domingo, 3 de julho de 2016

É BOM CITAR: MARXISMO, TEORIA DO VALOR E COLAPSO DAS DEMOCRACIAS NAS TROPAS ESTELARES



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- É claro,  a definição marxista  de valor é ridícula. Todo o trabalho que alguém se importe em agregar a uma torta de lama não vai transformá-la numa torta de maçã; ela continua sendo uma torta de lama, de valor zero. Por outro lado, trabalho malfeito pode facilmente subtrair valor; um cozinheiro sem talento pode transformar massa saudável e maçãs verdes frescas, que já têm algum valor, numa mistureba indigesta, de valor zero. Inversamente, um grande chefe de cozinha pode moldar esses mesmos materiais num confeito de maior valor que uma torta de maçã comum, com não mais esforço do que um cozinheiro comum usa para preparar um doce comum.

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"Esses exemplos culinários deitam por terra a teoria  marxista do valor, a falácia da qual provém toda a fraude magnífica do comunismo, além de demonstrar a verdade da definição sensata do valor, medida em termos de uso" (p. 126-7)

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..."Valor" não tem significado a não ser em relação a seres vivos. O valor de algo é sempre relativo a uma pessoa específica, é completamente pessoal e diferente em quantidade para cada humano vivo. O "valor de mercado" é uma ficção, apenas uma estimativa grosseira da média dos valores pessoais, todos os quais devem ser quantitativamente diferentes ou o comércio seria impossível.


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- Essa relação extremamente pessoal, o "valor", tem dois fatores para um ser humano: primeiro, o que ele pode fazer com uma coisa, a sua utilidade para ele... e, segundo, o que ele precisa fazer para consegui-la, o seu custo para ele. Há uma velha canção que defende que "as melhores coisas da vida são de graça". Falso! Completamente falso! Essa foi a trágica falácia que provocou a decadência e o colapso das democracias do século XX; aqueles nobres experimentos falharam porque o povo foi levado a acreditar que podia simplesmente votar por qualquer coisa que eles quisessem... e recebê-la, sem trabalho duro, sem suor, sem lágrimas. Nada de valor é grátis. Mesmo o sopro da vida é pago no nascimento, lutando e sofrendo para respirar. [...] (p. 128)


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No meu entender, ao compor aquela canção, o poeta quis dizer que as melhores coisas da vida precisam ser compradas com outra coisa, não com dinheiro. O que é verdade, da mesma forma que o significado literal das palavras é falso. As melhores coisas da vida estão além do dinheiro; o preço delas é sofrimento e suor e dedicação... e o preço exigido pela mais preciosa de todas as coisas da vida é a própria vida. O supremo custo em troca do perfeito valor. (p. 129)

(Robert A. Heinlein (1907-1988). Tropas Estelares; tradução Carlos Angelo; São Paulo: Aleph, 2015)



É BOM CITAR: O SENHOR DO MUNDO E O PANTEÍSMO


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"Panteísmo, ele compreendia, era o que ele próprio sustentava; 

para ele 'Deus' era a totalidade da vida criada em desenvolvimento, 

e a unidade impessoal era a essência de Seu ser; 

a concorrência era portanto a grande heresia que punha homem contra homem e atrasava o progresso, 

pois, como via, o progresso está na fusão do indivíduo com a família, 

da família com a comunidade, 

da comunidade com o continente e do continente com o mundo. 

Por fim, em qualquer momento o mundo nada mais é que o estado de ânimo de uma vida impessoal. 

Isto representava, de fato, 

deixar de lado a idéia católica bem como a do sobrenatural, 

 representava uma união de destinos terrenos, 

um abandono do individualismo por um lado e do sobrenaturalismo por outro. 

Era traição apelar de um Deus Imanente para um Deus Transcendente; 

não havia Deus Transcendente algum; 

Deus, até onde podia ser conhecido, 

era o homem" 

(Robert Hugh Benson, in O Senhor do Mundo, p. 35)

https://www.facebook.com/quidetica/posts/1652493568352536

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Não é à toa que filosofia moderna enlouqueceu o mundo!



Descartes fundou seu pensamento na suposição falsa de que o mundo é uma coisa demoníaca.

Para tanto criou a hipótese que nega a existência de Deus, como fonte da verdade.

Em seguida confessa que necessita de um esforço de imaginação artística, de criação literária, mediante a suspensão do próprio juízo, ao dizer:

Suporei, pois, que há não um verdadeiro Deus, que é soberana fonte de verdade, mas certo gênio maligno, não menos astuto e enganador que poderoso, que empregou toda sua indústria em enganar-me

não está em meu poder alcançar o conhecimento de alguma verdade, pelo menos está em meu poder suspender meu juízo
(DESCARTES, René. Meditação Primeira. Meditação Segunda. Meditações metafísicas. 2. ed. Introdução e notas Homero Santiago. Tradução Maria Ermantina Galvão. Tradução dos textos introdutórios Homero Santiago. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 38)



Por fim, com base numa criação literária inspirada num tipo de diabo, eis que está fundada a Filosofia Moderna!

O reducionismo é o desconforto diante da complexidade da realidade.

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Em um arroubo retórico, para fundar seu idealismo mental, Descartes afirma que existem certas coisas que serão certas “esteja eu acordado ou dormindo” (p. 35).


Para confirmar sua hipótese propõe que sejam consideradas verdadeiras somente “coisas muito simples e muito gerais”, pois conterão “algo de certo e indubitável”, enquanto que coisas compostas “são mui duvidosas e incertas” (p. 35).


E assim nasce a Ciência Moderna, com o “desejo de encontrar alguma coisa constante e segura nas ciências” (p. 37), mas com um medo terrível de lidar com coisas mais complexas que uma equação matemática.

Daí seguiu-se bifurcação entre ciências naturais (leia-se: matematizáveis) e as humanidades, divisão que tentamos sanar até hoje!

(DESCARTES, René. Meditações metafísicas. 2. ed. Introdução e notas Homero Santiago. Tradução Maria Ermantina Galvão. Tradução dos textos introdutórios Homero Santiago. São Paulo: Martins Fontes, 2005)

 

sábado, 25 de junho de 2016

É BOM CITAR: O trivium e o quadrivium segundo Rosenstock-Huessy

...a descoberta de que o discurso racional pressupõe o discurso ritualístico.
Descobrimos que a lógica de nossas escolas cobria, na melhor das hipóteses, um quarto do território real da lógica.
Antes de qualquer coisa possa ser computada, calculada, observada ou testada, ela tem de ter sido algo nomeado, com que se falou, com que se operou, algo com que se teve alguma experiência.
Com suas generalizações e numerais, a ciência priva as coisas de nomes. Mas não pode fazer isso senão com coisas que previamente se revestiram de nomes.
A ciência é uma aproximação secundária e abstrata à realidade.
Devemos estar imersos e enraizados num universo nomeado, para depois dele nos podermos emancipar pela ciência. (p. 218)
Esta breve investigação das novas vias mostra que, dentre as sete artes liberais, o chamado trivium - gramática, retórica e lógica - é o que mais se beneficia de nossos estudos.
Nossa abordagem eleva as "trivialidades" desses três campos introdutórios do saber à estatura de ciências plenamente desenvolvidas.
Elas tornar-se-ão as grandes ciências do futuro.
Tal ascensão ao poder teve um paralelo quatrocentos anos atrás, quando o chamado quadrivium (aritmética, geometria, música, astronomia) e o trivium (gramática, retórica, lógica) não passavam de meros serviçais e ferramentas auxiliares.
É preciso substituir a faculdade de direito por todo um conjunto de ciências sociais, incluindo uma acerca de nossa própria consciência.
A consciência não funciona senão quando a mente responde a imperativos e utiliza metáforas e símbolos.
Até os cientistas devem falar com confiança e segurança antes de poder pensar analiticamente. (p. 219)
Que é um símbolo? Que é uma metáfora? Constituem o pão nosso de cada dia? Símbolos são fala cristalizada. E a fala cristaliza-se em símbolos porque, em seu estado criativo, é metafórica. Símbolos e metáforas relacionam-se como a juventude e a velhice da linguagem. (p. 219-20)
Até os símbolos dos lógicos a provam... são fala cristalizada.
A fala deve levar aos símbolos. Os símbolos resultam da fala. "Ouvimos" os símbolos como se fossem fala. "Olhamos" para a fala porque ela nos levará aos símbolos. (p. 220)
Os símbolos representam o estado "real" ou principal de uma pessoa a despeito de quais aparências. Representam meu melhor eu em sua ausência…
Isso nos dá uma pista dos autênticos lugares dos símbolos. Eles sucedem a atos de investidura, por meio dos quais se tornam indeléveis e importantes elementos da realidade.
Um ritual antecede ao símbolo. Se nenhum ritual investiu a pessoa, o símbolo não passa de mero brinquedo frívolo. (p. 221)
Quanto mais seriamente o ritual é "falado", mais o símbolo se fixa. Não há, porém, símbolo sem fala.
Os símbolos reiteram o fato de que a fala visa à verdade de longo alcance e de que, para tanto, ela procura substituir as aparências do mundo visível por uma ordem mais elevada,  melhor ou mais penetrante.
Porque o símbolo mostra melhor sua eficiência após o término da cerimônia de investidura, e concebem-se as cerimônias de investidura precisamente como um poder capaz de criar um segundo mundo.
A linguagem humana é metafórica por definição. Nada nela é o que é. Tudo significa algo que, em sim mesmo, não é. (p. 222)


Fonte: Eugen Rosenstock-Huessy (1888-1973) A origem da linguagem; edição e notas Olavo de Carvalho e Carlos Nougué: introdução, Harold M. Sathmer e Michael Gorman-Thelen: tradução Pedro Sette Câmara, Marcelo de Polli Bezerra, Márcia Xavier de Brito e Maria Inêz Panzoldo de Carvalho. - Rio de Janeiro: Record, 2002.