Observações preliminares.
O 
Filósofo Mário Ferreira dos Santos sempre advertia no início de suas 
obras a respeito da importância do vocabulário, e, principalmente, de 
seu elemento etimológico, e, já nos idos dos anos 1960 ele alertava que 
utilizaria certas consoantes mudas, já em desuso, mas muito importantes 
para "apontar  étimos que facilitem a melhor compreensão da formação histórica do têrmo empregado",
 e, em razão desta técnica de exposição, escolhi realizar as 
transcrições do texto em seu formato gramatical original (com exceção 
das tremas). 
DISTINÇÃO, SUCESSÃO E SIMULTANEIDADE SEGUNDO MÁRIO FERREIRA DOS SANTOS
 
Fundamentalmente, nossos meios de conhecimento sensível (e no homem se 
fundam nos sentidos) captam os factos, simultânea e sucessivamente.
As coisas extensas, que são aquelas em que as suas partes distintas não 
coincidem  num mesmo ponto, mas que se dão umas "extras" às outras, são 
captadas visualmente como simultâneas, quando se trata das pequenas extensões, e não daquelas em que os olhos devem percorrer (portanto, sucessivamente) o que se extende.
O tacto capta a extensão "sucessivamente", salvo as pequenas extensões,
 sentidas simultâneamente. De olhos fechados, percorremos com os dedos a
 extensão da mesa, e a sensação é sucessiva. Simultaneidade e 
sucessividade são fundamentais da sensibilidade.
Não esqueçamos
 que simultâneo e sucessivo são extremos disjuntos perfeitos. Não há meio 
têrmo entre êles. Ou algo é simultâneo ou é sucessivo, ou ambos, porque o
 que sucede de certo modo se simultaneíza, pois, do contrário, não 
haveria fundamento para sucessão, porque o que se dá "extra" a outro no 
existir, implica a simultaneidade de certo modo; o que perdura, implica a
 simultaneidade de seu ser, que insiste e persiste após si mesmo. Não 
havendo meio têrmo entre tais extremos, não são êles apenas fundamentais
 da sensibilidade, mas fundamentais ontològicamente, pois não há outro 
modo de ser que não seja simultâneo ou sucessivo, ou participando de 
ambos. São êles fundamentais da nossa sensibilidade que presta 
simultaneidade e sucessão às coisas; são os entes que são ora 
sucessivos, ora simultâneos, ora ambos.
As coisas só se podem 
distinguir realmente de dois modos: o distinto é outro que outro, e como
 tal ou é outro que outro no mesmo, insistindo no mesmo, ou outro que 
outro, insistindo "extra" o outro, quer sucessiva, quer simultâneamente.
Mário Ferreira dos Santos, Erros na Filosofia da Natureza, Coleção Uma Nova Consciência, Editora Matese, São Paulo, 1967, p. 36.

 
 

