A propósito da influência da
metodologia neokantiana, que torna em dogma o processo de especialização
da pesquisa científica, cito uma passagem da obra Na trilha de Adão: memórias de um filósofo da aventura, de Thor Heyerdhal,
que na minha opinião foi um dos maiores cientistas a aplicar métodos
empíricos na pesquisa arqueológica do século XX, vejamos o que o mesmo
diz a respeito do conhecimento científico especializado:
"Era consenso entre todos nós que, para acompanhar o progresso da ciência, o homem deveria se especializar cada vez mais. Não era mais possível ser superficial, mas sim estreitar os horizontes e ir ao fundo das questões, mas ainda nos bancos da universidade comecei a perceber que algo estava errado. Especialistas estão a caminho de saber cada vez mais sobre cada vez menos, e o preço a pagar por isso é o da ignorância, que campeia e invade as fronteiras da área em que detém o conhecimento. Não poderia ser diferente, porque foram os próprios especialistas que nos levaram a concluir que é incrivelmente grande a quantidade de coisas sobre as quais nada sabemos.""Também é consenso que a função dos especialistas é se aprofundar nas questões, mas para isso ele não deveriam entocar-se em covas e desaparecer, ensimesmados em seus cubículos de sabedoria. A universidade também precisa de instituições que não estejam submersas tão profundamente, mas se localizem na superfície e possuam uma visão privilegiada do que está ocorrendo, a fim de coordenar os resultados das pesquisas que os especialistas enviam lá de baixo. É necessário alguém capaz de juntar os pedaços" (p. 90-1).
Fonte:
Thor Heyerdahl, Na trilha de Adão: memórias de um folósofo da aventura, São Paulo, Companhia das Letras, 2000.