sexta-feira, 8 de julho de 2016

É BOM CITAR: TROPAS ESTELARES E DELIQUENCIA JUVENIL

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Essas crianças eram apanhadas muitas vezes;  a polícia prendia montes delas todos os dias. Elas levavam bronca? Sim, e em geral severas. Os seus narizes eram esfregados no que haviam feito? Raramente. Os órgãos de imprensa e do governo em geral mantinham os nomes delas em segredo... Em muitos lugares isso era exigido por lei para criminosos de menos de dezoito anos. Elas apanhavam? De jeito nenhum! Muitas não tinham apanhado nem quando eram pequenas; havia uma crença generalizada de que bater nas crianças, ou aplicar qualquer punição que envolvesse dor, provocava um dano psíquico permanente. (p. 157)

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Mesmo que um juiz deva ser benevolente em seus propósitos, suas sentenças devem fazer com que o criminoso sofra, do contrário não há punição... E a dor é o mecanismo básico, incorporado em nós por milhões de anos de evolução, que nos protege, nos avisando quando algo ameaça a nossa sobrevivência. Por que a sociedade iria se recusar a usar um mecanismo de sobrevivência tão altamente aperfeiçoado desses? No entanto, aquela época estava recheava de absurdos pseudopsicológicos pré-científicos.

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- Quanto a "incomum", uma punição tem que ser incomum, ou não serve para nada. (p. 158)

[...] Isso quer dizer que é uma punição incomum o bastante para ser significativa, para desencorajar, para ensinar. De volta àqueles jovens criminosos... É provável que não tenham apanhado quando pequenos; sem dúvida não foram açoitados por seus crimes. A sequência habitual era: por um primeiro delito, um aviso; uma bronca, quase sempre sem julgamento. Depois de vários delitos, uma sentença de prisão, mas com a sentença suspensa e o jovem colocado em um período de experiência. Um garoto podia ser preso muitas vezes e condenado várias vezes antes que fosse punido... e então a punição seria o mero confinamento, junto de outros como ele, de quem aprenderia ainda mais hábitos criminosos. Caso não se metesse em maiores confusões enquanto confinado, podia em geral se safar da maior parte dessa punição já suave, e ser colocado em um período de esperiência... "Liberdade condicional", no jargão da época. (p. 158-9)

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"Essa incrível série de acontecimentos podia continuar por anos, enquanto os seus crimes aumentavam em frequência e perversidade, sem nenhuma punição a não ser pelos raros confinamentos, que eram aborrecidos, porém confortáveis. Então, de repente, por lei, em geral em seu aniversário de dezoito anos, esse assim chamado 'deliquente juvenil' se tornava um criminoso adulto... e, algumas vezes, em questão de semanas ou meses, acabava numa cela do corredor da morte, esperando a execução por assassinato." [...] (p. 159)

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[...] esse método testado pelo tempo de instilar virtude social e respeito pela lei nas mentes dos jovens não agradava a uma classe pré-científica e pseudoprofissional que chamavam a si mesmos de "assistentes sociais" ou, algumas vezes, "psicólogos infantis". Pelo jeito, isso era simples demais para eles, já que qualquer um podia fazê-lo, usando apenas a paciência e a firmeza necessárias para treinar um cachorrinho. Algumas vezes me perguntei se eles nutriam um interesse velado na desordem, mas não devia ser: adultos quase sempre agem pelos "mais elevados motivos" conscientes, não importa qual seja o seu comportamento. (p. 160)

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[...] Tinham uma teoria da moral e tentavam viver por ela (eu não devia ter zombado de seus motivos), mas a teoria deles estava errada... Metade dela era um ilusão tonta, a outra metade era charlantanismo racionalizado. Quanto mais seguros dela, mais perdidos ficavam. Veja bem, eles pressupunham que o Homem tem um instituto moral. (p. 160-1)

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[...] você tem uma consciência cultivada, muito cuidadosamente treinada. O Homem não tem instinto moral. Ele não nasce com um senso moral. Você não nasceu com um, nem eu nasci... e um cachorrinho não tem nenhum. Nós adquirimos um senso moral, quando o fazemos, por meio de treinamento, experiência e trabalho duro da mente. Aqueles infelizes criminosos juvenis nasceram sem nenhum senso moral, da mesma forma que eu e você, e não tiveram nenhum chance de adquirir um; suas experiências não permitiriam. O que é um "sendo moral"? É uma elaboração do instinto de sobrevivência. O instinto de sobrevivência é a natureza humana em si, e cada aspecto de nossas personalidades deriva dele. Qualquer coisa que entre em conflito com o instinto de sobrevivência faz com que, cedo ou tarde, o indivíduo seja eliminado e, dessa forma, deixa de aparecer em gerações futuras. Essa verdade é matematicamente demonstrável, verificável em qualquer lugar; é o único imperativo eterno controlando tudo o que fazemos. (p. 161)

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[...] Uma teoria da moral cientificamente verificável precisa estar enraizada do instinto de sobrevivência do indivíduo... e em nenhum outro lugar!... e precisa descrever corretamente a hierarquia da sobrevivência, apontar as motivações em cada nível e resolver todos os conflitos. (p. 162)

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"Esses criminosos juvenis chegaram a um baixo nível. Nascidos apenas com o instinto de sobrevivência, a moralidade mais elevada a que chegaram foi uma duvidosa lealdade a um grupo de seus iguais, uma gangue de rua [...]. (p. 162)

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"A base de toda moralidade é o dever, um conceito que tem a mesma relação com o grupo que o interesse próprio tem o indivíduo. Ninguém pregou o dever para essas crianças de um jeito que pudessem entender... Ou seja, com uma sova. Mas a sociedade em que estavam contou a elas inúmeras vezes sobre os seus 'direitos'. (p. 162-3)

"Os resultados deviam ter sido previsíveis, já que o ser humano não tem nenhum tipo de direito natural". (p. 163)

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[...] A liberdade nunca é inalienável, ela precisa ser reconquistada constantemente com o sangue dos patriotas, ou ela sempre desaparece. De todos os supostos "direitos humanos naturais" que tenham algumas vez sido inventados, a liberdade é aquele com menor probabilidade de ser barato, e nunca é grátis. (p. 163)

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- Eu te disse que "deliquente juvenil" é uma contradição em termos. "Delinquente" significa "o que falhou no dever". Mas dever é uma virtude adulta. De fato, um jovem se torna um adulto quando, e apenas quando, adquire conhecimento dos deveres e se dedica a eles com mais apreço que ao amor-próprio com que nasceu. Nunca houve, não pode haver, um "deliquente juvenil". Mas para cada criminoso juvenil, há sempre um ou mais adultos deliquentes: pessoas de idade madura que ou não sabem o seu dever, ou que, sabendo, falharam em cumpri-lo. (p. 164)

"E esse foi o ponto fraco que destruiu aquilo que foi, em vários aspectos, uma cultura admirável. Os arruaceiros mirins que vagavam pelas ruas eram sintomas de um doença maior; seus cidadãos (todos eles eram considerados como tais) glorificavam a tal mitologia dos 'direitos'... e perderam de vista os deveres. Nenhuma nação, assim constituída, pode perdurar". (p. 164)

(Robert A. Heinlein (1907-1988). Tropas Estelares; tradução Carlos Angelo; São Paulo: Aleph, 2015)

domingo, 3 de julho de 2016

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS - ÉTICA MATERIAL


As principais correntes da ética dos bens são:


o hedonismo

(de hedonai, 

palavra grega, que significa “eu me deleito”), 

que torna o moral dependente do prazer sensível.


Os cirenaicos defenderam essa doutrina que, 

esporadicamente, 

surge na de alguns autores materialistas.


O eudemonismo 

(de eudaimonia, que significa felicidade) 

tem como fim a felicidade espiritual, 

o estado de contentamento da alma.


Foi essa doutrina defendida por Sócrates.


O utilitarismo 

é a doutrina que defende a moral pela utilidade 

ou bem-estar do individuo ou da colectividade.


O perfeccionsimo 

afirma que o moral está na plena realização 

da essência humana, na perfeita conducção, 

segundo a natureza racional do homem.


Era essa a opinião de Aristóteles.


O naturalismo 

prega o pleno desenvolvimento 

de todas as inclinações e impulsos 

da natureza humana, como facto de moralidade.


O evolucionismo 

afirma que o progresso da humanidade 

é o fim determinante da moralidade.


A ética religiosa 

afirma que a moralidade 

está na conformidade com a vontade de Deus, 

e o mal é rebelar-se contra essa vontade.


(Mário Ferreira dos Santos, Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais, p. 540)


Mário Ferreira dos Santos

A ética material 

pode ser considerada como 

ética dos bens e ética dos valores.

A ética dos bens 


é aquela que torna a moral 

dependente dos bens reais, 

que são objetos de estimação do homem, 

ou dos bens ideais, 

que são objetos finais 

de sua estimação ou aspiração.


Bom, portanto, 

é tudo quanto permite ou auxilia 

o alcance desses bens ou fins.

Tais são o prazer, 


a felicidade, 

a utilidade, 

o fortalecimento da vida, etc.

Outra divisão, 

que se pode fazer sobre a ética dos bens, 

consiste em fundá-la 

no destino que se dê aos bens 

ou fins a que se aspira:


se tendem para o indivíduo, 

temos o individualismo,


se para a comunidade, 

temos o universalismo.


O individualismo é egoísmo, 

quando o que actua quer ser útil a si mesmo; 

é altruísmo, quando quer favorecer a outros.


Por isso, pode haver um individualismo altruísta,

quando se destina 

aos indivíduos da colectividade

os bens ou fins desejados.


Critica-se a ética dos bens, 

em todas as suas tendências, 

porque não explica a moral, 

por já a aceitar previamente como dada.


(Mário Ferreira dos Santos, Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais, p. 540)

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS - ÉTICAS: APRIORÍSTICA, EMPÍRICA E IMANENTE


Mário Ferreira dos Santos
Quanto a origem,
pode dividir-se a ética em
ética apriorística,
que a afirma independentemente da experiência
(a de Kant, por exemplo) e
ética empírica,
que afirma provir o moral da experiência.
Entre os primeiros temos
Sócrates, 
Kant, 
Platão, 
Aristóteles, 
Descartes, 
Spinoza, 
Leibnitz, etc. 

Entre os que defendem a segunda posição, temos
Spencer,
Darwin,
Morgan,
Lubbock, Bastian e muitos outros.
Uma terceira escola,
não examinada pelos éticos, é a da
ética imanente,


Pierre-Joseph Proudhon
defendida por Proudhon,


Piotr Alexeyevich Kropotkin
e que foi completada por Kropotkine.
Para Proudhon,
a ética é imanente a todo o humano,
e há princípios fundamentais de ordem intrínseca
em tôdas as coisas, actos, processos do homem.
Kropotkine quis fundar uma ética biológica,
em base no apoio-mútuo.
Os animais bissexuados necessitam
apoiar-se uns nos outros.
O homem não pode viver isolado,
e necessita de seus semelhantes.
Tôda a vida em comum é uma vida de apoio-mútuo,
em que uns têm de apoiar-se nos outros
por uma necessidade biológica.
Por isso, tudo quanto fortaleça êsse apôio,
a união entre os homens,
o fortalecimento do indivíduo,
sempre em benefício da colectividade,
é moral.
 
A moral está fundada, assim na própria biologia.
O homem com suas idéias,
nada mais faz do que concretizar,
no mundo do espírito,
o que é ensinado pela sua natureza biológica.

(Mário Ferreira dos Santos, verbete ética, in Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais, p. 542)

MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS - A REALIDADE DOS VALORES


Mário Ferreira dos Santos
A um valor positivo 

antepõe-se sempre um valor negativo, 

que lhe corresponde.

Só os valôres podem ser bons ou maus.

Um pensamento não é bom nem mau.

E quando se diz isso em linguagem comum, 

faz-se em sentido translatício,

porque ser bom 

ou ser mau 

cabe só aos valôres. 

Nisso está a forma de realidade dos mesmos.



(Mário Ferreira dos Santos, verbete ética, in Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais, p. 542)

É BOM CITAR: MARXISMO, TEORIA DO VALOR E COLAPSO DAS DEMOCRACIAS NAS TROPAS ESTELARES



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- É claro,  a definição marxista  de valor é ridícula. Todo o trabalho que alguém se importe em agregar a uma torta de lama não vai transformá-la numa torta de maçã; ela continua sendo uma torta de lama, de valor zero. Por outro lado, trabalho malfeito pode facilmente subtrair valor; um cozinheiro sem talento pode transformar massa saudável e maçãs verdes frescas, que já têm algum valor, numa mistureba indigesta, de valor zero. Inversamente, um grande chefe de cozinha pode moldar esses mesmos materiais num confeito de maior valor que uma torta de maçã comum, com não mais esforço do que um cozinheiro comum usa para preparar um doce comum.

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"Esses exemplos culinários deitam por terra a teoria  marxista do valor, a falácia da qual provém toda a fraude magnífica do comunismo, além de demonstrar a verdade da definição sensata do valor, medida em termos de uso" (p. 126-7)

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..."Valor" não tem significado a não ser em relação a seres vivos. O valor de algo é sempre relativo a uma pessoa específica, é completamente pessoal e diferente em quantidade para cada humano vivo. O "valor de mercado" é uma ficção, apenas uma estimativa grosseira da média dos valores pessoais, todos os quais devem ser quantitativamente diferentes ou o comércio seria impossível.


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- Essa relação extremamente pessoal, o "valor", tem dois fatores para um ser humano: primeiro, o que ele pode fazer com uma coisa, a sua utilidade para ele... e, segundo, o que ele precisa fazer para consegui-la, o seu custo para ele. Há uma velha canção que defende que "as melhores coisas da vida são de graça". Falso! Completamente falso! Essa foi a trágica falácia que provocou a decadência e o colapso das democracias do século XX; aqueles nobres experimentos falharam porque o povo foi levado a acreditar que podia simplesmente votar por qualquer coisa que eles quisessem... e recebê-la, sem trabalho duro, sem suor, sem lágrimas. Nada de valor é grátis. Mesmo o sopro da vida é pago no nascimento, lutando e sofrendo para respirar. [...] (p. 128)


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No meu entender, ao compor aquela canção, o poeta quis dizer que as melhores coisas da vida precisam ser compradas com outra coisa, não com dinheiro. O que é verdade, da mesma forma que o significado literal das palavras é falso. As melhores coisas da vida estão além do dinheiro; o preço delas é sofrimento e suor e dedicação... e o preço exigido pela mais preciosa de todas as coisas da vida é a própria vida. O supremo custo em troca do perfeito valor. (p. 129)

(Robert A. Heinlein (1907-1988). Tropas Estelares; tradução Carlos Angelo; São Paulo: Aleph, 2015)



É BOM CITAR: O SENHOR DO MUNDO E O PANTEÍSMO


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"Panteísmo, ele compreendia, era o que ele próprio sustentava; 

para ele 'Deus' era a totalidade da vida criada em desenvolvimento, 

e a unidade impessoal era a essência de Seu ser; 

a concorrência era portanto a grande heresia que punha homem contra homem e atrasava o progresso, 

pois, como via, o progresso está na fusão do indivíduo com a família, 

da família com a comunidade, 

da comunidade com o continente e do continente com o mundo. 

Por fim, em qualquer momento o mundo nada mais é que o estado de ânimo de uma vida impessoal. 

Isto representava, de fato, 

deixar de lado a idéia católica bem como a do sobrenatural, 

 representava uma união de destinos terrenos, 

um abandono do individualismo por um lado e do sobrenaturalismo por outro. 

Era traição apelar de um Deus Imanente para um Deus Transcendente; 

não havia Deus Transcendente algum; 

Deus, até onde podia ser conhecido, 

era o homem" 

(Robert Hugh Benson, in O Senhor do Mundo, p. 35)

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