sábado, 4 de junho de 2016

Sobre o Ato de Estudar... e ler



Prestes a concluir especialização em direito tributário, e, após infindáveis esforços para desenvolver novas metodologias para o estudo da matéria acadêmica, em particular em seu aspecto de formas de leitura, finalmente, após perfunctórias pesquisas teóricas, além de exaustivos testes empíricos, concluí que a principal metodologia de estudo de qualquer matéria já vem cientificamente pressuposta no Velho Testamento, isso mesmo! E, para balizar melhor esta assertiva é que complemento: – Está tudo no Gênesis!

Após testar o aprendizado mediante princípios químico-biológicos, fisiológicos, espíritas e evangélicos, fui forçado a retornar à boa e velha tradição judaico-cristã.

Após receber os primeiros rudimentos da bioquímica celular que define a permutação de fluidos entre meios salinos e hiposalinos, isto é, partindo da hipótese análoga em que o conteúdo dos livros é menos salino que o conteúdo cerebral, e, que o melhor meio de transferência seria o contato físico do livro com o meio sovacal para o desejado processo de osmose acadêmica se processasse, assim procedi por anos a fio, livros e livros estragados pelo suor, diria que por mais de uma boa década, e, sem ter conseguido a prova científica de que tal método de estudo funcionava, fui ler.

Mas, ainda não foi o suficiente para desistir de substituir tal método rudimentar da leitura; passei a gravar as aulas e quando chegava a hora de dormir deixava a cantinela acadêmica tocar, e pela noite o (a) professor (a) ninava-me por horas seguidas, aprender não aprendi, mas já dei entrada nos papéis patenteando este novo processo de cura da insônia, nada como ouvir uma aula de direito para lembrar dos benefícios de uma boa dormida, e lá fui, bem acordado, ler meus livros.

Certa época observando muitos dos meus parentes gabarem-se dos benefícios dos princípios do espiritismo de Kardec, pensei cá com meus botões: – Quem sabe a letra morta da lei não possa ser invocada em uma sessão daquelas onde todos se dão às mãos e ficam torcendo por ver almas penadas, melhor dizendo, desencarnadas? E uma vez que se invocasse a letra da lei não seria possível transformá-la num encosto que penetrasse pelo corpo e acabasse por encarnar nas idéias sem que fosse necessário o processo normal da leitura?

Não deu certo, depois de muitas tentativas infrutíferas, tive que desistir depois de um carão do espírito de Rui Barbosa que mandou criar vergonha na cara e tirar a poeira de meus livros.

Ainda pensei em apelar para a macumba, mas logo desisti, pois os orixás só conheciam legislação africana.

Por via das dúvidas fui depositar uma nota de cinqüenta reais na Fogueira Santa de Israel, o pastor me garantia que em breve se faria a revelação divina, e, assim insisti por algum tempo, acabei desistindo quando a revelação divina veio, inesperadamente, como saldo negativo no cheque especial, até vendi alguns livros para poder tapar o buraco feito pelo fogo daquela santa fogueira... Fazer o quê? Peguei os livros sobrantes e fui ler. 

Ah! Ia esquecendo, depois de tantas idas e vindas deu para perceber que sempre acabei... lendo; ora, o ato de ler em sua constituição bio-físico-psicológica nada mais é que um dos efeitos da sentença divina prolatada no volume primeiro dos autos da criação, que nos intima nestes termos: “Já que você deu ouvidos à sua mulher e comeu da árvore cujo fruto eu lhe tinha proibido comer, maldita seja a terra por sua causa. Enquanto viver, você dela se alimentará com fadiga” (Cf. Gen, 3, 17) (destacamos).
 
Fadiguemo-nos, portanto, pois se o pecado original do homem é o conhecimento do bem e do mal e sua punição é este doce e amargo exílio de viver, então, tal pecado só poderá ter redenção na medida em que o estudo suado de cada dia fortalece este atributo divino de conhecer e distinguir o bem e o mal se alimentado de estudo... e de leitura. 

Texto confeccionado por Werner Nabiça Coelho

Atuações e qualificações

Advogado. Especialista em Direito Tributário e 
Professor da Faculdade Metropolitana da Amazônia - FAMAZ

Bibliografia:

COELHO, Werner Nabiça; COELHO, Werner Nabiça. Sobre o Ato de Estudar... E Ler. Universo Jurídico, Juiz de Fora, ano XI, 15 de mai. de 2003.
Disponivel em: < http://uj.novaprolink.com.br/doutrina/1348/sobre_o_ato_de_estudar_e_ler >. Acesso em: 04 de jun. de 2016.

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