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domingo, 5 de fevereiro de 2017

É BOM CITAR: DISTINÇÃO ENTRE COETANEIDADE E CONTEMPORANEIDADE





[...] É isto a geração: uma variedade humana no sentido rigoroso que ao conceito de "variedade" dão os naturalistas. Os membros dela vêem ao mundo dotados de certos caracteres típicos, disposições, preferências que lhes emprestam uma fisionomia comum, diferenciando-os da geração anterior.

Mas esta idéia inocula súbita energia e dramatismo ao fato tão elementar como inexplorado de que em todo presente coexistem três gerações: os jovens, os homens maduros, os velhos. 

Porque isto significa que tôda atualidade histórica, todo "hoje" envolve em rigor três tempos diversos, três "hoje" diferentes, ou, em outras palavras, que o presente é rico de três grandes dimensões vitais, as quais convivem alojadas nêle, queiram ou não, travadas umas com as outras e, por fôrça, como são diferentes, em essencial hostilidade. 

"Hoje" é para para uns vinte anos, pra outros quarenta, para outros sessenta; e isso, que sendo três modos de vida tão diversos, tenham que ser o mesmo "hoje", declara sobradamente o dinâmico dramatismo, o conflito e a colisão que constitui o fundo da matéria histórica, de tôda convivência atual. [...] 

Todos somos contemporâneos, vivemos no mesmo tempo e atmosfera, mas contribuímos para formá-los em tempo diferente.



Só se coincide com os coetâneos. Os contemporâneos não são coetâneos; urge distinguir em história
entre coetaneidade e contemporaneidade.

Alojados num mesmo tempo externo e cronológico convivem três tempos vitais diversos.

É isto o que costumo chamar o anacronismo essencial da história.

Graças a êsse desequilíbrio interior se move, muda, roda, flui.


Se todos os contemporâneos fôssemos coetâneos, a história se deteria anquilosada, putrefacta num gesto definitivo sem possibilidade de inovação fundamental alguma. (p. 26-7)


ORTEGA Y GASSET, José. Que é filosofia? : obras inéditas . 1ed.. Rio de Janeiro: Ed. Livro Ibero-Americano Ltda, 1961.