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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

OLAVO DE CARVALHO E O SIMBOLISMO GEOMÉTRICO


"Qualquer sistema simbólico é, assim, implicitamente multidimensional, e a geometria não teria como escapar disso, admitam-no ou não os geômetras modernos.

Ora, um ponto, se não tem extensão, tem, no entanto, dimensão, ao contrário do que se crê, pois ele deve estar em alguma direção, sob pena de não estar em parte alguma, isto é, de não existir.

Pois bem, em quantas direções está um ponto? Está em todas as direções ao mesmo tempo, pois qualquer linha que se imagine, em qualquer plano que esteja, terá sempre uma paralela que passe necessariamente por esse ponto.

O ponto é assim, a figura que, não possuindo extensão, está simultaneamente em todas as direções e possui, portanto, a totalidade das dimensões.

Nesse sentido é que o ponto representa o princípio lógico e ontológico de onde emergem as figuras, e não apenas um 'elemento' constitutivo destas; pois uma elemento, para contribuir à formação da figura, deveria somar-se ou articular-se a outros elementos da mesma espécie, com o que cairíamos no contra-senso já assinalado de a soma de elementos inextensos acabar produzindo extensão; ao passo que um princípio formativo contém necessariamente em si a chave de todos os fenômenos que produz, não precisando somar-se ao que quer que seja para produzi-los, e pertencendo mesmo a uma ordem de realidade distinta e superior àquela onde se dão esses fenômenos.

Possuindo, assim, todas as direções e dimensões, o ponto contém também a chave formativa de todas as figuras. Estas, portanto, não poderão formar-se por soma de pontos, mas, ao contrário, por supressão de direções e dimensões do ponto.

Uma reta será, assim, definida como uma única das muitas direções que atravessam um ponto; um plano, como duas; o espaço, como três. As várias direções e dimensões podem ser assim consideradas como pontos-de-vista segundo os quais o ponto pode ser enfocado; e as figuras geométricas, como combinações e articulações desses pontos-de-vista.

Se um ponto, considerado em si mesmo, tem todas as direções, considerado como um 'elemento' de uma reta passará a ter uma única direção, em função, precisamente, da limitação unidirecional que define essa reta.

As dimensões e figuras são, desse modo, e por assim dizer, 'subjetivas' em relação ao ponto, pois constituem apenas maneiras de encará-lo, enquanto o ponto é 'objetivo', pois, contendo em si todos os pontos-de-vista, não depende de nenhum deles para existir."

Olavo de Carvalho, Astrologia e Religião, Coleção Eixo, Nova Estella Editorial Ltda., 1986, p. 76-7.