Descartes fundou seu pensamento na suposição falsa de que o mundo
é uma coisa demoníaca.
Para tanto criou a hipótese que nega a existência de Deus, como
fonte da verdade.
Em seguida confessa que necessita de um esforço de
imaginação artística, de criação literária, mediante a suspensão do próprio
juízo, ao dizer:
“Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é soberana fonte de verdade, mas certo gênio maligno, não menos astuto e enganador que poderoso, que empregou toda sua indústria em enganar-me”
(DESCARTES, René. Meditação Primeira. Meditação Segunda. Meditações metafísicas. 2. ed. Introdução e notas Homero Santiago. Tradução Maria Ermantina Galvão. Tradução dos textos introdutórios Homero Santiago. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 38)“não está em meu poder alcançar o conhecimento de alguma verdade, pelo menos está em meu poder suspender meu juízo”
Por fim, com base numa criação literária inspirada num tipo de
diabo, eis que está fundada a Filosofia Moderna!
Você não está contando toda a história das Meditações. O mundo é "reconquistado" com um ato de fé na bondade de Deus, na terceira meditação, se bem me lembro. Deus não é mau (o gênio maligno), logo as representações que tenho do mundo não podem estar sistematicamente em descompasso com o mundo, logo eu posso ter conhecimento empírico, etc, etc.
ResponderExcluirVocê pode dizer que esse ato de fé é, antes, um ato de desespero. Serei obrigado a concordar. Certamente o ceticismo moderno é coisa do diabo. Acredito que você possa fazer mais para revelar isso do que bater pé em relação ao experimento mental cartesiano. Só a busca pela certeza, como Descartes a coloca, já é diabólica (soberba) suficiente.
Essa é a ironia fundamental do cartesianismo, em busca da certeza científica, a única coisa que consegue fazer é a afirmar a certeza fundamental da fé na imaginação que se ilude com a razão que se restringe aos dados matematizáveis.
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ResponderExcluirEstá errado Werner; fazia todo o sentido o que Descartes fez, porque era uma época em que se tomava a bruxaria, feitiçaria, etc, como fenômenos de fato e de direito, havia verdade nestes âmbitos. Olha essas citações:
ResponderExcluir"Descartes pode ter respondido, em particular, aos julgamentos de Loudun de 1634, argumentando que (como sugeriu Richard Popkin), já que eles colocavam a possibilidade da contaminação
demoníaca de todas as formas de evidência, "conscientes ou não, podemos ser todos vítimas do demonismo e ser incapazes de dizer que somos vítimas, devido à ilusão sistemática causada pelo agente dernoníaco" [Stuart Clark - Pensando com demônios]
"Para o historiador da demonologia, portanto, não é nenhuma surpresa que Descartes, apresentando a defesa mais enérgica que poderia imaginar para a incerteza do conhecimento, tenha recorrido à hipótese do demônio - a possibilidade de que algum mauvais génie pudese
transformar o conhecimento de todas as coisas externas em ilusões e sonhos, e
reduzir todas as faculdades para verificar esse conhecimento a um estado de total
falibilidade. Em sua opinião, somente a mais abrangente e radical forma de dúvida
poderia servir de medida para a certeza da verdade" [Stuart Clark - Pensando com demônios]