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segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

HUGO DE SÃO VITOR: TIPOLOGIA DO ESTUDANTE


Hugo de São Vitor (1096 - 10.02.1141) estabelece uma tipologia do estudante, cujo critério de diferenciação está na virtude da vontade de querer o saber, mesmo que se enfrente dificuldades pessoais e sociais, e, assim, condena o ócio improdutivo e vicioso, abaixo uma passagem do prefácio que descreve tal tipologia:



"Há muitas pessoas que a própria natureza deixou tão desprovida de capacidades, que têm dificuldade para entender até as coisas fáceis, e destas pessoas parece-me haver dois tipos."

 

"Há alguns que, mesmo não ignorando os seus próprios limites, buscam o saber com tal afinco e insistem tão obstinadamente no estudo, que merecem obter, por obra da vontade, aquilo que não obteriam pela eficácia do estudo em si."

 
"Mas há outros os quais, sentindo que nunca poderiam compreender as coisas altíssimas, desprezam também as coisas mínimas e, como que repousando em seu próprio torpor, tanto mais perdem a luz da verdade nas coisas sumas, quanto mais fogem das coisas mínimas que poderiam aprender. Por isso, o salmista diz: "Não quiseram entender, para não ter que agir retamente". Não saber e não querer saber são de longe duas coisas bem diversas. Não saber é questão de incapacidade, mas detestar o saber é perversidade da vontade."

 
"Há um outro tipo de indivíduos, todavia, que a natureza dotou de engenho, oferecendo-lhes um acesso fácil para chegar à verdade. Nestes, todavia, mesmo havendo uma alta capacidade de engenho, nem em todos há a mesma virtude e a mesma vontade de educar a capacidade natural por meio de exercícios e de instrução. Com efeito, muitos destes, mergulhados mais do que o necessário nos afazere e nas preocupações desta vida ou dados aos vícios e aos prazeres do corpo, sepultam na terra o talento recebido por Deus e não almejam obter dele nem o fruto da sabedoria nem os juros das boas obras. Estes são realmente muito detestáveis."

 
"Em outras pessoas, ainda, a pobreza do patrimônio familiar e os recursos escassos dificultam a possibilidade de aprender. Achamos, todavia, que estes não podem ser minimamente desculpados, uma vez que vemos muitos os quais, mesmo sofrendo de forme, sede e nudez, alcançam o fruto do saber. Uma coisa é você não poder aprender, ou melhor, não poder com facilidade, outra coisa é poder e não querer aprender. Se é mais glorioso aprender a sabedoria somente por meio da virtude, sem dispor de possibilidade alguma, é certamente mais torpe possuir o engenho, abundar em riquezas, e entorpecer no ócio."

 
"Existem principalmente duas coisas por meio das quais uma pessoa adquire conhecimentos, ou seja, a leitura e a meditação. Destas, a leitura detém o primeiro lugar na instrução, e dela se ocupa este livro, dando as regras do ler."


[...]


(Hugo de São Vítor, Didascálicon - Da arte de ler, Petrópoles-RJ, Editora Vozes, 2001, p. 43-5)