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domingo, 23 de julho de 2017

O MITO, O SÍMBOLO E O SALTO NO SER

Maat

Eric Voegelin define que o "homem é consubstancial com a realidade que experiencia", e que o "centro da consciência" é a experiência da participação compreendida como a realidade do contato com a realidade exterior ao homem (p. 114), realidade esta que se manifesta no "horizonte da nossa existência no mundo" que inclui a multiplicidade das possibilidades de participação na realidade natural, cultural, artística, religiosa, científica, etc, e, assim, "a  experiência é o que está entre o sujeito e o objeto da participação" (idem).

A experiência, portanto, é a comunicação que se dá no contato entre sujeito e objeto, por serem consubstanciais podem trocar informações, cujo idioma é a própria experiência transfigurada em símbolos.

A estrutura da realidade é algo que está em constante tradução experiencial, é um processo de criação permanente de símbolos, cujo início e fim não são visíveis no horizonte da experiência.

Voegelin adverte que quando alguém "constrói um sistema, a falsificação da realidade é [...] inevitável" (p. 119), uma vez que a participação engendra a experiência e esta é percebida por meio de símbolos, que são conjuntos de idéias densamente compactadas, portanto, inabarcáveis por simplificações sistematizadoras, uma vez que os princípios, que permitem a construção de sistemas, são idéias parciais e derivadas que nascem dos próprios símbolos.

Os símbolos são fenômenos de linguagem engendrados pelo processo da experiência de participação, e são gerados pelo encontro entre o humano e o divino. A linguagem faz parte desse caráter de metaxo, ou Entremeio, da consciência. Os símbolos de linguagem que expressam uma experiência não são convenções sociais ou culturais, são testemunhos objetivos do processo de participação (p.116).

A abertura à realidade frutifica na experiência criadora de símbolos que comunicam as descobertas oriunda do processo de participação na criação.

Voegelin define que a ordem "é a estrutura da realidade como experenciada pelo homem, bem como a sintonia entre o homem e uma ordem não fabricada por ele ,isto é, a ordem cósmica" (p. 117), e, a ordem, quando descoberta, principia pela representação mitológica.

O mito é o símbolo da experiência que engendra toda e qualquer civilização, que surge da experiência de participação mediante a percepção de leis constantes na natureza, cuja divindade se materializa na realidade cósmica, fenômeno que implica em criação de símbolos panteístas, que em linguagem contemporânea descrevemos como a "mãe natureza".

A criação dos mitos cósmicos configuras-se no "salto no ser", cuja imanência determina que a existência humana está presa ao eterno retorno dos fenômenos deste mundo com a regularidade das estações do ano.

O próximo salto no ser descrito por Voegelin é a constituição do símbolo da história, cuja criação é relatada no Antigo Testamento.

A civilização histórica como a conhecemos é o resultado deste salto no ser transcendente que estabelece uma aliança entre o Logos e a humanidade, assim, estabelece-se o símbolo da história, e, ao ser humano é conferido um destino para além da história, é o símbolo do "destino" e da "liberdade", para além deste mundo, tal percepção é a origem da moral e da ética como a compreendemos, pois o juízo final é o julgamento da história da alma transcendente, é um testemunho perante a eternidade.

Eric Voegelin, Reflexões Autobiográficas. É Realizações: São Paulo, 2007.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

EXPERIÊNCIA É A REALIDADE DE AMBAS AS PRESENÇAS, HUMANA E DIVINA





Eric Voegelin define que a "experiência é o que está entre o sujeito e o objeto da participação" que remete ao conceito platônico de "metaxo", o Entremeio, que está entre o pólo do homem e o da realidade, pois a  "experiência não está no sujeito nem no mundo dos objetos".


Voegelin esclarece que a experiência resulta do fluxo entre o divino e o humano presente no Entremeio, e, assim, a "experiência é a realidade de ambas as presenças, humana e divina, e só depois de acontecer é que ela pode ser atribuída seja à consciência do homem, seja ao contexto da divindade com o nome de revelação".

Os erros filosóficos são definidos por Voegelin como decorrentes de suposições falsas na quais os pólos da experiência são considerados "entidades autônomas, encerradas em si mesmas, que estabelecem um misterioso contato entre si mesmas, que estabelecem um misterioso contato entre si na ocasião de uma experiência" (p. 115), este fenômeno intelectual é denominado de "hipóstase", neste passo, pode-se definir que "a coisa em si" é uma hipóstase, que julga a mente e o cosmos entidades autônomas que se comunicação em razão de um misteriosa capacidade da mente de ordenar dados aleatórios do meio circundante.


Voegelin  conclui que o "problema da realidade experienciada passa a ser o problema de um fluxo de realidade participativa, em que a realidade passa a iluminar-se a si mesma na consciência humana".

A participação experiencial na realidade, com a compreensão de suas manifestações simultâneas na natureza e na sobrenatureza, é um dos métodos possíveis para a superação da bifurcação hipostática da modernidade, resultante do ceticismo cartesiano que postula a divisão entre mente e realidade, na qual o pólo do sujeito é a "hipóstase" na qual o ego que pensa é considerado autônomo.

Referência:

Eric Voegelin, Reflexões Autobiográficas, pp. 114-5