sexta-feira, 16 de março de 2018

SOBRE UTILITARISMO E GENOCÍDIOS

 (FOTO: GETTY IMAGES)

Outro dia escrevi um comentário sobre um artigo que fazia previsões sobre o nascimento da classe das "pessoas inúteis", cujo teor foi que "o problema é que o utilitarismo liberal/marxista tende a se fundir com o seletivismo eugênico darwinista, combinação que frutifica em genocídio", daí alguém se abismou e pediu uma tradução.

Por isso, passo à tradução do comentário:

O problema do nascimento de uma "classe de pessoas inúteis" resultar em genocídio, como consequência do utilitarismo vigente em nossa cultura, pode ser respondido quando lembramos que a filosofia moderna adota o materialismo como critério para apuração da veracidade de uma hipótese científica.

A proposição do critério materialista de verificação implica em que não mais se pode considerar como válida uma pesquisa cujos dados sejam qualitativos, o objeto de estudo já não possui uma essência (substância) com relações verticais na realidade, pois quando se estuda a existência das estruturas essenciais da realidade se está perquirindo a respeito da existência de algum nível de razão criadora da própria coisa pesquisada.

Pois bem, o que nos resta quando somente dados quantitativos são passíveis de serem analisados? A resposta está na supressão das teorias que apelem para o bem metafísico, ou sumo bem, e só nos resta a adoção de uma noção de bem viver nesta Terra no aqui e agora.

A perspectiva materialista, no sentido quantitativo, e imediatista, como se esta vida fosse restrita ao período mediado entre nascimento e morte, é o caminho para a justificação da felicidade com fundamento no prazer, daí o hedonismo, a filosofia que justifica a finalidade última do homem na busca do prazer e do bem estar de caráter corpóreo.

A filosofia moderna, portanto, é produtora de uma ética fundada no prazer, e nesta perspectiva é que surge do ponto de vista prático e metodológico o utilitarismo oriundo das escolas liberais inglesas, iniciadas por Jeremy Betham e John Stuart Mill, que, por sua vez, são, originariamente, revolucionárias e anticlericais, uma vez que negam as instituições tradicionais e religiosas que renegam a postura hedonista.

Ocorre que o liberalismo acabou por ser o fermento intelectual de onde se desenvolveu a escola de pensamento socialista, que resultou em Marx, e, também, foi do pensamento liberal que surgiu Thomas Malthus, cuja teoria exerceu forte influencia na criação do darwinismo, uma vez que sua tese tratava da sobrevivência dos mais aptos.

Todas estas teorias (liberalismo, darwinismo, socialismo) são desenvolvimento da teoria utilitarista em algum nível, uma vez que tudo que é considerado inútil para o progresso (econômico, social ou evolutivo) é considerado descartável, justamente essa percepção é o fundamento para todas as teorias políticas que fomentaram os genocídios que aconteceram durante o século XX, em especial o darwinismo social nazista e o comunismo marxista soviético / chinês / cambojano / cubano / coreano do norte / venezuelano / etc.

Werner Nabiça Coêlho

2 comentários:

  1. Confesso que não tinha feito essa relação e é curioso ver como os conceitos e fundamentos dão subsídio para a analogia entre "pessoas inúteis", o utilitarismo liberal/marxista, o seletivismo eugênico darwinista, reforçando o genocídio

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    1. Fale Alex! Se fores atrás da bibliografia é possível rastrear o racismo moderno e a eugenia de moldes nazistas até as teorias darwnistas, e sabias que a primeira teoria a defender o genocídio foi o marxismo!

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