...a
descoberta de que o discurso racional pressupõe o discurso
ritualístico.
Descobrimos
que a lógica de nossas escolas cobria, na melhor das hipóteses, um
quarto do território real da lógica.
Antes
de qualquer coisa possa ser computada, calculada, observada ou
testada, ela tem de ter sido algo nomeado, com que se falou, com que
se operou, algo com que se teve alguma experiência.
Com
suas generalizações e numerais, a ciência priva as coisas de
nomes. Mas não pode fazer isso senão com coisas que previamente se
revestiram de nomes.
A
ciência é uma aproximação secundária e abstrata à realidade.
Devemos
estar imersos e enraizados num universo nomeado, para depois dele nos
podermos emancipar pela ciência. (p. 218)
Esta
breve investigação das novas vias mostra que, dentre as sete artes
liberais, o chamado trivium -
gramática, retórica e lógica - é o que mais se beneficia de
nossos estudos.
Nossa
abordagem eleva as "trivialidades" desses três campos
introdutórios do saber à estatura de ciências plenamente
desenvolvidas.
Elas
tornar-se-ão as grandes ciências do futuro.
Tal
ascensão ao poder teve um paralelo quatrocentos anos atrás, quando
o chamado quadrivium
(aritmética,
geometria, música, astronomia) e o trivium
(gramática,
retórica, lógica) não passavam de meros serviçais e ferramentas
auxiliares.
É
preciso substituir a faculdade de direito por todo um conjunto de
ciências sociais, incluindo uma acerca de nossa própria
consciência.
A
consciência não funciona senão quando a mente responde a
imperativos e utiliza metáforas e símbolos.
Até
os cientistas devem falar com confiança e segurança antes de poder
pensar analiticamente. (p. 219)
Que
é um símbolo? Que é uma metáfora? Constituem o pão nosso de cada
dia? Símbolos são fala cristalizada. E a fala cristaliza-se em
símbolos porque, em seu estado criativo, é metafórica. Símbolos e
metáforas relacionam-se como a juventude e a velhice da linguagem.
(p. 219-20)
Até
os símbolos dos lógicos a provam... são fala cristalizada.
A
fala deve levar aos símbolos. Os símbolos resultam da fala.
"Ouvimos" os símbolos como se fossem fala. "Olhamos"
para a fala porque ela nos levará aos símbolos. (p. 220)
Os
símbolos representam o estado "real" ou principal de uma
pessoa a despeito de quais aparências. Representam meu melhor eu em
sua ausência…
Isso
nos dá uma pista dos autênticos lugares dos símbolos. Eles sucedem
a atos de investidura, por meio dos quais se tornam indeléveis e
importantes elementos da realidade.
Um
ritual antecede ao símbolo. Se nenhum ritual investiu a pessoa, o
símbolo não passa de mero brinquedo frívolo. (p. 221)
Quanto
mais seriamente o ritual é "falado", mais o símbolo se
fixa. Não há, porém, símbolo sem fala.
Os
símbolos reiteram o fato de que a fala visa à verdade de longo
alcance e de que, para tanto, ela procura substituir as aparências
do mundo visível por uma ordem mais elevada, melhor ou mais
penetrante.
Porque
o símbolo mostra melhor sua eficiência após o término da
cerimônia de investidura, e concebem-se as cerimônias de
investidura precisamente como um poder capaz de criar um segundo
mundo.
A
linguagem humana é metafórica por definição. Nada nela é o que
é. Tudo significa algo que, em sim mesmo, não é. (p. 222)
Fonte:
Eugen Rosenstock-Huessy (1888-1973) A
origem da linguagem; edição
e notas Olavo de Carvalho e Carlos Nougué: introdução, Harold M.
Sathmer e Michael Gorman-Thelen: tradução Pedro Sette Câmara,
Marcelo de Polli Bezerra, Márcia Xavier de Brito e Maria Inêz
Panzoldo de Carvalho. - Rio de Janeiro: Record, 2002.
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