificar a própria hibris, pois revelou-se com Cristo uma hubris que nega a solução sacrificadora.

Eugen Rosenstock-Huessy refere que a linguagem foi criada pela repetição de gritos, grunhidos, urros e choros, e René Girard descreve o processo genético desta transformação, com o modelo da Teoria Mimética, na qual a violência expulsa a violência, uma sagrada outra profana, mecanismo que se consolida por infinitas repetições rituais, que possibilitam a paz necessária para uma comunidade estabelecer um padrão de linguagem verbal, que supere as limitações da linguagem animal.

A origem da linguagem estudada por Eugen Rosenstock-Huessy se encontra com o mimetismo comunicacional, que cria e doma a violência, e nesse processo, a linguagem é criada pelo rito, que cria a religião, que com Cristo recria a linguagem mimética, cuja origem profana e violenta torna-se sagrada e poética não mais com a celebração da morte, mas com a afirmação da vida e da inocência do cordeiro sacrificado.

Werner Nabiça Coêlho - 02/09/2016

A TEORIA DOS QUATRO DISCURSOS


A articulação do conhecimento é processada de infinitas formas e por meio de inúmeras ferramentas.

Um realista ingênuo como este escriba pode decidir-se a percorrer o caminho da linguagem tal como sugerido por Aristóteles, em especial na forma tão ricamente traduzida por Olavo de Carvalho, num crescendo que sai da raiz fincada no complexo da realidade, um contínuo espaço temporal tornado em realidade discreta pela percepção sensível, que se projeta por meio de imagens em sonhos, que transladam a linguagem poética e sua unicidade estética.

O gosto artístico rompe-se em divergências opinativas, e a política surge das posições retóricas que geram conflitos pelo predomínio de uma das idéias.

A necessidade de auto-conservação permite o estabelecimento de regras normativas à discussão, o que torna a briga em debate, e a discussão em dialética, num torneio desportivo em que o juiz é a razão que a tudo se propõe a igualar.

E, por fim, quando os contendores se dão por satisfeitos estabelece-se o texto que regerá a opinião comum dos doutores, que sob a desculpa de criar teses científicas, acaba por coisificar a linguagem já tornada toda nua de suas roupagens primaveris, mas não menos carregada de mitologia, pois idéia regida pela imaginação permaneceu.


E esta é a Teoria dos Quatro Discursos na qual Olavo de Carvalho definiu o Organon Aristotélico como uma articulação, dinâmica na chave evolutiva e estática na análise descritiva, de Poética, Retórica, Dialética e Analítica, como quatro espécies de linguagem que se justapõem e se entrelaçam no vórtice da comunicação.

Werner Nabiça Coêlho - 02/09/2016

PETER KREEFT ENSINOU: BUSCAR SENTIDO NO SOFRIMENTO.



Este livro é para todos aqueles que já choraram por algum motivo e se questionam sobre várias coisas. Isso inclui todos os que já nasceram. Pois estas são as duas maiores atividades humanas. São elas que nos distinguem dos animais, dos computadores e dos anjos.

Será que os animais choram? Não sei. Talvez não. Talvez todas as lágrimas dos animais sejam apenas "lágrimas de crocodilo". Mas mesmo que chorem, eles não se questionam sobre nada. Não há nenhum animal filósofo, e o questionamento é a origem de toda filosofia, de acordo com os três grandes filósofos, Sócrates, Platão e Aristóteles. Quando os animais sofrem, eles simplesmente sofrem. Eles poderiam cantar uma canção assim: "Que importa querer saber? O importante é viver e morrer?".

Nenhum computador, ou outra forma de inteligência artificial, chora ou se questiona. Os computadores não choram porque não sentem dor; não têm sentimentos, físicos ou espirituais. E os computadores não raciocinam, nem fazem perguntas. Eles só fazem o que você os programa para fazer. Não se questionam a respeito dos programas que carregam, a menos que você os programe para fazer isso, mas ainda assim eles vão acabar não questionando esse último programa. Nós também fomos programados pela nossa hereditariedade e ambiente, mas estamos sempre questionando a nossa programação. Duvidamos. A dúvida é excelente. Só acredita quem duvida, da mesma forma que só tem esperança aquele que se desespera, e só ama quem sabe odiar.

Não há nenhum anjo, espírito, deus ou deusa que sofra ou questione, chore ou duvide. Os espíritos puros não possuem fibras nervosas por todo o seu corpo, e a mente pura nunca cantou um verso como "Devaneio enquanto caminho sob o céu". Os animais sabem muito pouco para poder fazer perguntas; os deuses, por sua vez, sabem demais.

Apenas nós, os humanos, choramos e questionamos. Este livro questiona por que choramos - e por que sofremos.

KREEFT, Peter. Buscar sentido no sofrimento. Tradução de Alexandre Patriarca. São Paulo: Edições Loyola, 1995, p. 26-7.

domingo, 16 de outubro de 2016

PETER KREEFT ENSINOU: O MISTÉRIO DO "EU"!


Platão "reencarnou", sabe, aquele negócio de metempsicose (gr. μετεμψύχωσις, meta “alem de”,psique “alma”), e foi batizado Peter Kreeft para criar novos diálogos socráticos, e entre "As melhores coisas da vida", Sócrates dialoga sobre o mistério do "eu", trechinho que agora compartilho:

"PETER: Então, por que devemos falar em "pessoa"? Por que não apenas computadores?

SÓCRATES: Porque para uma tal cadeia de programação precisamos de um primeiro programador não programado, ou um programador que possa questionar sua programação e dar início a novos programas. Alguém deve empurrar a primeira peça do dominó.

PETER: Isso soa como um novo argumento para a existência de Deus.

SÓCRATES: O mesmo princípio funciona tanto num caso como no outro. É o princípio de causalidade, que diz que você não pode dar aquilo que não tem, que efeitos não podem existir sem as causas adequadas, que não pode haver menos na causa total do que no efeito. Esse princípio parece exigir a existência de uma causa primeira, tanto para a natureza como para a inteligência, natural ou artificial.

PETER: Eu não sei quanto a Deus. Vamos falar de algo que nós conhecemos: nós mesmos.

SÓCRATES: Algo que você conhece, talvez. Quanto a mim, eu acho o eu um mistério, do mesmo modo como acho Deus um mistério.

PETER: Eu pensei que o seu lance era justamente o "conhece-te a ti mesmo".

SÓCRATES: E é. E por que você acha que eu ainda estou nessa, passados tantos anos?

PETER: Por que é tão difícil conhecer-te a si mesmo, Sócrates?

SÓCRATES: Porque o eu  é o próprio cognoscente. Como pode o sujeito tornar-se seu próprio objeto? Como pode o eu tornar-se um isto? É por isso também que eu acho Deus um mistério. O eu humano é uma imagem do Eu divino.

PETER: mas a ciência cibernética resolveu esse problema. Sócrates. Agora nós sabemos como pensamos. Os mistérios estão se abrindo à luz da ciência.

SÓCRATES: É mesmo? Então, por favor conte-me, e dê cabo de minha busca infindável: o que é o eu?

PETER: Você não havia dito que o eu era a alma? Foi isso que eu aprendi sobre você na minha aula de filosofia.

SÓCRATES: Sim.

PETER: E a alma é a mente, sim?

SÓCRATES: Não apenas a mente, mas a mente é ao menos o olho da alma, sua luz.

PETER: Tudo bem, vamos aceitar essa qualificação, por enquanto. E a mente é o cérebro. Daí se conclui que o eu é o cérebro. E agora nós sabemos como funciona o cérebro. Assim, nós hoje nos conhecemos graças à ciência cibernética.

SÓCRATES: Opa,  opa. Você foi rápido demais. Você tirou essa última premissa de debaixo da mesa.

PETER: Qual?

SÓCRATES: A de que a mente é o cérebro.

PETER: Qual a diferença entre mente e cérebro, então?

SÓCRATES: A mente usa o cérebro, como um programador usa o computador. Meu computador interno não é mais eu do que qualquer outro de meus computadores externos, ou seja, eu apenas estou mais intimamente conectado a ele.

PETER: Isso está ficando abstrato demais para mim. Você pode dizer a mesma coisa, só que mais concretamente?

SÓCRATES: Hummm. Se o meu argumento simples não o pode ajudar, talvez outra pessoa o consiga. Alguém que complique e force um pouco o assunto.

PETER: Como assim? Como podemos entender o complexo mais facilmente que o simples?

SÓCRATES: A simplicidade é, frequentemente, a coisa mais difícil do mundo, o ponto final a ser alcançar. [...]"
Peter Kreeft


KREEFT, Peter. As melhores coisas da vida: um Sócrates moderno lança seu olhar sobre o poder, o prazer, a verdade e a boa vida. Tradução de Felipe Lesage. Campinas - SP: Ecclesiae, 2016, pp. 58-60.

É BOM CITAR: BENTO XVI E O SUBJETIVISMO CARTESIANO


A humildade de quem estuda está em reconhecer que se existe uma boa idéia esta já foi pensada anteriormente, lá pelas tantas, depois de escrever muito sobre o subjetivismo cartesiano, deparo-me com estas passagens de nosso Papa Bento XVI, citado pelo Padre Fabiano Micali, D'Oratório na introdução à obra "O Purgatório" do Padre Faber:

[...] "nenhum homem é uma mônada fechada em si mesma. As nossas vidas estão em profunda comunhão entre si; através de numerosas interações, estão concatenadas uma com a outra. Ninguém vive só. Ninguém se salva sozinho. Continuamente entra na minha existência a vida dos outros: naquilo que penso, digo, faço e realizo. E, vice-versa, a minha vida entra na dos outros: tanto para o mal como para o bem (Spes Salvi, n. 48)" (p. 23)

[...] "vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que toma com última medida apenas o próprio eu e as suas vontades" [...] "segundo o qual tudo equivale e não existe verdade alguma, nem qualquer ponto de referência absoluto, não gera a verdadeira liberdade, mas instabilidade, desorientação, conformismo às modas do momento" [...] "ameaça ofuscar a verdade imutável a respeito da natureza do homem, do seu destino e do seu bem derradeiro" (p. 24)

Frederick William Faber

Padre Fabiano prossegue referindo que "uma visão redutiva da realidade ao 'afirmar que o ser humano nada pode conhecer com certeza, para além do campo científico positivo'" (loc.cit.), e que:



"Um homem cuja medida da sua existência é a técnica, é um homem condenado os limites da sua técnica; condenado aos seus limites, condenado a si próprio. E com não é natural que encontre toda a sua satisfação em si mesmo, este homem está condenado à sua insatisfação; e, finalmente, à solidão, à angústia e também ao desespero. Porque a liberdade e a dignidade humana não são bens que se possam viver pela metade. Ou tudo ou nada! É impossível ao homem construir sua vida com dignidade e, ao mesmo tempo, mantê-la em liberdade sob o relativismo, que reduz o homem à total dependência de si próprio, ou seja, à escravidão de si próprio." (loc.cit.)

FABER, Frederick William. O Purgatório. Tradução de Antônio Emílio Angueth de Araújo - Campinas, SP : Eclesiae, 2013. 






sábado, 8 de outubro de 2016

HEINLEIN'S THE MAN: SOBRE TRIBUNAIS E DEMOCRACIA


Hã? Quem pensas que és? Um advogado?

Sou melhor do que um advogado; a minha mente não está atulhada de precedentes. Posso ser criativa. (p. 24)



– Porque não vamos simplesmente ao tribunal e dizemos a verdade?

Johnnie, não tens conserto. Se isso bastasse, não haveria tribunais. (p. 37)

É essa a lei? - perguntou ele duvidoso.

Oh, despacha-te! A lei é tudo aquilo de que conseguires convencer um tribunal. (P. 38)


Não gosto de adiamentos à última hora, Sr. Comissário. Sempre me pareceu injusto ordenar a gente ocupada que se reúna num sítio, à sua própria custa, e com muito incómodo pessoal, e depois dizer-lhes que voltem num outro dia. Não cheira muito a justiça. (p. 43)


Permita-me que explique. Nós, cuja profissão é jogar com as palavras, sabemos o pouco valor que estas têm. O paradoxo só pode existir em palavras, nunca nos factos que lhes estão por trás. […] 


Mas conseguimos manter uma forma republicana de governo e manter costumes democráticos. Podemos orgulhar-nos disso. Mas não é uma autêntica democracia, nem pode ser. Considero ser nosso dever manter esta sociedade unida enquanto se adapta a um mundo estranho e aterrador. Seria agradável discutir cada problema, fazer uma votação, mais tarde repeti-la se se provar que o julgamento coletivo estava errado. Mas raramente é assim tão fácil. A maior parte das vezes estamos na situação dos pilotos de uma nave em caso de emergência de vida ou de morte. Será obrigação do piloto fazer palestras aos passageiros? Ou será sua obrigação usar a sua habilidade e experiência para os trazer a salvo para casa? (p. 186)
HEINLEIN, Robert. A. O monstro do espaço. Tradução de Inez Busse. Publicações Europa-América, lda.: Mira-Sintra Mem-Martins, s/d