Ao
acompanhar a narrativa sobre o primeiro mês da primeira guerra
mundial, dei de cara com esta síntese perfeita do fracasso da
filosofia moderna que vive da "ilusão desesperada da vontade
que se julga absoluta":
"Os
gregos acreditavam que o carácter era o destino. Cem anos de
filosofia alemã contribuiram para formar esta decisão na qual a
semente da autodestruição estava entranhada aguardando a sua hora.
A voz era a de Schlieffen, mas a mão era a de Fichte que via o povo
alemão escolhido pela Providência para ocupar o lugar supremo na
história do Universo, de Hegel que os via conduzindo o mundo para um
glorioso destino da Kultur compulsória, de Nietzsche, que lhes disse
que os superhomens estavam acima dos domínios comuns, de Treitschke
que estabeleceu o aumento do poder como o mais alto princípio moral
do estado de todo o povo alemão que chamava ao seu chefe temporal de
'Todo-Alteza'. O que forjou o plano de Schlieffen não foi Clausewitz
nem a Batalha de Cannes mas o egoísmo acumulado que amamentava o
povo alemão e criava uma nação alimentada na 'ilusão desesperada
da vontade que se julga absoluta'"
(Barbara
W. Tuchman, Os canhões de agosto, Editorial Ibis, 1964, p. 35)
Barbara
W. Tuchman, em outra obra sobre a Grande Guerra, descreve a ética
dos alemães tão envenenada pela soberba promovida pela filosofia
moderna e seu solipsismo:
"A
fatal pretensão germânica de superioridade, de direito superior,
inteligência superior levava Zimmermann diretamente a ela. À pessoa
superior é permitido enganar os tolos; não é vergonhoso para ela,
espera-se isso, é a natureza, é a lei. Um comandante de submarino
observou certa vez a um capitão de um navio mercante inglês, cujo
barco, onde não havia armas escondidas, os alemães acabavam de
torpedear: 'Vocês, ingleses, serão sempre tolos, e nós, alemães,
nunca seremos cavalheiros'".
(O
Telegrama Zimmermann: como os Estados Unidos entraram na primeira
guerra mundial, José Olympio Editores, 1992, p. 128)