- É claro, a definição marxista de valor é ridícula. Todo o trabalho que alguém se importe em agregar a uma torta de lama não vai transformá-la numa torta de maçã; ela continua sendo uma torta de lama, de valor zero. Por outro lado, trabalho malfeito pode facilmente subtrair valor; um cozinheiro sem talento pode transformar massa saudável e maçãs verdes frescas, que já têm algum valor, numa mistureba indigesta, de valor zero. Inversamente, um grande chefe de cozinha pode moldar esses mesmos materiais num confeito de maior valor que uma torta de maçã comum, com não mais esforço do que um cozinheiro comum usa para preparar um doce comum.
"Esses exemplos culinários deitam por terra a teoria marxista do valor, a falácia da qual provém toda a fraude magnífica do comunismo, além de demonstrar a verdade da definição sensata do valor, medida em termos de uso" (p. 126-7)
..."Valor" não tem significado a não ser em relação a seres vivos. O valor de algo é sempre relativo a uma pessoa específica, é completamente pessoal e diferente em quantidade para cada humano vivo. O "valor de mercado" é uma ficção, apenas uma estimativa grosseira da média dos valores pessoais, todos os quais devem ser quantitativamente diferentes ou o comércio seria impossível.
- Essa relação extremamente pessoal, o "valor", tem dois fatores para um ser humano: primeiro, o que ele pode fazer com uma coisa, a sua utilidade para ele... e, segundo, o que ele precisa fazer para consegui-la, o seu custo para ele. Há uma velha canção que defende que "as melhores coisas da vida são de graça". Falso! Completamente falso! Essa foi a trágica falácia que provocou a decadência e o colapso das democracias do século XX; aqueles nobres experimentos falharam porque o povo foi levado a acreditar que podia simplesmente votar por qualquer coisa que eles quisessem... e recebê-la, sem trabalho duro, sem suor, sem lágrimas. Nada de valor é grátis. Mesmo o sopro da vida é pago no nascimento, lutando e sofrendo para respirar. [...] (p. 128)
No meu entender, ao compor aquela canção, o poeta quis dizer que as melhores coisas da vida precisam ser compradas com outra coisa, não com dinheiro. O que é verdade, da mesma forma que o significado literal das palavras é falso. As melhores coisas da vida estão além do dinheiro; o preço delas é sofrimento e suor e dedicação... e o preço exigido pela mais preciosa de todas as coisas da vida é a própria vida. O supremo custo em troca do perfeito valor. (p. 129)
(Robert A. Heinlein (1907-1988). Tropas Estelares; tradução Carlos Angelo; São Paulo: Aleph, 2015)