domingo, 3 de junho de 2018

O MÉTODO CIENTÍFICO É COMO UMA REDE DE PESCA!




Hans-Peter Dürr (7/10/1929-18/05/2014) relata que a mecânica clássica não mais serve para explicar inúmeros fenômenos físicos, como os elétrons e o magnetismo.

A formulação da mecânica quântica revelou aos cientistas “para sua surpresa que os seus conhecimentos de, e o seu saber sobre, a realidade por eles imaginada em abstracto têm muito a ver com os métodos com os quais investigam a natureza” (DÜRR, p. 40).

Para esclarecer a afirmação supramencionada, lanço mão de uma versão resumida da parábola de Sir Arthur Eddington, citada por Dürr, ao descrever uma rede feita para pescar peixes de 05 centímetros ou mais.


Evidentemente, referida rede, somente pode pegar peixes dentro de seu limite de mensuração.

O cientista considera-se livre de recorrer ao que considera como vagas especulações, pois contenta-se com o que consegue apanhar com base nos limites possíveis de mensuração eleito por seu método de pesquisa.

Um metafísico, que aceite a objetividade do mundo, considerará tal método inadequado para abarcar toda a realidade dos peixes, pois o universo de peixes é muito mais amplo que os limites subjetivos da rede.



O epistemólogo, dá razão ao metafísico, sobre o caráter subjetivo e parcial da afirmação do cientista, acerca do tamanho mínimo dos peixes possíveis de captura, mas, afirma que não se deve perder tempo medindo todos os peixes, para determinar o tamanho mínimo desta categoria de ser, basta medir a própria rede, aquilo que não for observável e mensurável não será objeto de análise científica:

"Este modo epistemológico de encarar o problema confere validade absoluta à lei. Isto corresponde ao enunciado de Kant, segundo o qual as descobertas gerais fundamentais da Física dão bons resultados na experiência porque estabelecem condições necessárias para a experiência" (DÜRR, p. 42)

A rede simboliza o estreitamento da realidade, e a alteração qualitativa operada pelo nosso pensamento, e relaciona-se à possibilidade de se conhecer cada vez melhor a “estrutura” e não o conteúdo da realidade, o que implica no risco de “descurar das coisas” (DÜRR, p. 44).

Trecho do artigo "Kant, ciência moderna e liberdade humana" disponível em: 


O ORGULHO VICIOSO DO CIENTISTA É BASEADO EM ERROS FILOSÓFICOS



O orgulho profissional é algo bom, mas quando o orgulho se torna vicioso, como no caso dos cientistas que reiteradamente declaram a morte da filosofia, ou mesmo das ciências humanas em geral, em função da prevalência do "método científico", esta atitude faz com que eles não tenham mais o bom senso da proporção de limites, e ainda ficam discursando sobre a importância do método, sendo que fingem ignorar que o método é justamente a discussão de limites, os limites relacionados ao objeto da pesquisa, e que o não está dentro de tais limitações não é passível de conhecimento segundo este método.

O camarada faz uma gororoba de positivismo ao estilo Augusto Comte misturado com um historicismo tosco, para associar o nascimento da ciência com a democracia, ou seja, faz uma tremenda de uma filosofia de mesa de bar para afirmar que o método científico resolverá todos os problemas da humanidade, e que por isso a filosofia será extinta no futuro, ocorre este exemplo de positivismo científico ainda é uma forma de filosofia, por mais que se negue da boca para 

Veja o artigo motivador do comentário:


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A certeza é algo que se obtém conforme determinado método, por exemplo, há certezas metafísicas como o princípio da identidade, o terceiro excluído e o princípio da não-contradição, estes fundamentos principiológicos são irrefutáveis dentro dos parâmetros lógicos, isso me leva a definir que a razão é um ato de fé nos princípios metafísicos da lógica, por sinal, toda e qualquer ciência é fundamentada nesta fé pressuposta, por mais que adote o método cartesiano, que é a limitação desta mesma fé aos dados mensuráveis quantitativamente.

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UMA REDE DE PESCAR PEIXES NA MEDIDA DE SUA TRAMA

Hans-Peter Dürr (7/10/1929-18/05/2014) relata que a mecânica clássica não mais serve para explicar inúmeros fenômenos físicos, como os elétrons e o magnetismo.

A formulação da mecânica quântica revelou aos cientistas “para sua surpresa que os seus conhecimentos de, e o seu saber sobre, a realidade por eles imaginada em abstracto têm muito a ver com os métodos com os quais investigam a natureza” (DÜRR, p. 40).

Para esclarecer a afirmação supramencionada, lanço mão de uma versão resumida da parábola de Sir Arthur Eddington, citada por Dürr, ao descrever uma rede feita para pescar peixes de 05 centímetros ou mais.

Evidentemente, referida rede, somente pode pegar peixes dentro de seu limite de mensuração.

O cientista considera-se livre de recorrer ao que considera como vagas especulações, pois contenta-se com o que consegue apanhar com base nos limites possíveis de mensuração eleito por seu método de pesquisa.

Um metafísico, que aceite a objetividade do mundo, considerará tal método inadequado para abarcar toda a realidade dos peixes, pois o universo de peixes é muito mais amplo que os limites subjetivos da rede.

O epistemólogo, dá razão ao metafísico, sobre o caráter subjetivo e parcial da afirmação do cientista, acerca do tamanho mínimo dos peixes possíveis de captura, mas, afirma que não se deve perder tempo medindo todos os peixes, para determinar o tamanho mínimo desta categoria de ser, basta medir a própria rede, aquilo que não for observável e mensurável não será objeto de análise científica:

"Este modo epistemológico de encarar o problema confere validade absoluta à lei. Isto corresponde ao enunciado de Kant, segundo o qual as descobertas gerais fundamentais da Física dão bons resultados na experiência porque estabelecem condições necessárias para a experiência" (DÜRR, p. 42)

A rede simboliza o estreitamento da realidade, e a alteração qualitativa operada pelo nosso pensamento, e relaciona-se à possibilidade de se conhecer cada vez melhor a “estrutura” e não o conteúdo da realidade, o que implica no risco de “descurar das coisas” (DÜRR, p. 44).

Trecho do artigo "Kant, ciência moderna e liberdade humana" disponível em: 


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O direito define princípios como "razoabilidade" e "proporcionalidade" com fundamento na boa-fé, pois é, fé é tudo para a razão.

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O que é a razão em relação à fé? É a fé ainda não conquistada em relação a uma determinada verdade.

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Afirmamos algo como verdadeiro porque estamos com fé na razão da afirmação.

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A razão, em certo sentido, é um sentimento de que estamos na posse de uma verdade.

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Kant errou ao considerar que a humanidade poderia ser um objeto de estudo da física newtoniana.

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O que é uma ciência humana? É o esforço sistemático de compreender realidades concretas e urgentes, que nos envolvem a todos, conforme métodos qualitativos que avaliam o bem e o mal inerente ao objeto de estudo.

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O direito é racional conforme a qualidade e a intensidade do Poder Social que o sustenta.

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Os sentimentos são julgados racionais ou irracionais segundo o método da intensidade qualitativa que apura a virtude e o vício dos mesmos.

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A ciência moderna é racional segundo o método da mensuração quantitativa inaugurado por Descartes, trata-se de uma racionalidade do método, para o método e pelo método.

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A ciência se declara na posse do monopólio do racionalismo, pois alega que o método da mensuração quantitativa é absoluto e é o único verdadeiro.

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O universo obedece à Razão que o Criou, somos somente testemunhas desta Inteligência, esta realidade objetiva é fundamental.

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Racionalidade em termo gerais é um critério de medida, esta métrica existe em todos os níveis da realidade da divina à científica.

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Uma ciência natural é uma coleção de notícias sobre a realidade. O cientista é só repórter que divulga essa informação.

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O que é a racionalidade científica? É um exercício de descrição metódica de um objeto específico, isolado da realidade em torno.

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A "conversa de pescador" do cientista é aquela ladainha de morte da filosofia, quando afirma que a ciência pode responder a tudo.

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O que são as ciências naturais? São uns tantos ensaios de cálculos e hipóteses, cujo objetivo é a pesca de uma sardinha de cada vez no Oceano da realidade, daí em seguida começa aquela conversa de pescador...

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O que é a verdadeira razão das coisas? A própria realidade é um testemunha desta Razão, perceber isso é um exercício de humildade.

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O discurso padrão do racionalismo científico, é somente um forma padrão de ignorar a verdadeira razão das coisas.

sábado, 2 de junho de 2018

ORIGEM GOVERNAMENTAL DA CRISE DO SETOR DE TRANSPORTES: BNDS e a crise no setor de transportes terrestres de carga


A greve dos caminhoneiros possui origens em uma profunda crise do setor, na qual a inflação de crédito promovida pelo BNDS provocou o excesso de oferta de caminhões no mercado que causou uma deflação no preço do frete.

Entre 2008 e 2015 o BNDS facilitou o crédito para aquisição de caminhões, fato que multiplicou a frota, como houve maior oferta de serviço o preço do frete sofreu deflação, ocorre que este fenômeno de rebaixamento de preços já não cobre o custo da produção do transporte, ou seja, o custo real deverá ser repassado, o velho dragão da inflação irá rugir em breve.

Cito uma esclarecedora passagem da Dissertação de Mestrado de Carlos Gonçalves sobre o tema:


"Como análise adicional, este estudo apresenta uma verificação da causalidade do crédito. O resultado contrasta com a expectativa, pois não foi constatada relação causal de crédito para vendas, como seria esperado, tendo em vista as políticas do BNDES que sabidamente utilizaram a expansão do crédito para sustentar a demanda no segundo período (2008-2015)." (in Carlos Gonçalves - Dissertação - O mercado de caminhões no brasil, FGV, 2016)


Outro fator que é importante para descrever a crise que oprime os caminhoneiros está contido nas estatísticas oficiais da ANTT - Agência Nacional de Transporte Terrestre, cujos dados relativos aos anos de 2015/2016, durante o auge da crise econômica legada pelo Partido dos Trabalhadores, que revelam um impacto negativo brutal no número de caminhoneiros autônomos (TAC - Transportador Autônomo de Carga) em atividade que decresceu em um ano de 918.391 para 622.328.




quinta-feira, 31 de maio de 2018

A DEMOCRACIA DIRETA EM REDES: o caso brasileiro nos anos de 2013, 2015 e 2018


O surgimento das redes sociais supriu as massas de uma ferramenta de comunicação, que permite movimentos pontuais em reação a situações excepcionais, para o exercício da pressão política, ou para sofrer uma manipulação política (tenho aqui para mim, que quando financiaram a criação das redes sociais o objetivo primário seria criar interferências na política interna de nações alvos, como o que foi desencadeado na malfadada "primavera árabe").


Todavia, uma arma ainda é só uma ferramenta, e tudo depende do portador, logo, houve uma reviravolta no equilíbrio das forças da mídia, justamente quando a imprensa estava concluindo seu processo de concentração monopolística nas mãos do meta-capital, daí, quando o povo comum, e seu senso mais do que comum, descobriu o poder de mobilização das redes, revelou-se como o verdadeiro mercado de comunicação anarco capitalista de fato.

Logo, é possível constatar-se que as jornadas de junho de 2013 foram a promoção da primeira tomada de consciência da força do movimento de massa do povo comum e ordeiro, cuja características mais marcantes, em meu entender, foi o nível de engajamento democrático (no sentido de manifestação de todas as correntes do opinião), bem como o nível de engajamento social e pessoal do povo, que incluiu famílias em passeio e muitas fotos com policiais, tudo isso num momento histórico coetâneo com a erupção do terrorismo e do vandalismo dos esquerdistas, que tentaram desencadear uma "reforma constitucional exclusivamente política", a partir de protestos pelo "passa livre".

Os caminhoneiros foram a segunda etapa desse processo de crescimento de poder popular, por meio da criação de redes de comunicação difusas e conectadas, que apanhou o Brasil (oficial e coloquial) de calças curtas, pois enquanto o primeiro movimento foi oriundo da sociabilidade genérica do Facebook, este último foi uma articulação do Whatsapp, dentro de um contexto em que várias entidades de classe e associativas já haviam realizado um primeiro ensaio de protesto em fevereiro/março 2015, na qual resultou-se na promulgação da Lei nº 13.103, publicada em 02.03.2015, e, vale ressaltar, ainda, que naquela ocasião, a pauta do protesto era exatamente a mesma da atual (diesel, pedágio, preço do frete, etc.).

Destaco que, pelo menos entre os caminhoneiros, há um espírito de corpo muito semelhante ao existente na caserna, pois são profissionais que enfrentam todos os problemas do Brasil real, literalmente são corriqueiramente alojados em acampamentos de beira de estrada, vulgarmente chamados de "Postos de Gasolina", e são integrantes de uma classe de profissionais altamente pressionados por todos os tipos de exigências legais e ilegais no seu dia-a-dia (multas, impostos, taxas, pedágios, carta frete, calotes, roubo de carga, etc.), cuja função é essencial para a sociedade, mas cuja atividade é deveras criticada e discriminada como se fossem um simples incômodo, o que adiciona uma psicologia de ressentimento na mentalidade de tais trabalhadores.

Ocorre que o caminhoneiro é sobretudo um profissional do setor de transporte, não é um integrante de uma agremiação política, e como o Olavo de Carvalho tão bem vem ensinando nos últimos anos, não há como realizar o enfrentamento político sem o devido poder político, aquele poder de mobilizar pessoas em uma única vontade e um único objetivo, daí fico curioso em saber qual será a rede social que será a ferramenta principal.

Divulgado no site Jus Navigandi: 

https://jus.com.br/artigos/66634/a-democracia-em-redes

A REVOLUÇÃO POR PROCURAÇÃO E OS CAMINHONEIROS


Filosofia, Direito, Ciência, Religião e etc. são focos que integram uma única e mesma realidade: a vida humana, este dado não pode ser objeto de um puro e simples discurso metodológico que isole um destes aspectos como se fosse a principal parte, pois a parte não pode ser maior que o todo, cabe-nos a humildade de considerar o cenário maior que é a vida.
Há quem se orgulhe de ser conservador, outro se vangloria de ser liberal, ainda tem quem ache o máximo ser intervencionista, tem gente que até acha que ser comunista é ser progressista, pela minha parte prefiro seguir o que se encontra registrado em minha certidão de nascimento e naquilo que a Verdade que se fez carne ensinou, ou seja, basta-me ser um humilde brasileiro e um anônimo filho de Deus que cultiva, respectivamente, um hino exuberante de amor pelo solo pátrio e uma oração de Pai Nosso que nos promete uma Cidade no Céu, cujos merecimentos são necessariamente frutos de boas obras e da aceitacao da responsabilidade pelos próprios atos, em suma, viver como simples brasileiro e cristão que utiliza ideias e ferramentas conforme sua utilidade.
O movimento grevista, que vivenciamos neste fugaz momento histórico, demonstra que tanto o governo como a sociedade, não compreendem a dimensão e a organização das forças econômicas e sociais em curso no Brasil, jamais cogitaram com a possibilidade real de uma categoria parar o país de forma eficaz.
O problema que surge com a continuidade da greve é que, por mais que queiram que os caminhoneiros salvem o Brasil, porque os brasileiros sofrem, eles, os caminhoneiros, também sofrem, só que em dobro dado a precariedade de seu dia-a-dia profissional, e no final a pauta não era política, mas, p.ex., aqui no Pará há uma grande raiva acumulada pela categoria, uma vez que são quase todos vindos de fora e aqui são muito maltratados, fosse eu, ficaria parado vendo o circo pegar fogo, basta para uma parcela da categoria ficar estacionada que tudo se desenvolve no sentido do caos, acho que muitos dos caminhoneiros estão encantados com esse poder.
Por que o caminhoneiro teria que salvar todos os brasileiros se estes pouco se importam com o sofrimento do caminhoneiro?
E olha que a reivindicação principal foi só o preço do diesel, imagine se fosse uma pauta realmente política!
A burguesia industrial ainda não compreendeu a burguesia da logística, que em sua massa é composta pelos autônomos, continuamos com a mentalidade de que empresários devem ser limpinhos e cheirosos, e , assim, subestimaram os caminhoneiros.
O sebastianismo é essa nossa mania de esperar por um salvador da pátria, no lugar de assumir a responsabilidade pela própria luta, caminhões não são tanques, soldados não são políticos, revoluções não são entregues por delivery.
Se tivesse poder de alterar o currículo do ensino básico incluía a explicação do sebastianismo luso-brasileiro, como item obrigatório, afinal precisamos conhecer nossa paranóia atávica que nasceu da morte gloriosa do último rei da dinastia de Aviz.
No Brasil já temos mais de um século sem os suores, temores e horrores da guerra total em nossas fronteiras, essa realidade gera uma psicologia social que não se preocupa com a liberdade política.
De um simples movimento que mobilizou uma categoria profissional em busca de objetivos limitados, há uma tendência em pugnar pela criação de um movimento revolucionário de amplo espectro.
Essa conversa intervencionista e esse anseio revolucionário durante a greve dos caminhoneiros são demonstrações de que tem muito brasileiro desejando fazer revolução por procuração.
A greve dos caminhoneiros jamais teve um caráter estratégico global, desde as manifestações iniciadas em 2015 foi sempre negociada uma pauta específica para esse seguimento composto principalmente de autônomos, e por ser um grupo que depende da própria produtividade somente numa situação de vida ou morte essa classe encararia uma luta pela derrocada do governo, o resultado alcançado foi o que se pretendeu dentro desse movimento que mais parece uma antiga corporação de oficio.
Neste sentido, ainda estamos prosseguindo no processo de autoeducação político-revolucionária, temos muito ainda que caminhar no Brasil, para que se promova verdadeiros levantes que coloquem as instituições em jogo.
Enquanto não são feitas apostas de vida e morte com o objetivo de mudar o destino da nação, fiquemos com o recém conquistado direito de manifestação de opinião com tomatada, que agora é nosso direito humano à livre expressão, manifeste-mo-nos, conforme recente decisão judicial.

Também disponível em: https://jus.com.br/artigos/66625/a-revolucao-por-procuracao-e-os-caminhoneiros

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Reflexões sobre a filosofia moral (Versão divulgada no site Jus Navigandi)

Creio que o vocabulário "filosofia moral" deve ser resgatado para fazer o contraponto ao termo ideologizado "ética" (apesar de que originalmente "ética" é a versão grega para a latina "moral"), pois, atualmente, falar de "ética" remete, preferencialmente, ao conceito de "comportamento politicamente correto", segundo a régua do subjetivismo materialista epicurista da modernidade em seu consenso contra a ideia clássica do sumo bem.

A moral é, essencialmente, um conhecimento de natureza ontológica, uma forma de participar da realidade concreta da vida e da sociedade, pois conecta-se à realidade objetiva, v.g. a interdição ao incesto quando inobservada gera consequências nefastas à própria herança genética.

A autoridade moral (no sentido de autoria mesmo) é primariamente heterônoma, por ser um mandamento de Deus, ou, pelo menos da racionalidade inerente ao ser humano e oriunda da natureza humana, secundariamente é que se torna um objeto de julgamento decisório do livre arbítrio pessoal.

O momento da liberdade também é o momento potencial do erro e do pecado, logo, é inexistente a norma moral absolutamente autônoma, pois a moral é absoluta na medida em que é uma norma posta desde fora e desde acima ao sujeito, o que resta é a autonomia pessoal no momento da aplicação da norma moral, acertando ou errando, uma vez que a decisão é relativa, pois tudo que é relativo precisa de um referencial absoluto, esse é o princípio do processo da subsunção do fato à norma, de qualquer norma, inclusive as de origem moral.

Moral não é uma norma no sentido jurídico-normativo, é, primariamente, uma revelação divina, ou uma conclusão racional necessária, descoberta pelo intelecto humano, seja pela razão natural, como em Sócrates, seja pela razão sobrenatural revelada diretamente por Cristo.

O vício do bacharelismo jurídico é considerar que uma teoria da norma jurídica substitui a realidade concreta, portanto, é comum esquecer-se que a autorreferencia do texto submete-se à autorreferencia da realidade, não o contrário.

O contraponto ao excesso de abstração linguísticas, que fica preocupado com suporte físico em papel, está em chamar a atenção o dado de que o suporte físico da linguagem é ontológico, é a realidade de carne e osso, e, também, alma.

A filosofia, desde os pré socráticos até hoje, se depara com desafios teológicos e morais, ou aceita-se o nega-se veementemente a existência de Deus.

Etimologicamente, como já vimos, a palavra moral designa o mesmo que a palavra ética, são termos sinônimos, todavia, hoje, na cena institucional jurídico-política, esqueceu-se o que é moral, e o termo "ética" foi transformado numa palavra que aceita qualquer definição, inclusive pode ser a "ética dos bandidos".

Observo que em relação ao atual processo de destruição da linguagem, como ferramenta de comunicação, julgo indubitável que realmente existe um esforço acadêmico nesse sentido, e, também, não discordo que esta demolição tenha consequências sociais.

Todavia, percebo que a língua e a linguagem possuem uma substância, no sentido dado por Aristóteles na obra "Metafísica".

A essência da palavra moral ainda resiste em função da necessidade que o senso comum de cada pessoa possui, intuitivamente, de reagir ao absurdo inerente aos ataques linguísticos da modernidade.

Para que seja possível a percepção da desordem do caos há que ser possível a prévia percepção da ordem do cosmos, e para que haja destruição e entropia há que haver criação e harmonia, neste sentido a filosofia moral é o amor ao saber em seu sentido de razão prática (phronesis), que possibilita o cultivo da ordem pessoal e possibilita a harmonia social.


Texto divulgado no site Jus Navigandi disponibilizado em 29/05/2018:

A revolução brasileira e as recentes jornadas de maio: uma breve análise do desenvolvimento da democracia direta no Brasil (Versão divulgada no site Jus Navigandi)


Há um livro da qual gosto muito que é intitulado "Lembranças de 1848: as jornadas revolucionárias em Paris", na qual Alexis de Tocqueville narra sua participação no combate contra aquilo que ele mesmo denominou de uma revolução socialista, por ele apelidada de "jornadas de junho", com base nessa inspiração considero que estamos vivenciando as jornadas de maio de 2018, uma etapa da revolução brasileira.
A greve dos caminhoneiros representa um segundo passo na revolução brasileira, que em 2013 iniciou como reação aos "protestos pacíficos com violência" e se estabilizou em festas cívicas aos finais-de-semana, ou de horários após o expediente.
Tais protestos iniciais manifestaram-se como método ativo de mobilização de um grande número de pessoas, com a adoção de uma atitude passiva quanto a outras ações, bastava a demonstração da existência de um grande oceano de gente, tal realidade é explicável na medida em que famílias reunidas não podem parar um país.
Retomando o argumento da segunda etapa da revolução brasileira, que foi operada pelos caminhoneiros autônomos, esta mobilização se manifestou mediante a adoção de medidas ativas e práticas, que, ironicamente, se caracterizaram não por uma grande reunião e movimentação de pessoas, mas pela paralisação dos agentes envolvidos.
A interferência nas decisões governamentais ocorreu com eficácia, e, até mesmo serviu para impor, reiteradamente, decisões ao governo.
Como diria o Olavo de Carvalho o Poder é a capacidade de comandar pessoas, e o Poder será tanto maior quanto maior for a quantidade de pessoas comandadas, com base neste critério, um "Poder dos Caminhoneiros" foi manifestado, este Poder comandou os interesses do país por uma semana e se impôs ao governo.

Texto divulgado no site Jus Navigandi, disponibilizado em 29/05/2018: