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domingo, 12 de junho de 2016

FRAGMENTOS LITERÁRIOS: FILOSOFIA E CARÁTER







Ao acompanhar a narrativa sobre o primeiro mês da primeira guerra mundial, dei de cara com esta síntese perfeita do fracasso da filosofia moderna que vive da "ilusão desesperada da vontade que se julga absoluta":

"Os gregos acreditavam que o carácter era o destino. Cem anos de filosofia alemã contribuiram para formar esta decisão na qual a semente da autodestruição estava entranhada aguardando a sua hora. A voz era a de Schlieffen, mas a mão era a de Fichte que via o povo alemão escolhido pela Providência para ocupar o lugar supremo na história do Universo, de Hegel que os via conduzindo o mundo para um glorioso destino da Kultur compulsória, de Nietzsche, que lhes disse que os superhomens estavam acima dos domínios comuns, de Treitschke que estabeleceu o aumento do poder como o mais alto princípio moral do estado de todo o povo alemão que chamava ao seu chefe temporal de 'Todo-Alteza'. O que forjou o plano de Schlieffen não foi Clausewitz nem a Batalha de Cannes mas o egoísmo acumulado que amamentava o povo alemão e criava uma nação alimentada na 'ilusão desesperada da vontade que se julga absoluta'"
(Barbara W. Tuchman, Os canhões de agosto, Editorial Ibis, 1964, p. 35)

Barbara W. Tuchman, em outra obra sobre a Grande Guerra, descreve a ética dos alemães tão envenenada pela soberba promovida pela filosofia moderna e seu solipsismo:



"A fatal pretensão germânica de superioridade, de direito superior, inteligência superior levava Zimmermann diretamente a ela. À pessoa superior é permitido enganar os tolos; não é vergonhoso para ela, espera-se isso, é a natureza, é a lei. Um comandante de submarino observou certa vez a um capitão de um navio mercante inglês, cujo barco, onde não havia armas escondidas, os alemães acabavam de torpedear: 'Vocês, ingleses, serão sempre tolos, e nós, alemães, nunca seremos cavalheiros'".
(O Telegrama Zimmermann: como os Estados Unidos entraram na primeira guerra mundial, José Olympio Editores, 1992, p. 128)