O Jardim das Delícias, de Bosch |
A visão da vítima da alienação ideológica continua percebendo a realidade, só que essa percepção fica distorcida com base em preconceitos e idealizações, assim sendo, um socialista acreditará que tudo é criado com base na economia, o libertário defenderá a vontade e o desejo sem limites, o reacionário defenderá um passado anacrônico e já morto e enterrado, e até um suposto "isentão" demonstrará um ceticismo invencível, para justificar sua neutralidade. Por mais que tudo ao redor indique outros caminhos e outras possibilidades de ação, mesmo assim, os alienados ideológicos permanecem presos aos seus padrões fixos de pensamento, uma vez que a ideologia funciona como um depósito de fé e de dogmas, são alienados aqueles que perderam a imaginação alimentada pelo real, e com isso a liberdade de ação, pois substituíram a realidade concreta por meras idéias abstratas, arbitrárias ou parciais, que julgam ser sistemas explicativos sobre toda a realidade, são incapazes de considerar o imponderável e o mistério que habitam entre nós.
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O problema do liberalismo, quando encarado como uma ideologia, está na visão parcial que adota um cunho materialista, hedonista e imediatista, na qual o orgulho individual é elevado ao patamar da divindade, a terminologia assume um caráter místico que em termos econômicos se manifesta com expressões como a "mão invisível", que é tal qual a "coisa em si" kantiana, ambos são meros torneios de linguagem que escamoteiam o medo visceral de tudo aquilo de transcende ao vocabulário padrão do grupo, é sem tirar nem por o mesmo fenômeno que ocorre nos demais coletivos ideológicos
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Não existe mundo dos negócios sem aquela confiança mútua fundada em valores éticos tradicionais como a honestidade, afinal a mentira é um pecado
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O Mercantilismo e demais formas de intervenção do Estado na economia são dignidades atribuíveis à Idade Moderna
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A Idade Média Católica Apostólica Romana criou todo o Direito Comercial e todo o Sistema Financeiro atuais, e nem precisaram ser libertários
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"Liberdade", "Estado" e "indivíduo" são meras ferramentas conceituais, cujas existências são coetâneas e fazem parte de uma unidade que chamamos de realidade, portanto, não podem ser tratadas como melhores ou piores que as pessoas que as operam
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É possível afirmar-se que cada pessoa ao possuir uma alma imortal está submetida somente à Divina Providência, e qualquer tentativa de controlar o destino sagrado de cada alma é uma violação da liberdade do próprio Ser, cujos caminhos são potencialmente infinitos, como infinitas são suas criações, por mais que hajam condicionantes transcendentais (sociais, físicas e biológicas) que limitam a existência de cada pessoa, eventualmente, tais limitações podem ser superadas por meio da inteligência que herdamos de nossa paternidade divinal e transcendente.
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O liberalismo não é moral no sentido cristão, pois se prende ao conceito de felicidade, cuja manifestação material é o prazer, é mais uma escola epicurista
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Liberalismo é somente uma das vertentes secundárias da filosofia moderna de corte cético e materialista originada em Cartesius
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O liberal ao defender a pura e simples soberania do indivíduo acaba por fomentar a possibilidade da defesa socialista da soberania totalitária do super-individuo denominado Estado, uma vez que a liberdade de agir de ambos não encontra limites que os transcendem
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Liberalismo é a ideologia de subverteu a palavra "liberdade" da mesma forma que o socialismo destruiu a palavra "justiça"
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O liberalismo quando adotado na forma de ideologia implica na relativização dos valores, não sou contra a liberdade econômica, mas tal liberdade não necessita de uma ideologia para existir
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Se Cristo fosse liberal Ele não açoitaria os cambistas do Templo
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O problema não é a defesa da liberdade, o problema é a proposição do bruto materialismo como se fosse o fundamento da liberdade
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Liberalismo é a religião do materialismo com apelos ao humanismo
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Liberal sonha em se libertar de limites morais tradicionais, pois julga ser infinitamente livre
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O socialismo é a fase superior do liberalismo, são etapas do materialismo cético nominalista moderno
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O comércio floresceu durante séculos com base em valores tradicionais católicos, a letra de câmbio, a contabilidade de partida dobrada, etc, tudo foi criado antes dessa lenga lenga ideológica e libertina
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O liberalismo econômico necessita de uma rigorosa ética religiosa para ser eficaz
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O socialista é o liberal mais egoísta, pois pretende o monopólio estatal da liberdade
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Liberalismo é bom nos olhos dos outros, liberal quer é ser poderoso com discurso humanitário
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Quem idealiza uma liberdade absoluta no fundo cobiça o poder absoluto
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Liberdade é a forma com a qual uma pessoa exercita o próprio poder
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O poder de agir sem determinados impedimentos, o poder de impor e/ou satisfazer suas vontades e desejos, em suma, liberdade é o exercício de um determinado poder
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Idéias de qualquer natureza são rastreáveis até Aristóteles, Platão, Sócrates, Homero, etc, o problema é quando o ideário passa a ser tratado como algo sagrado e autônomo, daí que não me importo nem um pouco com qualquer "ismo" quando se trata de filosofia, não há problema nenhum em reconhecer verdades, pois elas são objetivas e absolutas, o problema é se apegar a este ou àquele determinado pensamento de forma partidária, e, por falar em Aristóteles, ele defendeu uma ética fundada na razão e na virtude que muito mais se ajusta ao sacrifício do próprio ego exigido no cristianismo que ao bobo egoísmo do individualismo contratualista que faz emergir o estatismo mais feroz
Werner Nabiça Coêlho