Metafísica é o nome que se dá ao estudo dos princípios que regem a realidade, que são passíveis de descrição verbal e escrita, pesquisa realizada segundo o método dialético, cujo resultado é a depuração de alguns axiomas de ordem lógica e ontológica.
Mas, por que somos levados neste rumo?
Qual o fator que nos espanta ao ponto de acender a chama de tal curiosidade sobre os fundamentos últimos da realidade?
Meu palpite é que tudo começa quando, já em tenra idade, somos confrontados com a realidade da morte.
Afinal, morrer é um verbo metafísico.
Quando realidades humanas profundamente relacionadas com princípios de ordem metafísica (vida, morte, personalidade, etc.) são objetos de apreciação legislativa e judicial, existem duas hipóteses básicas para orientar a autoridade encarregada do assunto:
a) aceita-se a sacralidade da vida humana, a realidade da alma imortal e presume-se que cada decisão será objeto de julgamento na eternidade; ou
b) adota-se o reducionismo materialista que nos iguala aos demais reinos biológicos, como meras máquinas regidas por conexões sinápticas eletromagnéticas, que devem submeter-se ao único poder julgado existente conforme o método positivista: o poder da violência do próximo travestida de instituições dotadas de personalidade fictícia.
"A queda de Lúcifer", ilustração de Gustave Doré para o livro O Paraíso Perdido de John Milton. |
O primeiro desafio metafísico é desvendar o enigma da relação entre a vida e a morte, que, em suma, é apostar na eternidade que nos remete à divindade que nos habita e da qual participamos como súditos fiéis, ou rebelar-se contra a realidade que nos condena à pena capital, e, assim, atiçando-se o que de pior há no espírito humano, seja na forma de ceticismo niilista que de tudo desespera, ou a sede de poder absoluto que pretende vencer custe o que custar.
Werner Nabiça Coêlho