quinta-feira, 24 de novembro de 2016

PETER KREEFT ENSINOU: A ESSÊNCIA DO INFERNO É A VAIDADE


A essência do Inferno não é o sofrimento, 

mas a vaidade; 

não a dor, 

mas a falta de propósito; 

não o sofrimento físico, 

mas o espiritual. 

Dante estava certo ao colocar estes dizeres sobre os portões do Inferno: 

"Abandonai toda a esperança, ó vós que entrais".

 



O sofrimento não é a essência do Inferno porque é possível sofrer com esperança. 

Foi assim para Jo. 

Ele nunca perdeu a fé nem a esperança 

(que é a fé direcionada para o futuro), 

e seu sofrimento mostrou-se purificador, 

purgativo, 

educativo: 

deu-lhe olhos para ver a Deus. 

Esse é o porquê de estarmos na terra.

Finalmente, 

o Céu é o amor, 

porque o Céu é essencialmente a presença de Deus, 

e Deus é essencialmente amor (cf. Jo 4,8).


Peter Kreeft, Três filosofias de vida. Tradução de Magno Mesquita. Editora Quadrante. São Paulo, 2015, p. 10.

sábado, 12 de novembro de 2016

PETER KREEFT ENSINOU: A EXISTÊNCIA DO MAL REFUTA A TEORIA DA EVOLUÇÃO


...a mesma coisa que parece depor contra Deus

depõe também contra o ateísmo.

A própria existência do mal

prova a existência de Deus.


Eu explico como.

http://veja.abril.com.br/historia/israel/ciencia-teoria-big-bang.shtml

Se não houvesse um Deus,

um criador,

e nenhum ato de criação,

então nós e o nosso mundo

seríamos o que somos 

por simples e mera evolução.


http://mythologian.net/ouroboros-symbol-of-infinity/
E, se não houve nenhum ato de criação,

então o universo sempre existiu,

e não houve o ato inicial.

Mas se o universo tem se expandido 

por um tempo infinito

- e deve ter havido um  tempo infinito 

se não houve início,

um primeiro momento, 

um ato de criação -

então o universo 

já deveria ser perfeito a esta altura.


http://comarte.upf.br/?p=4208
Já houve tempo suficiente

para que a evolução fosse terminada.

Não deveria ter restado nenhum mal.


Gustave Doré, a Floresta dos Suicidas de Dante Alighieri, Inferno (Canto XIII).
De forma que a própria existência do mal,

da imperfeição e do sofrimento no universo

provam que os ateus estão errados 

em relação ao universo.

KREEFT, Peter. Buscar sentido no sofrimento. Tradução de Alexandre Patriarca. São Paulo: Edições Loyola, 1995, p. 40-1.

sábado, 5 de novembro de 2016

HEINLEIN'S THE MAN: A FALÁCIA CARTESIANA


O conto que serve de fonte a esta postagem se denomina "Pelos cordões de suas botas", trata-se de uma narrativa sobre viagens no tempo e seus paradoxos, que remetem o personagem principal para algumas reflexões sobre o ego e o método científico, pois o herói é um estudante irresponsável, que está no prazo final de entrega da tese de pós-graduação:



[...] Ia ficar ali e, certamente, estava decidido nesse ponto: ia terminar a tese. Precisava comer; tinha que obter o diploma para conseguir um emprego decente. Onde era mesmo que estava?

Vinte minutos mais tarde, chegou à conclusão de que a tese teria de ser reescrita do princípio ao fim. Seu tema original, a aplicação do método empírico aos problemas da metafísica especulativa e sua expressão em fórmulas rígidas, ainda era válido, decidiu, mas havia acumulado uma enorme quantidade de dados novos e ainda não digeridos a serem incorporados. Ao reler o manuscrito, ficou surpreso ao constatar o quanto era dogmático. Caíra inúmeras vezes na falácia cartesiana de confundir o raciocínio claro com o raciocínio correto.

Tentou escrever uma versão resumida da tese mas descobriu que havia dois problemas com os quais tinha que lidar e que decididamente não estavam claros em sua mente: o problema do ego e o problema do livre-arbítrio.[...]

Uma resposta absurdamente óbvia à primeira pergunta lhe ocorreu imediatamente. O ego era ele. Cada um é cada um, uma declaração não provada e improvável, diretamente experimentada. [...]

Começou a procurar um meio de se expressar: "O ego é o ponto de consciência, o último termo numa série contínua de expansão na linha de duração da memória." Parecia uma declaração global mas não tinha certeza; teria de tentar formular aquilo matematicamente antes de poder confiar na coisa. A linguagem verbal continha tantas armadilhas esquisitas.

HEINLEIN, Robert. A. "A ameaça da Terra". Tradução de Ester Delamare Tate. Livraria Francisco Alves Editora S.A.: Rio de Janeiro, 1977, p. 77-8

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

É BOM CITAR: ÉTICA A NICÔMACO E O PRINCÍPIO DA VERDADE SUFICIENTE



"Toda a perícia e todo o processo de investigação, do mesmo modo todo o procedimento prático e toda a decisão, parecem lançar-se para um certo bem. É por isso que tem sido dito acertadamente que o bem é aquilo por que tudo anseia." (1094a 1) (p. 17)

"Parece, contudo, haver uma diferença entre os fins: uns são, por um lado, as atividades puras; outros, por outro lado, certos produtos. Há, pois, fins que existem para além das suas produções. Nesse caso, os produtos do trabalho são naturalmente melhores do que as meras atividades que os originam." (1094a 5) (p. 17)

"Sendo diversos os procedimentos práticos, as perícias e as ciências, assim também são diversos os respectivos fins. Assim é, por exemplo, o caso da saúde relativamente à medicina, da embarcação relativamente à construção naval, da vitória relativamente à estratégia militar, da riqueza relativamente à economia." (1094a 10) (p. 17)

"Um tal saber poderá ser compreendido suficientemente, se se ganhar toda a transparência que a matéria em análise permitir." (1094b 11) (p. 19)

"É que, de fato, não tem de se procurar um mesmo grau de rigor para todas as áreas científicas, tão pouco para todas as perícias. As manifestações de nobreza e o sentido da justiça nas ações humanas, sentidos visados pela perícia política, envolvem uma grande diferença de opinião e muita margem para erro, tanto que parecem existir apenas por convenção e não por natureza." (1094b 15) (p. 19)

"Uma mesma margem de erro parece envolver o que se possa entender por 'coisas boas', por delas poderem resultar perdas e danos para muitos. É que muitos houve já que se perderam por causa da riqueza, outros ainda por causa da coragem que quiseram exibir ." (1094b 15) (p. 19)

"Damo-nos, portanto, por satisfeitos se, ao tratarmos destes assuntos, a partir de pressupostos que admitem margem de erro, indicarmos a verdade grosso modo, segundo uma sua caracterização apenas nos seus traços essenciais. Pois, para o que acontece apenas o mais  das vezes, com pressupostos compreendidos apenas grosso modo e segundo uma sua caracterização apenas nos traços essenciais, basta que as conclusões a que chegarmos tenham o mesmo grau de rigor." (1094b 20) (p. 19)

"Na verdade, parece um erro equivalente aceitar conclusões aproximadas a um matemático e exigir demonstrações a um orador." (1094b 25) (p. 19)

"[...] Ora, as áreas de saber em causa dependem dos sentidos fixados a partir da experiência das situações da vida e são essas mesmas situações da vida que, em última análise, constituem o seu próprio tema." (1095a 1) (p. 19)

"[...] o objetivo final desta investigação não é constituir um saber teórico, mas agir." ." (1095a 5) (p. 19)

"[...] não há nenhum diferença se a juventude diz respeito à idade ou à natureza imatura do caráter. A deficiência não se constitui pelo tempo, mas por se viver exposto às paixões e se deixar ir atrás de cada uma delas." (1095a 5) (p. 19-20)

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

PETER KREEFT ENSINOU: A UNIVERSALIDADE DO SOFRIMENTO

A universalidade do sofrimento, sua inutilidade, seu tédio, as mazelas da família e a solidão de não tê-la, o império do fingimento universal, melancolia, depressão, desespero, feiura e mediocridade, são elementos da banalidade do sofrer, mas, a partir deste momento, fique com Peter Kreeft:





Não é só o caso de o sofrimento não ser merecido; é que parece ser casual e inútil, sem nenhum motivo ou razão concreta; puro acaso, apenas espalhando o mal sem fim. Para todo aquele que se torna um herói e um santo por meio do sofrimento, há dez outros que parecem perder sua humanidade, tornar-se depressivos ou desesperados (p. 19-20)



E a universalidade do sofrimento – aí é que está a questão. Seu vizinho, seu melhor amigo, seu médico, seu mecânico, todos possuem mágoas profundas e abafadas das quais você nem chega a tomar conhecimento, da mesma forma que eles não conhecerão as suas. Todos, pelo mundo afora, estão sofrendo. E, se você não se apercebe disso, é porque ou é bastante ingênuo e acredita na aparência das pessoas, ou tem a pele tão resistente que não se magoa, nem sente a mágoa das outras pessoas em sua volta.



Não tenho a intenção de insultar ninguém; todos fingimos muito. Faz parte do nosso instinto animal tentar ocultar nossas feridas para que não nos façam sofrer mais. Da mesma forma que os animais cobrem suas feridas no corpo para se proteger, fazemos o mesmo com nossas feridas da alma. Estamos todos envolvidos em um grande fingimento universal.



Um aspecto dessa mágoa que todos carregamos é a família. Todos nascemos em uma família, e muitas pessoas depois se dedicam a construir novas famílias. A família é a primeira e mais íntima fonte de relacionamentos entre o eu e o outro. Mas essa fonte de nossos amores mais profundos é também fonte de nossas maiores mágoas. Se você faz parte de uma família, seja ela um lar destruído pelo divórcio, alcoolismo ou ressentimentos, seja ela unida, você sabe que aqueles mais próximos de você são os que mais o magoam, de forma deliberada ou não. E, se você não faz parte de uma família, você sabe como dói profundamente ser sozinho.



Olhe as pessoas nas ruas. Observe os seus rostos. Olhe mesmo. Especialmente na rua de uma grande cidade. Não há ali somente tráfego e confusão – isso nem é tão terrível; Jesus estava ocupado e correndo a maior parte do tempo também –, mas há sofrimento. Veja a linha dos rostos das pessoas, os músculos, a dureza, a tensão, sua maneira de olhar, o medo, a estupidez. “A grande massa dos homens leva a vida em calmo desespero”, escreveu Thoreau. (p. 20)



Fisicamente, as pessoas sofrem menos do que nunca em nosso século, especialmente nessa geração, graças em grande parte aos progressos da medicina. Existem anestésicos, uma das maiores invenções de todos os tempos. Já há cura para um número cada vez maior de doenças. A sociedade industrial oferece à maioria das pessoas uma vida confortável, uma vida que somente uns poucos ricos poderiam alcançar décadas atrás. Muitas pessoas chegam aos setenta ou oitenta anos de idade com menos de meia dúzia de ocasiões em que realmente tenham sentido uma dor, uma agonia insuportável. Há um século, seria sorte passar um único ano sem sentir uma dor que chamaríamos hoje em dia de alucinante. Imagine um mundo sem anestésicos. Pense bem. Quando foi a última vez que você sentiu a dor de uma espada cortando o seu braço? (p. 20-1)



E ainda assim as pessoas hoje se machucam bem mais psicológica e espiritualmente do que nunca. As taxas de suicídio explodem. A depressão aumenta. A violência desenfreada é moda. O tédio se espalha. (Na verdade, a própria palavra tédio não existia em nenhuma das línguas pré-modernas!) A solidão é crescente. E a procura da fuga por meio das drogas é cada vez maior.



[…]



Estamos fugindo de nós mesmos (ou tentando fugir, já que a única coisa da qual não conseguimos escapar, além do próprio Deus, é de nós mesmos) porque estamos todos magoados, bem no fundo dos nossos corações. Geralmente esse não é o tipo de sofrimento trágico, incomum, espetacular, mas um enorme manto escuro que se abate sobre nossas vidas como fuligem, cobrindo tudo de tédio, enfado, melancolia, feiura e mediocridade. Vivemos como robôs, obedientes à programação social que recebemos, sem nunca levantar as perguntas fundamentais de nossa existência. Nossas próprias paixões estão adormecidas. Vamos para a cama em obediência à publicidade carregada de sexo, e pulamos da cama em obediência aos alarmes dos relógios. Não temos quase nenhum motivo para sair da cama e quase todos os motivos para deitar nela. (p. 21)

KREEFT, Peter. Buscar sentido no sofrimento. Tradução de Alexandre Patriarca. São Paulo: Edições Loyola, 1995.

PETER KREEFT ENSINOU: A DISTINÇÃO ENTRE O NIRVANA E O ÁGAPE





Peter Kreeft na obra Buscar sentido no sofrimento distingue o Nirvana de Buda do Ágape de Cristo, este como exercício espiritual de amar o "eu" mediante o amor fraternal que me conecta ao meu próximo, enquanto que as Quatro Verdades Nobres regem um método com a finalidade de extinguir o sofrimento humano mediante a "eutanásia espiritual" do próprio "eu" pessoal, com a "redução do desejo a zero".


Afinal! O sofrimento é algo que devemos extinguir ou algo com a qual devemos conviver... troque a palavra "sofrimento" pelo pronome "eu" e faça seu próprio julgamento. 

Segue a citação, que relata quando Buda decidiu investigar o porquê do sofrimento a seu próprio modo, no que foi seguido pelos seus primeiros cinco discípulos, e: 
Peter Kreeft

“... se sentou sob uma árvore, a árvore sagrada de Bo, ou Árvore da Iluminação, na postura de lótus, determinado a não se levantar até ter encontrado a solução para o enigma. Quando finalmente se ergueu, proclamou: “Eu sou o Buda”; e anunciou suas Quatro Verdades Nobres.

Essas Verdades compõem os fundamentos do budismo. Quando um discípulo pediu a Buda respostas para outras questões importantes, ele o advertiu de que apenas as Quatro Verdades Nobres são necessárias. Elas são:

1. A vida é sofrimento (dukkha: termo que designa um osso ou eixo fora de encaixe, quebrado, afastado de si mesmo). Nascemos em sofrimento, vivemos em sofrimento, morremos em sofrimento. Ter o que não se quer ter, e não ter o que se quer ter, isso é sofrimento.

2. A causa do sofrimento (e aqui Buda finalmente decifra seu enigma) é o desejo (tanha: ambição, vontade, egoísmo). O desejo gera distância entre ser e satisfação; essa separação é sofrimento.

3. A maneira de acabar com o sofrimento é eliminar o desejo. Tal estado é o Nirvana (extinção). Remova a causa, e estará removendo o efeito. O mundo tenta acabar com a distância entre desejo e satisfação pr meio do aumento da satisfação, e nunca obtém sucesso. Buda toma o caminho oposto: reduzir o desejo a zero.

4. A maneira de eliminar o desejo é o Nobre Caminho Óctuplo da redução do ego. A vida é dividida em oito aspectos, e em cada um deles o discípulo experimenta uma libertação, simplificação e purificação graduais. É um caminho que dever durar toda a vida; tudo o mais é posto a serviço da redução do desejo para se alcançar o Nirvana, a eliminação do sofrimento.

Eu não sou budista. Não consigo evitar encarar o Nirvana como uma eutanásia espiritual, matando o paciente (o ego, eu eu, o si mesmo) para curar a doença (egoísmo, egotismo). O budismo elimina o “eu” que odeia e faz sofrer, sim; mas esse é também o “eu” que ama. A compaixão (karuna) é uma das maiores virtudes budistas, mas não o amor (agape). Buda parece simplesmente não ter consciência da possibilidade de existência do amor fraternal, do desejo fraternal, da paixão fraternal, do ego fraternal.

Apesar de tudo, não posso deixar de respeitar a paixão pessoal de Buda de decifrar seu enigma, e da mesma forma admirar seu método – que implica nada mais, nada menos que a transformação da natureza humana. Ninguém mais além do próprio Jesus propôs um método tão radical. E Jesus também encarou de frente o real problema do sofrimento e propôs uma solução radicalmente diferente.

KREEFT, Peter. Buscar sentido no sofrimento. Tradução de Alexandre Patriarca. São Paulo: Edições Loyola, 1995, p. 13-4.

domingo, 23 de outubro de 2016

OBJETIVIDADES



O objeto da ética 

é a justiça enquanto prática moral.

O objeto da estética 

é o belo como pedagogia dos sentidos.

O objeto da ciência 

é a verdade possível de apreensão.

O objeto da filosofia 

é a reflexão 

sobre o conhecimento do belo, 

do justo 

e do verdadeiro, 

com base em princípios metafísicos 

(declarados ou não como tais).

O relativo não existe sem o absoluto 

e o natural não se justifica 

sem o sobrenatural, 

o irracional 

é somente o mistério 

que ainda não encontrou a pergunta certa, 

e a resposta 

nem sempre será do agrado do investigador.

O justo 

não é uma conveniência política.

O belo 

não é uma mera apreensão subjetiva.

A verdade 

não é propriedade da ciência, 

mas esta é refém daquela.

Werner Nabiça Coêlho - 02/09/2016