sábado, 15 de abril de 2023

UM COMENTÁRIO SOBRE O MITO DA CAVERNA, DA REPÚBLICA DE PLATÃO




Um amigo me perguntou sobre o mito da caverna, daí bateu a inspiração para uma resposta, que após uns ajustes compartilho abaixo.

O mito da caverna está inserido no diálogo "A República", sendo que esta obra pode ser lida segundo dois vieses, o mais tradicionalmente adotado é uma perspectiva que leva a sério as especulações, apresentadas no diálogo de Sócrates com seus interlocutores, como se fosse um projeto de poder protossocialista de criação de um governo totalitário, Bertrand Russel é um filósofo que aponta esta obra como a base filosófica das formas de governo comunista, fascista e nazista.

Por outro lado, há uma outra perspectiva na qual é valorizado o fato de que os textos platônicos utilizam-se constantemente do recurso literário da "ironia socrática", e que segundo este padrão a República é um longo discurso que analisa especulativamente todas as consequências da criação de um governo "perfeito", até o limite do absurdo, isto é, trata-se de um diálogo que destaca todas as possibilidades que tornam a busca pela justiça perfeita até transformar a sociedade na tirania perfeita.

Já no que tange à criação de narrativas mitológicas, Platão cria parábolas explicativas de situações exemplares, para pontuar o que ele tenta explicar, num tempo em que a linguagem ainda não possuía muitos exemplos diretos daquilo que ele pretendia discursar, ou seja, ele utiliza de recursos literários em linguagem mito-poética para esclarecer algumas ideias criando exemplos imaginativos.

Quando se trata do mito da caverna, trata-se de uma parábola que exemplifica de forma simbólica a condição humana, tanto do ponto de vista filosófico, quanto político e antropológico, em sua condição de conformação com padrões de pensamentos e comportamentos que o deixam preso em um contexto de ignorância involuntária, e que por meio do exercício do pensamento e da investigação da realidade, o prisioneiro na caverna começa a perceber o que de fato há por trás das encenações à qual estava acostumado, e, assim, pode acessar a luz da verdade, que eventualmente poderá ofuscá-lo e causar-lhe o sofrimento de saber a verdade fática, ou mais além, a verdade sobre a alma humana cuja destino é contemplar a verdade, por mais sofrimento que esta prática possa causar.

Destaco dois trechos que extrai da República que achei muito interessantes, um é o mito de Giges que exemplifica a corrupção do poder, quando a liberdade de ação não encontra mais limites, e o outro discursa sobre o fato de que a pessoa perfeitamente justa será condenada como o mais vil criminoso.

domingo, 2 de abril de 2023

VELHAS MENTIRAS E SUA ATUAL REVELAÇÃO.





Hoje é um dia na qual o meu chapéu de alumínio está captando a articulação entre o evento pandêmico de 2019 e a moeda comum do BRICS em 2023, sendo que tudo começou a ser planejado desde 1958, conforme noticiado por Anatoliy Golitsyn, que descreve em sua obra "Meias verdades, velhas mentiras" (2018) como os soviéticos começaram a projetar este nosso mundo atual quando "a liderança soviética deu destaque especial à coexistência pacífica" (p. 170) ao mesmo tempo em que houve o "restabelecimento, após 1958, de um corpo central perceptível, análogo ao Comintern ou Cominform, para coordenar o movimento e o bloco comunista" (p. 377) por meio de uma série de reuniões dos primeiros secretários dos partidos comunistas e líderes dos governos dos blocos iniciadas em maio de 1958 (p. 379), sendo que dentro deste jogo de simulação e engano que sempre foi a marca do movimento comunista temos o fato de que a China e a URSS nunca estiveram em um real conflito, mas que tudo foi um engano, pois o "manifesto do Congresso dos Oitenta de Um Partidos sublinhou especificamente que um Ocidente esperançoso de assistir um cisma no bloco estaria fadado a decepcionar-se. Ao assiná-lo, os chineses endossaram a inclusão da coexistência pacífica entre as opções táticas da nova política de longo alcance" (p. 217), congresso ocorrido em novembro de 1960, após tais arranjos o governo soviética começou a alimentar um suposto contraste ideológico de revisionista e moderado em comparação com o stalinismo chinês a contar de 1961, fato este que alimentou o "interesse do Ocidente por rupturas no mundo comunista" (p. 198).


Colocado o cenário acima descrito, alimentou-se uma política internacional que culminou em uma política de fortes investimentos na China a contar de 1973, após o a morte de Mao, como se fosse uma forma de aprofundar a cisão dentro do bloco comunista, o que aparentemente funcionou quando houve a queda da URSS e, após isso, houve uma corrida para o Ocidente aproveitar-se da mão de obra barata chinesa como forma de estimular a "democracia" por meio do desenvolvimento econômico.


Enquanto isso a Rússia a contar de 1991 passou por uma nova versão de uma "Nova Política Econômica" (NEP), reestruturou seu parque industrial e desenvolveu sua vocação de fornecedor de matérias primas e energia, insumos que a China não possui em abundância, e, agora, passadas tantas décadas, temos uma superpotência industrial e uma superpotência mineral e agrícola, e ambas são superpotências militares e tecnológicas, que agora se unem para criar uma espécie de novo bloco econômico com direito a moeda única a ser adotada agora em agosto de 2023.


Mas, onde entra a pandemia de 2019 e a atual moeda única proposta pelo BRICS?


Neste ponto sou um mero autor de especulações opinativas, primeiro observo que a abreviatura "BRICS" carrega uma certa ironia por ser de pronúncia parecida com a palavra tijolo em inglês (brick), e a concepção dessa organização é essencialmente a projeção de "soft power" (poder suave) da China e da Rússia, e ambos, ao longo dos anos têm articulado relações cada vez mais íntimas com os países do continente africano, com os países da bacia do Oceano Pacífico, etc.


Também teço uma hipótese especulativa que agentes de influência da China/Rússia estão atuando na política das nações ocidentais, inclusive, assumindo seus governos, promovendo políticas totalmente contraditórias com a manutenção do poder nacional, com desindustrialização progressiva, destruição da capacidade produtiva da agricultura e da pecuária, desarticulação das cadeias de produção energética que possibilitam a autossuficiência necessária para sustentar a produção industrial e o bem estar da população.


Daí vem a catástrofe pandêmica, sobretudo uma tragédia na qual a capacidade de percepção racional da realidade foi ignorada, na qual a síndrome de pânico mundial foi mais letal que a própria doença, contexto que permitiu a adoção de métodos tirânicos e ditatoriais que revogaram todas as garantias individuais do dia para a noite, e que entre outras desgraças, acelerou a autodestruição das moedas circulantes no Ocidente, e no longo prazo destruiu as cadeias logísticas, sendo que em sincronia com esse contexto houve o início de uma guerra mundial informal entre o G7 e a Rússia.


Ora, qualquer guerra é uma forma excelente de causar grandes déficits orçamentários, a guerra também é um teste das capacidades de mobilização nacional ou de seu fracasso iminente, e, em meio à guerra são necessariamente definidos os polos em disputa, e, normalmente quem tem mais população, mais recursos e mais fábricas tem o maior potencial militar para a obtenção da vitória.


Agora, estamos diante de um contexto na qual os tijolos de uma nova ordem mundial estão sendo amontoados diante de nossos olhos, uma aliança entre potências imperiais cujo "soft power" em pouco tempo revelar-se-á um poder não tão leve.