segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

A MATEMÁTICA É UMA ABORDAGEM REDUCIONISTA DO SER.



Euclides no Livro VII da obra "Os elementos" define que:

1. Unidade é aquilo segundo o qual cada uma das coisas existentes é dita uma.

2. E número é a quantidade composta de unidades.


(EUCLIDES. Os elementos; tradução e introdução de Irineu Bicudo. São Paulo: Editora UNESP, 2009, p. 269-270.)

Todavia, a realidade objetiva é constituída de forma contínua, nada está separado de nada, pois se alguma coisa há (na definição de Mário Ferreira dos Santos que pode ser encontrada aqui), esta não admite descontinuidade.

Mas, a mente precisa separar para compreender, essa separação é operada mediante a transformação da realidade contínua em realidade discreta, e assim gera-se o conceito de número.

O número é, portanto, uma abstração com base em dados mensuráveis, o conceito de quantidade é um relativo discreto diante de um absoluto contínuo.

A série de números é uma série de abstrações, que desconsideram os aspectos qualitativos do real, e se centram numa abordagem que reduz a continuidade da totalidade por meio de idéias que visualizam aspectos parciais do todo.

O número é uma pequena forma, uma fórmula, que reduz uma realidade extremamente mais complexa.

Logo, a matemática é um tipo de idioma que aborda a realidade com uma linguagem redutora dos objetos a seus aspectos quantitativos, com base numa abstração operada por símbolos, que significam quantidade mensuradas de forma discreta.

Ou seja, números matemáticos são pedaços do real extraídas abstratamente de uma realidade concreta e contínua.

Há um permanente processo de raciocínio lógico na matemática, pois a sua própria aceitação necessita de alguns passos que podem ser enumerados assim:

a) abstração de uma realidade concreta e contínua por meio de criação de um símbolo que representa uma determinada quantidade discreta e abstrata, o conceito de número;

b) criação de um idioma específico (figuras geométricas, números romanos, números árabes) que traduzam os conceitos em padrões transmissíveis de linguagem;

c) descrição de fenômenos e hipóteses com base no princípio quantitativo e abstrato, por meio de sofisticados processos de raciocínios lógicos.

Portanto, o método da ciência matemática é uma redução de um aspecto da realidade, basta lembrar que a matemática tem suas limitações, ela não é a ferramenta adequada para avaliações morais, ou estéticas, a matemática é uma forma especializada de avaliação de dados quantitativos.

Seus limites devem ser reconhecidos, para se evitar a utilização indevida em áreas na qual seu uso é inadequado, temos que lembrar os diversos aspectos da realidade não tangenciados pelo estudo meramente quantitativo.

A ciência, seja a que tem por objeto os números, ou outra qualquer, possui sua linguagem previamente limitada pelo seu objetivo, e, assim, é insuficiente para descrever o todo do real, neste sentido que a filosofia, a religião, a arte, e outras formas de manifestação do conhecimento humano são essenciais para a a preensão e compreensão da realidade.

Não compreender tais circunstâncias implica em grave limitação cognitiva, na forma de uma limitação radical de somente ser capaz de apreender "abstrações" como se fossem objetos reais, é um vício de entendimento à moda kantiana, com toques de compulsão cartesiana de considerar a vida do pensamento como a única forma de vida do ser pensante, não acreditar em realidade objetiva e não considerar que todo dia todo cidadão tem que evacuar outras coisas que não sejam pedantismos pueris! 

O número matemático é uma representação de aspectos discretos (no sentido de separação mental de partes de um todo objetivo), e por isso é possível fazer ciência, todavia, ressalvo que a escolha do aspecto quantitativo do real é insuficiente para responder à maioria absoluta dos problemas da vida.

A questão da harmonia musical e da ordem da realidade em sua expressão matemática, cifras e dados, são elementos descritivos, são linguagens abstratas, pois nas partituras e medidores há a total ausência de emoção, tonalidade e cor, o aspecto qualitativo escapa à descrição matemática, a música e a física não são os "números em si", são meramente a tradução em símbolos de manifestações físicas da realidade.

O caráter abstracionista é um axioma do processo de redução, operado na metodologia matemática, e demais metodologias científicas, afinal, é o estudioso que pretende traduzir em linguagem, seja em prosa, em verso, ou em matemática, um dado do real e não o contrário.


Werner Nabiça Coêlho - 30/11/2016

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