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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

COM DESCARTES O ESPÍRITO INCOMENSURÁVEL FOI AFASTADO EM FAVOR DO "CORPO" QUE PENSA


Descartes, em suas Meditações Metafísicas, quando se lança em sua hipótese de ceticismo radical quanto à realidade e objetividade do mundo afirma que sentiu como se “tivesse caído em águas muito profundas” uma vez que pressupunha que "que todas as coisas que vejo são falsas”, mas, socorre-se de sua própria existência corporal e sensória para afirmar que é desnecessária a existência de "Deus, ou alguma outra potência" para a produção do próprio pensamento, uma vez que o próprio sujeito é capaz de produzi-los por si mesmo, e, assim, o ceticismo radical é afastado pela constatação: "Eu então, pelo menos, não sou algo? [...] Sou de tal forma dependente do corpo e dos sentidos que não posso existir sem eles? [...] então não me persuadi de que eu não existia? Decerto não, eu existia sem dúvida” (p. 42), e prossegue em sua autoafirmação existencial: “Não há dúvida, então, de que eu sou” [...] “Eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeiro todas as vezes que a pronuncio ou que a concebo em meu espírito” (p. 42-3).

Vale ressaltar que Descartes ao questionar o que é o homem foge das sutilezas sensoriais e espirituais, pois permanece cético quanto à realidade percebida pelos sentidos, e, por considerar enganosa tal realidade que se revela complexa, prossegue seus argumentos com fundamento no reducionismo simplificador da realidade, mediante a adoção dos dados matematizáveis, e desenvolve o conceito de corpo com base no critério de estrita mensuração espacial, uma vez que compreende corpo como "tudo o que pode ser delimitado por alguma figura” (p. 45), e assim, o corpo possui os seguinte atributos:

- Ocupa um lugar;
- Preenche um espaço;
- Exclui outros corpos;
- É objeto dos sentidos;
- É móvel por força exterior.

Todavia, o corpo não possui em si a potência de mover-se, de sentir e de pensar, e por isso Descartes afirma que “espantava-me por ver que semelhantes faculdades se encontravam em certos corpos” (p. 45), pelo que define as seguintes distinções entre os atributos da alma e do corpo:

- Alimentar-se e locomover-se (corpo);
- Sentir (corpo);
- Pensar (alma).

Por um momento podemos considerar que a perspectiva cartesiana está nos remetendo para a vida da alma, que por sua vez imprime a consciência no corpo, todavia, tal perspectiva não existe para Descartes, pois, por mais que o mesmo afirme que a alma humana nada mais é que "uma coisa que pensa, ou seja, um espírito, um entendimento ou uma razão” (p. 46), o caráter espiritual se desfaz quando o raciocínio de Cartesius define que a alma e seu processo de pensamento é derivado da imaginação, estritamente oriunda de impressões sensoriais corporais, uma vez que “imaginar não é outra coisa senão contemplar a figura ou a imagem de uma coisa corporal” (p. 47), neste sentido, a própria vida do pensamento, que por sua vez constitui a vida da alma, é uma derivação de percepções sensoriais empíricas derivadas da contemplação da figura ou imagens corporais, de corpos extensos, de "res extensa".

Com Descartes o espírito foi afastado em favor do "corpo", ou melhor dizendo, o espírito, a alma e o pensamento foram considerados como meras imanências corporais, tais flatulências do pensamento desenvolveram-se a tal ponto que hoje somos ensinados sobre a "morte de Deus" e a dialética do espírito da história como corpo social em desenvolvimento, ou da matéria corporal mesmo, como se fossem verdades do pensamento, quando na verdade são meros peidos verborrágicos de corpos perdidos no ceticismo sofístico de nossos tempos reducionistas.

Referência:

DESCARTES, René. Meditações metafísicas. 2. ed. Introdução e notas Homero Santiago. Tradução Maria Ermantina Galvão. Tradução dos textos introdutórios Homero Santiago. São Paulo: Martins Fontes, 2005

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

WOLFGANG SMITH: A TEORIA ECOLÓGICA DA PERCEPÇÃO VISUAL DE GIBSON

Wolfgang Smith

"Ora, ocorre que, mesmo de um ponto de vista 

estritamente científico, 

a concepção reducionista do observador 

acaba enfim por ser indefensável.

Tomemos o caso da percepção visual: 

mantendo-se de acordo com a opinião predominante, 

Hawking supõe que a visão se reduz a uma função do cérebro. 

Ele nos conta, por exemplo, que o cérebro humano 

"lê uma gama bidimensional de dados 

vindos da retina e cria a partir deles, 

a impressão de um espaço tridimensional" (47). 

Esse preceito, porém, já foi desafiado criticamente 

por um cientista empírico chamado James Gibson, 

http://slideplayer.es/slide/5404573/

com base em descobertas experimentais 

coletas por meio do que, talvez até hoje, 

foi a pesquisa mais exaustiva acerca da natureza 

da percepção visual. 

O que os experimentos de Gibson trouxeram à luz 

foi o fato decisivo de que 

a percepção não se baseia em uma imagem retiniana 

(como haviam quase todos presumido), 

e sim em informações dadas no arranjo ótico ambiente, 

que especifica, entre outras coisas, 

a estrutura tridimensional do ambiente. 

http://es.slideshare.net/pepeh/63-teora-sobre-la-percepcion-del-ambiente-victor-hugo-castillo

Parece que nosso sistema visual 

não foi projetado simplesmente para receber imagens retinianas,

mas para vasculhar esse arranjo ótico ambiente 

e extrair dele aquilo que Gibson chama de invariantes. 

São essas invariantes que, em verdade, são percebidas, 

o que significa que o percepto não é construído, 

e sim objetivamente real; 

não está meramente "dentro da mente", mas fora dela, 

como a humanidade, com efeito, sempre supusera. 

Isso quer dizer que o que é percebido 

não é uma imagem visual, seja retiniana, cortical ou mental, 

e que a chamada terceira dimensão, 

em particular, 

não é diferente das outras duas; 

ela não precisa ser construída 

- por meio de um processo que ninguém, 

mesmo remotamente, jamais foi capaz de conceber - , 

mas, com efeito, é percebida diretamente, 

assim como todas as invariantes.




Embora amplamente discutido e jamais refutado, 


[...] as descobertas empíricas de Gibson 

bastam para invalidar 

a concepção reducionista do observador humano, 

sobre a qual a noção de realismo modelo-dependente se baseia."


SMITH, Wolfgang. Ciência e mito: com uma resposta a O Grande Projeto, de Stephen Hawking. Tradução Pedro Cava. 1.ed. CEDET: Campinas, 2014, p. 226-7.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

SER, CONHECER E SABER - PRINCÍPIO, MEIO E FIM DO HOMEM

Bombassaro (1993: 21-23) define saber como poder manusear, poder compreender, poder dispor[...] o saber está vinculado ao mundo prático[...]. Portanto, a investigação do saber como conceito epistêmico remete ao prático , enquanto que conhecer geralmente refere-se a algo com o qual temos uma experiência direta e até pessoal , e, que a diferença específica entre estas categorias reside no fato de que "conhecer" parece indicar uma convivência do falante com aquilo do qual se fala , enquanto que o saber é experiência indireta, pois é possível dizer que se sabe algo acerca de algo ou alguém sem que isto implique uma experiência direta com aquilo do qual se fala .

Em síntese, teremos que o conhecimento é apreensão cognitiva de natureza subjetiva, pessoal, direta e abrangente, que o sujeito realiza sobre a realidade, enquanto que o saber é um vínculo objetivo com a realidade, um saber fazer empírico, indireto e parcial que deve ser convertido em conhecimento.

Em outra perspectiva Giovanni Reale (1995: 55) firma a diferença entre metafísica e ciências particulares ao considerar que a metafísica considera o "inteiro" do ser, ao passo que as ciências particulares consideram apenas "partes" específicas do ser .

Com base na afirmação da existência do saber metafísico, definimos que o conhecimento parte da objetividade sensível, passa pela coleta de indícios e provas inteligíveis que descrevem e explicam esta realidade, e, ao fim, com a depuração dialética das diversas teses explicativas revelam-se os princípios ordenadores, que possibilitam a compreensão cada vez mais aprofundada do ser, possibilitando maiores conhecimentos, favorecendo, sobre tudo, que o amor ao saber frutifique em mais conhecimentos, pragmáticos e teóricos, estes destinados à contemplação do bom, do belo e do justo, e aqueles destinados a concretizar tais anseios e ideais.

Logo, o conhecimento é fruto da apreensão do ser inteligível, partindo-se inicialmente do sensível que tem por fim revelar as leis e princípios que aproximam o humano da sabedoria, filosofia e ciência, contemplação e ação. Portanto, para saber, devemos conhecer o ser.

Referências

BOMBASSARO, Luiz Carlos. As fronteiras da epistemologia – como se produz o conhecimento . 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1992.

REALE, Giovanni. O saber dos antigos – terapia para os tempos atuais. São Paulo: Edições Loyola, 1995.

Texto confeccionado por
(1)Werner Nabiça Coelho

Atuações e qualificações
(1)Advogado. Especialista em Direito Tributário e Professor da Faculdade Metropolitana da Amazônia - FAMAZ.
Bibliografia:

COELHO, Werner Nabiça. SER, CONHECER E SABER - PRINCÍPIO, MEIO E FIM DO HOMEM. Universo Jurídico, Juiz de Fora, ano XI, 22 de mar. de 2006.
Disponivel em: < http://uj.novaprolink.com.br/doutrina/2517/ser_conhecer_e_saber__principio_meio_e_fim_do_homem >. Acesso em: 21 de abr. de 2016.