sexta-feira, 1 de julho de 2016

Não é à toa que filosofia moderna enlouqueceu o mundo!



Descartes fundou seu pensamento na suposição falsa de que o mundo é uma coisa demoníaca.

Para tanto criou a hipótese que nega a existência de Deus, como fonte da verdade.

Em seguida confessa que necessita de um esforço de imaginação artística, de criação literária, mediante a suspensão do próprio juízo, ao dizer:

Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é soberana fonte de verdade, mas certo gênio maligno, não menos astuto e enganador que poderoso, que empregou toda sua indústria em enganar-me

não está em meu poder alcançar o conhecimento de alguma verdade, pelo menos está em meu poder suspender meu juízo
(DESCARTES, René. Meditação Primeira. Meditação Segunda. Meditações metafísicas. 2. ed. Introdução e notas Homero Santiago. Tradução Maria Ermantina Galvão. Tradução dos textos introdutórios Homero Santiago. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 38)



Por fim, com base numa criação literária inspirada num tipo de diabo, eis que está fundada a Filosofia Moderna!

O reducionismo é o desconforto diante da complexidade da realidade.

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Em um arroubo retórico, para fundar seu idealismo mental, Descartes afirma que existem certas coisas que serão certas “esteja eu acordado ou dormindo” (p. 35).


Para confirmar sua hipótese propõe que sejam consideradas verdadeiras somente “coisas muito simples e muito gerais”, pois conterão “algo de certo e indubitável”, enquanto que coisas compostas “são mui duvidosas e incertas” (p. 35).


E assim nasce a Ciência Moderna, com o “desejo de encontrar alguma coisa constante e segura nas ciências” (p. 37), mas com um medo terrível de lidar com coisas mais complexas que uma equação matemática.

Daí seguiu-se bifurcação entre ciências naturais (leia-se: matematizáveis) e as humanidades, divisão que tentamos sanar até hoje!

(DESCARTES, René. Meditações metafísicas. 2. ed. Introdução e notas Homero Santiago. Tradução Maria Ermantina Galvão. Tradução dos textos introdutórios Homero Santiago. São Paulo: Martins Fontes, 2005)

 

sábado, 25 de junho de 2016

É BOM CITAR: O trivium e o quadrivium segundo Rosenstock-Huessy

...a descoberta de que o discurso racional pressupõe o discurso ritualístico.
Descobrimos que a lógica de nossas escolas cobria, na melhor das hipóteses, um quarto do território real da lógica.
Antes de qualquer coisa possa ser computada, calculada, observada ou testada, ela tem de ter sido algo nomeado, com que se falou, com que se operou, algo com que se teve alguma experiência.
Com suas generalizações e numerais, a ciência priva as coisas de nomes. Mas não pode fazer isso senão com coisas que previamente se revestiram de nomes.
A ciência é uma aproximação secundária e abstrata à realidade.
Devemos estar imersos e enraizados num universo nomeado, para depois dele nos podermos emancipar pela ciência. (p. 218)
Esta breve investigação das novas vias mostra que, dentre as sete artes liberais, o chamado trivium - gramática, retórica e lógica - é o que mais se beneficia de nossos estudos.
Nossa abordagem eleva as "trivialidades" desses três campos introdutórios do saber à estatura de ciências plenamente desenvolvidas.
Elas tornar-se-ão as grandes ciências do futuro.
Tal ascensão ao poder teve um paralelo quatrocentos anos atrás, quando o chamado quadrivium (aritmética, geometria, música, astronomia) e o trivium (gramática, retórica, lógica) não passavam de meros serviçais e ferramentas auxiliares.
É preciso substituir a faculdade de direito por todo um conjunto de ciências sociais, incluindo uma acerca de nossa própria consciência.
A consciência não funciona senão quando a mente responde a imperativos e utiliza metáforas e símbolos.
Até os cientistas devem falar com confiança e segurança antes de poder pensar analiticamente. (p. 219)
Que é um símbolo? Que é uma metáfora? Constituem o pão nosso de cada dia? Símbolos são fala cristalizada. E a fala cristaliza-se em símbolos porque, em seu estado criativo, é metafórica. Símbolos e metáforas relacionam-se como a juventude e a velhice da linguagem. (p. 219-20)
Até os símbolos dos lógicos a provam... são fala cristalizada.
A fala deve levar aos símbolos. Os símbolos resultam da fala. "Ouvimos" os símbolos como se fossem fala. "Olhamos" para a fala porque ela nos levará aos símbolos. (p. 220)
Os símbolos representam o estado "real" ou principal de uma pessoa a despeito de quais aparências. Representam meu melhor eu em sua ausência…
Isso nos dá uma pista dos autênticos lugares dos símbolos. Eles sucedem a atos de investidura, por meio dos quais se tornam indeléveis e importantes elementos da realidade.
Um ritual antecede ao símbolo. Se nenhum ritual investiu a pessoa, o símbolo não passa de mero brinquedo frívolo. (p. 221)
Quanto mais seriamente o ritual é "falado", mais o símbolo se fixa. Não há, porém, símbolo sem fala.
Os símbolos reiteram o fato de que a fala visa à verdade de longo alcance e de que, para tanto, ela procura substituir as aparências do mundo visível por uma ordem mais elevada,  melhor ou mais penetrante.
Porque o símbolo mostra melhor sua eficiência após o término da cerimônia de investidura, e concebem-se as cerimônias de investidura precisamente como um poder capaz de criar um segundo mundo.
A linguagem humana é metafórica por definição. Nada nela é o que é. Tudo significa algo que, em sim mesmo, não é. (p. 222)


Fonte: Eugen Rosenstock-Huessy (1888-1973) A origem da linguagem; edição e notas Olavo de Carvalho e Carlos Nougué: introdução, Harold M. Sathmer e Michael Gorman-Thelen: tradução Pedro Sette Câmara, Marcelo de Polli Bezerra, Márcia Xavier de Brito e Maria Inêz Panzoldo de Carvalho. - Rio de Janeiro: Record, 2002.


É BOM CITAR: PALAVRA, RITO, SÍMBOLO E A ORIGEM DA LINGUAGEM

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As palavras são como machados e espadas
antes que o humor lhes tire o gume,
pois o ritual verbal varre longos corredores de tempo
para o futuro 
e para o passado, 
a fim de que a vida de um homem 
não permaneça subumana.
(Eugen Rosenstock-Huessy, A origem da linguagem, p. 177-8)
 
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É uma lei: 
o homem não se torna humano 
sem que determinada organização física 
e indeterminado órgão social 
- ou o corpo do homem e seu caráter temporal - sejam integrados numa unidade.
O ritual, 
que consiste em cerimonial e memória nomeada, 
é o processo dessa integração.
Por isso ritual é medido em geração; 
a medida da perfeição de um ritual 
é o seu poder de atar várias gerações de homens.
Para interpretar o ritual primário, 
talvez seja melhor concentrarmo-nos na questão do poder. 
Abrir corredores de trinta ou quarenta anos 
em direção ao passado e ao futuro requer poder.
Requer muito mais poder 
do que aquele que atribuímos à fala.
(Eugen Rosenstock-Huessy, A origem da linguagem, 178)

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O ritual tribal comunicava religião, 
lei, 
escrita 
e fala.
O ritual criou o tempo 
- como passado e futuro - , 
o poder 
- como liberdade e sucessão -, 
a ordem 
- como título e nome - , 
a expectativa 
- como cerimônia e vestuário - , 
a tradição 
- como canto fúnebre e mito do herói.
O ritual ligou o homem ao tempo, 
e isso é expresso pelo termo "religião"
(Eugen Rosenstock-Huessy (1888-1973) A origem da linguagem, p. 187-8)

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Um ritual antecede ao símbolo. 
Se nenhum ritual investiu a pessoa, 
o símbolo não passa de mero brinquedo frívolo.
(Eugen Rosenstock-Huessy, A origem da linguagem, p. 221)



sexta-feira, 24 de junho de 2016

É BOM CITAR: SAÚDE E RESPONSABILIDADE





Necessitamos 

que alguém nos dirija a palavra,

senão enlouquecemos ou adoecemos.

A primeira condição para a saúde 


é que alguém fale conosco 

com sinceridade de propósitos,

como se fôssemos únicos.



(Eugen Rosenstock-Huessy, A origem da linguagem, p. 231)





A pessoa que nunca foge à responsabilidade,

que sabe que não pode fugir 


à responsabilidade,

adquire o direito de dar ordens.



(Eugen Rosenstock-Huessy, A origem da linguagem, p. 234)







Quem está pronto para abandonar-se 

a si mesmo

e depositar toda a sua fé 


no nome de outra pessoa

é trazido para fora 


e para cima de si mesmo,

e se torna depositário,

líder

e representante do nome invocado.



(Eugen Rosenstock-Huessy, A origem da linguagem, p. 237)






Há um termo algo batido 

para designar essa forma da saúde do falante;

chamamo-la "responsabilidade".

Mas o termo perdeu sua pujança 


por ter sido usado de maneira 

demasiado ativa.

"Vem, Johnny!" é um responsório 


em que mãe e filho se perdem a si mesmos:

ela lançando todo o seu peso 


sobre o vocativo;

ele permitindo que o imperativo 


se acomode nele,

o paciente da ação, como num "escabelo".

Ninguém pode ser "responsável" 


sem resposta;

seria uma existência por demais unilateral.



(Eugen Rosenstock-Huessy, A origem da linguagem, p. 238)