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domingo, 1 de julho de 2018

O processo criativo no devir



Na teoria quântica existe o conceito de "colapso do vetor de estado", que é aquele momento em que o aspecto indeterminado da partícula quântica (quantum) consolida-se em um estado determinado, que faz surgir o evento definidor da forma de manifestação do objeto físico.

Wolfgang Smith define que esse é o momento em que a matéria informe do objeto físico sofre a ligação, dentro de uma relação de causalidade vertical com a sua forma substancial determinante e eterna, no sentido aristotélico-platônico, quando então se torna uma criatura composta de matéria e forma.

O momento de "colapso do vetor de estado", portanto, é uma prova científica de um ato de criação, ou seja, a criação é um processo permanente, é um processo de permanente concretização do devir.
Sem o devir, sem a liberdade, sem a livre escolha entre diversos modos potenciais, não haveria nem a virtude e nem o pecado, nem acertos e nem erros, seríamos como  aquelas máquinas tão celebradas e desejadas pelo modelo proposto na física newtoniana, e pela filosofia moderna em geral, ambas marcadamente determinísticas.

Não fosse o permanente processo de transição entre potência e ato, que criam possibilidades oriundas de jogo de probabilidades inerentes à realidade, seríamos meros agentes aplicadores de éticas teóricas, que não se comunicam com razões práticas, e, seríamos pessoas feitas de carne e osso, que nem acreditam na realidade objetiva do mundo, nem na concretude de seus ossos.
A realidade do devir, se for considerada dentro da realidade do Absoluto que é Deus, necessariamente, já está contida em todas as suas possibilidades em  potência.
Todavia, o devir é um processo de realização temporal, que se opera mediante um afunilamento das possibilidades e potencialidades, em formas concretas definitivas, em que o devir se torna um presente, que instaura fatos históricos únicos e definitivos, cuja graduação dependerá de um infinito número de fatores.
Neste sentido, o devir é algo que sempre foi discutido na filosofia, e esta já possuía a base dos conceitos do indeterminismo quântico ao discutir sobre o livre-arbítrio.

A criação está em permanente processo, uma vez que é permanente e contínua criação, no âmbito da criação já criada, pois a criação é dinâmica e co-participativa, em um certo sentido, quando se considera sua realização temporal mediante a experiência de cada vida individual.

domingo, 6 de maio de 2018

A RELAÇÃO DE CAUSALIDADE IMPLICA EM DETERMINISMO?


Se recorrermos à uma base filosófica cartesiana, que trabalha a causalidade dentro de um molde matemático-quantitativo, e por isso determinista, podemos, assim, adotar a postura kantiana que considera a necessidade da adoção do ceticismo moderado de Hume e a ética contratual de Rousseou, então, dentro destes moldes é plausível afirmar a necessidade do determinismo, até porque está bem dento do cosmos da mecânica clássica de Newton, que por sua vez é a premissa científica para a ética contemporânea a partir de Kant.

Todavia, quando analisamos relações de causalidade dentro da dimensão que considera o universo de eventos qualitativos que são sonegados pela teoria cartesiana, tal como os fatores afetivos, emocionais, culturais, históricos inerentes à vida do acontecer humano, as relações de causalidade tornam-se completamente diferentes daquelas que consideram somente dados mensuráveis quantitativamente, pois passa-se a ser considerada não só a extensão matemática de um fenômeno mas também a intensidade do fenômeno, que por sua vez poderá se manifestar em graus diferenciados, mesmo em circunstâncias equivalentes.

Neste sentido, quando são considerados dados desta capilaridade tanto quantitativa quanto qualitativa, necessariamente, o mundo de possibilidades e probabilidades casuísticas se tornará quase infinito.

É neste mundo concreto em que coisas sem fim podem ocorrer, do ponto de vista da vida humana, há um grau razoável de previsibilidade permeada de possibilidades imprevisíveis que implicam na constante possibilidade de existência do exercício da vontade de escolha entre tais possibilidades, que denominamos de livre arbítrio, pois este só pode existir como exercício de um liberdade de escolha entre possibilidades cujos resultados são previsíveis, mais diferenciáveis.


Portanto, quando se trata do tema do determinismo, devemos observar que a densidade de informações e variáveis existentes, em cada acontecimento e em cada decisão, é tão imensurável que a única possibilidade de determinismo seria sob a regência de um poder capaz de conhecer imediatamente todas as possibilidades de ação e ser capaz de prever todas as variáveis envolvidas, logo, neste sentido, Deus sempre terá poder de previsão, todavia, no que diz respeito ao momento volitivo de escolher uma d'entre as possibilidades em cada caso singular, este momento caberá a cada pessoa singular em sua condição de partícipe da criação, todavia, o conjunto de decisões ainda poderá ser objeto de ponderação estatística, mas essa média será somente probabilística, não será determinística no sentido completo da palavra.

sábado, 5 de novembro de 2016

HEINLEIN'S THE MAN: A FALÁCIA CARTESIANA


O conto que serve de fonte a esta postagem se denomina "Pelos cordões de suas botas", trata-se de uma narrativa sobre viagens no tempo e seus paradoxos, que remetem o personagem principal para algumas reflexões sobre o ego e o método científico, pois o herói é um estudante irresponsável, que está no prazo final de entrega da tese de pós-graduação:



[...] Ia ficar ali e, certamente, estava decidido nesse ponto: ia terminar a tese. Precisava comer; tinha que obter o diploma para conseguir um emprego decente. Onde era mesmo que estava?

Vinte minutos mais tarde, chegou à conclusão de que a tese teria de ser reescrita do princípio ao fim. Seu tema original, a aplicação do método empírico aos problemas da metafísica especulativa e sua expressão em fórmulas rígidas, ainda era válido, decidiu, mas havia acumulado uma enorme quantidade de dados novos e ainda não digeridos a serem incorporados. Ao reler o manuscrito, ficou surpreso ao constatar o quanto era dogmático. Caíra inúmeras vezes na falácia cartesiana de confundir o raciocínio claro com o raciocínio correto.

Tentou escrever uma versão resumida da tese mas descobriu que havia dois problemas com os quais tinha que lidar e que decididamente não estavam claros em sua mente: o problema do ego e o problema do livre-arbítrio.[...]

Uma resposta absurdamente óbvia à primeira pergunta lhe ocorreu imediatamente. O ego era ele. Cada um é cada um, uma declaração não provada e improvável, diretamente experimentada. [...]

Começou a procurar um meio de se expressar: "O ego é o ponto de consciência, o último termo numa série contínua de expansão na linha de duração da memória." Parecia uma declaração global mas não tinha certeza; teria de tentar formular aquilo matematicamente antes de poder confiar na coisa. A linguagem verbal continha tantas armadilhas esquisitas.

HEINLEIN, Robert. A. "A ameaça da Terra". Tradução de Ester Delamare Tate. Livraria Francisco Alves Editora S.A.: Rio de Janeiro, 1977, p. 77-8