sexta-feira, 17 de junho de 2016

É BOM CITAR: O VOTO DE MINERVA



Um artista começa de repente do momento em que sabe dar razão a todos os seus heróis. 

Porque você não devolve a vida senão quando põe tudo em equilíbrio, quando dá razão a todos. 

São assim os heróis de Ésquilo: cada um com sua razão. 

Etéocles tem razão em defender a cidade de Tebas contra seu irmão, Polinice, que a assedia com um exército estrangeiro.

Mas Polinice tem razão em assediá-lá, porque Etéocles o afastou de sua parte na regência.

E o que é esplêndido é que também o coro se divide até o fim, nos Sete contra Tebas: metade segue Polinice, morto por ter razão; metade segue Etéocles, morto por ter razão.
 
***

Reencontro esse pensamento, mais belo, mais vivo, mais complexo, em Oréstia. 

Cada um tem razão de vingar-se.

As vinganças chamam umas às outras, entrelaçam-se, ramificam-se, acorrentam-se umas às outras.

Vingança contra vingança e vingança ao lado da vingança.

Egisto tem razão de querer a morte de Agamemno, porque este é da nação dos atridas, que lhe torturaram o pai, Tiestes.

Mas o assassino não é ele, Egisto, mas a própria esposa de Agamemno Clitemnestra, que tem razão de matar o marido, porque, porque este lhe sacrificara a filha, Ifigênia.

Mas quando Orestes, filho deles, vai matar Clitemnestra e Egisto, o amante dela, já não sabe bem por que vinga a morte do pai: a profanação que sua mãe fez do lar familiar, ou a perda de seu próprio cetro.

Já não sabe senão que tudo grita por vingança, pela voz, pelo gesto, pelo ser da irmã de Orestes, este monstro de piedade, amor e ódio: Electra.

Mas terminam aqui as vinganças? Não, porque até a sombra de Clitemnestra vai pedir vingança.

Mas as Fúrias, as Eumênides, instigadas por ela, perseguem Orestes, em nome da razão, porque matou a própria mãe.

"Agrada-nos termos razão", dizem as Fúrias.

Mas o lance não se fecha senão diante da sábia Minerva, que está para julgar entre as Fúrias e Orestes.

"É árdua a causa", diz Minerva.

E por isso vai instituir um tribunal de atenienses.

O resultado?

A despeito do testemunho de Apolo em favor de Orestes, a despeito do voto de Minerva em favor dele, é igual o número de votos.

O todo está em equilíbrio. Todo mundo tem razão.

Oh, como é "verdade"!

(Constantin Noica, Diário filosófico, p. 87-8)

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