Um artista começa de repente do momento em que sabe dar razão a todos
os seus heróis.
Porque você não devolve a vida senão quando põe tudo em
equilíbrio, quando dá razão a todos.
São assim os heróis de Ésquilo:
cada um com sua razão.
Etéocles tem razão em defender a cidade de Tebas
contra seu irmão, Polinice, que a assedia com um exército estrangeiro.
Mas Polinice tem razão em assediá-lá, porque Etéocles o afastou de sua
parte na regência.
E o que é esplêndido é que também o coro se divide até o fim, nos Sete contra Tebas: metade segue Polinice, morto por ter razão; metade segue Etéocles, morto por ter razão.
***
Reencontro esse pensamento, mais belo, mais vivo, mais complexo, em Oréstia.
Cada um tem razão de vingar-se.
As vinganças chamam umas às
outras, entrelaçam-se, ramificam-se, acorrentam-se umas às outras.
Vingança contra vingança e vingança ao lado da vingança.
Egisto tem
razão de querer a morte de Agamemno, porque este é da nação dos atridas,
que lhe torturaram o pai, Tiestes.
Mas o assassino não é ele, Egisto,
mas a própria esposa de Agamemno Clitemnestra, que tem razão de matar o
marido, porque, porque este lhe sacrificara a filha, Ifigênia.
Mas
quando Orestes, filho deles, vai matar Clitemnestra e Egisto, o amante
dela, já não sabe bem por que vinga a morte do pai: a profanação que sua
mãe fez do lar familiar, ou a perda de seu próprio cetro.
Já não sabe
senão que tudo grita por vingança, pela voz, pelo gesto, pelo ser da
irmã de Orestes, este monstro de piedade, amor e ódio: Electra.
Mas
terminam aqui as vinganças? Não, porque até a sombra de Clitemnestra vai
pedir vingança.
Mas as Fúrias, as Eumênides, instigadas por ela,
perseguem Orestes, em nome da razão, porque matou a própria mãe.
"Agrada-nos termos razão", dizem as Fúrias.
Mas o lance não se fecha senão diante da sábia Minerva, que está para julgar entre as Fúrias e Orestes.
"É árdua a causa", diz Minerva.
E por isso vai
instituir um tribunal de atenienses.
O resultado?
A despeito do
testemunho de Apolo em favor de Orestes, a despeito do voto de Minerva
em favor dele, é igual o número de votos.
O todo está em equilíbrio. Todo mundo tem razão.
Oh, como é "verdade"!
(Constantin Noica, Diário filosófico, p. 87-8)
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