Wolfgang Smith |
"Ora, ocorre que, mesmo de um ponto de vista
estritamente científico,
a concepção reducionista do observador
acaba enfim por ser indefensável.
Tomemos o caso da percepção visual:
mantendo-se de acordo com a opinião predominante,
Hawking supõe que a visão se reduz a uma função do cérebro.
Ele nos conta, por exemplo, que o cérebro humano
"lê uma gama bidimensional de dados
vindos da retina e cria a partir deles,
a impressão de um espaço tridimensional" (47).
Esse preceito, porém, já foi desafiado criticamente
por um cientista empírico chamado James Gibson,
http://slideplayer.es/slide/5404573/ |
com base em descobertas experimentais
coletas por meio do que, talvez até hoje,
foi a pesquisa mais exaustiva acerca da natureza
da percepção visual.
O que os experimentos de Gibson trouxeram à luz
foi o fato decisivo de que
a percepção não se baseia em uma imagem retiniana
(como haviam quase todos presumido),
e sim em informações dadas no arranjo ótico ambiente,
que especifica, entre outras coisas,
a estrutura tridimensional do ambiente.
http://es.slideshare.net/pepeh/63-teora-sobre-la-percepcion-del-ambiente-victor-hugo-castillo |
Parece que nosso sistema visual
não foi projetado simplesmente para receber imagens retinianas,
mas para vasculhar esse arranjo ótico ambiente
e extrair dele aquilo que Gibson chama de invariantes.
São essas invariantes que, em verdade, são percebidas,
o que significa que o percepto não é construído,
e sim objetivamente real;
não está meramente "dentro da mente", mas fora dela,
como a humanidade, com efeito, sempre supusera.
Isso quer dizer que o que é percebido
não é uma imagem visual, seja retiniana, cortical ou mental,
e que a chamada terceira dimensão,
em particular,
não é diferente das outras duas;
ela não precisa ser construída
- por meio de um processo que ninguém,
mesmo remotamente, jamais foi capaz de conceber - ,
mas, com efeito, é percebida diretamente,
assim como todas as invariantes.
Embora amplamente discutido e jamais refutado,
[...] as descobertas empíricas de Gibson
bastam para invalidar
a concepção reducionista do observador humano,
sobre a qual a noção de realismo modelo-dependente se baseia."
SMITH, Wolfgang. Ciência e mito: com uma resposta a O Grande Projeto, de Stephen Hawking. Tradução Pedro Cava. 1.ed. CEDET: Campinas, 2014, p. 226-7.
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